Educativo Ciclo 03

Do outro lado: experimentações e trocas videográficas pelo celular

Quando recebi a proposta do BDMG Cultural para criar uma oficina que aconteceria apenas por mensagens via celular, pensei que poderiam surgir limitações e dificuldades em manter uma troca efetiva com os participantes. Porém, entendendo que a proposta era ampliar e facilitar o acesso à oficina para jovens que vivem nas periferias ao redor de Belo Horizonte – e que nem sempre têm acesso contínuo à internet –, aceitei o desafio e comecei elaborar um conteúdo que pudesse ser acessado facilmente via Whatsapp. Comecei pensando sobre a possibilidade de desvendar o que estava acontecendo nos quatro cantos da cidade, a partir de trocas de vídeos. Fazer um filme que contasse um pouco o que se passa do outro lado da cidade ou até mesmo do outro lado do muro de nossas casas me pareceu desafiador em tempos de distanciamento social, onde o encontro se faz quase impossível. Busquei então imaginar novas formas de estimular trocas sensíveis através da prática audiovisual.

Tivemos a participação de 10 jovens de diferentes regiões da cidade de Belo Horizonte, de Contagem e de outras cidades de Minas Gerais. Todos tinham muito gosto pelo cinema, o que acabou guiando os assuntos e temas que fui compartilhando durante os cinco dias de encontro à distância. Com algumas orientações mínimas para a criação audiovisual através do celular, fui propondo que eles explorarem cenas cotidianas e compartilhassem essas imagens para a criação de um filme coletivo no final da oficina. Partindo de pequenas propostas disparadoras para a captação das imagens, eles foram mostrando e criando seu jeito de olhar através da câmera. Um pouco por dia, dentro do tempo de cada um, foram chegando os vídeos propostos em cada encontro. Curiosamente algumas cenas se repetiram, mas sempre com algo que revelava um pouco sobre cada um e sobre o lugar onde cada um estava. Foram muitos os olhares pela janela, mas nenhum deles foi o mesmo. Foram muitos olhares para dentro de casa, mas nenhum deles igual ao outro. Aceitar a diversidade de olhares e acolher a forma como cada um percebe seu cotidiano foi o que manteve as trocas possíveis. Durante nossos encontros, cada um revelou um pouco de si, do seu dia, do que havia em volta. E assim construímos um olhar coletivo sobre o que estava do outro lado.

Durante a oficina não fiquei muito preocupada se os jovens estavam produzindo vídeos que respondiam às minhas orientações técnicas e estéticas. O mais importante para mim, naquele momento, era proporcionar a eles a experiência de fazer um filme, vê-los aceitando o desafio de criar um filme coletivamente, mesmo com poucos recursos e muitas distâncias. Desde o inicio, busquei organizar as propostas de trocas de vídeos de uma forma onde todos poderiam participar no seu ritmo e com sua carga de conhecimento em produção de audiovisual.

Ao final, com o filme coletivo pronto, acredito que consegui alcançar um pouco do que desejava com esta oficina. Com todas as trocas e compartilhamentos, busquei contribuir para que os jovens conhecessem outras formas de produção audiovisual, diferentes das grandes produções. Procurei incentivar a participação de todos e seu interesse em continuar estudando e buscando conhecer mais sobre audiovisual, e sobretudo sobre as produções brasileiras. Apresentei outros canais de acesso a filmes e informações sobre criação, para que eles pudessem, mesmo após a oficina, conhecer mais sobre a produção audiovisual. Espero ter contribuído para que o acesso ao conhecimento sobre o fazer cinema esteja um pouco menos distante deles. E convido você, que nos lê, a assistir ao filme no link abaixo:

Dayane Tropicaos

Artista visual e cineasta, é graduada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais, integrante e idealizadora do Cine Sem Churumelas (coletivo que realiza ações de fomento para produção audiovisual amadora e independente). Também trabalha como videomaker e educadora no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos – Projovem, onde desenvolve oficinas de produção de audiovisual direcionada aos jovens vinculados ao serviço.