Manuella Balbino /

Um nariz de Caju

Há mais ocorrido que ajudou a consolidar uma fama de artista no nome do Estevão, agora a história envolve um retrato. Essa história é contada pela autobiografia de Antônio Parreiras, e se passa durante a década de 1870 e o início de 1890 (a mesma época da recusa do prêmio).

Foi encomendado a Estêvão um retrato que seria destinado a um comendador, esta obra seria destinada a galeria dos irmãos beneméritos de uma das várias irmandades que existiam na época. O comendador era proprietário de um mercado e se fez ser retratado por um fotógrafo pois se recusou a posar como modelo para a obra que Estêvão pintaria. Após pronto o quadro foi exposto na Galeria Moncada, que se encontrava na Rua do Ouvidor, local famoso pela reunião de artistas ao final da tarde.

O quadro em si foi alvo de muitas gargalhadas e críticas humoradas, mas Estêvão nem de perto se mostrou irritado com isso. Um dos presentes no local diz que o Comendador tinha o nariz vermelho como um caju e Estêvão rebate dizendo que não está surpreso por isso, afinal de contas ele é um pintor de frutas. Ao fundo de todo esse encontro estava o comendador de braços cruzados, contemplando o quadro e ouvindo tudo que estava sendo dito naquele ambiente. Quando Estêvão vai em sua direção para lhe entregar o quadro, o comendador o recusa e diz que não ficaria com o retrato pois sua cara não é um tabuleiro de frutas.

Estêvão esperava ser pago pelo trabalho pois já havia prometido a seus colegas que com aquele dinheiro ele bancaria para todos um jantar no Renaissance. Então ele pede paciência aos seus colegas e volta para o ateliê com o objetivo de mudar a pintura. No dia seguinte, Estêvão aparece novamente com o quadro que foi alvo de mais risadas, ele tinha acrescentado a testa do comendador dois chifres e um rabo. Em um pedaço de papelão pregado a moldura se podia ler “retrato do Diabo”. Após isso o artista é chamado a polícia, mas mostra a carta de encomenda de obra feita pelo comendador, alegando que não teria sido pago.

O quadro continuou sendo exposto e Estêvão continuou pedindo paciência a seus colegas, pois o banquete havia de vir. Após dois dias o retrato desaparece e reaparece depois de vinte e quatro horas, agora o comendador se encontrava atrás das grades e o cartaz foi substituído pelo dizer “O diabo preso por não pagar a Estêvão Silva”. O comendador finalmente decide pagar o artista, que realiza o esperado banquete no Hotel do Globo, mas após pegar sua obra o comendador a despedaça.

Estêvão furioso diz que o vai processar e alega que o comprador sacrificou a arte nacional pois fez desaparecer o melhor caju que já havia pintado! Essa é uma das histórias que envolve esse grande artista que foi Estevão Silva, e abaixo se encontra imagens de como está o processo de ilustração para essa história.

Acima temos uma caricatura de como seria esse comendador com seu grande nariz de Caju, mais para frente a ideia é fazer colagens digitais para mostrar seus chifres e ele preso. A ilustração acima mostra Estevão brindando com seus amigos o pagamento que recebeu pela obra e o tão esperado banquete que ele havia prometido a seus amigos. As ilustrações acima contaram com a ajuda de minha amiga e ilustradora Monique Saboia, e ainda estão no processo final de edição. Os materiais usados foram nanquim marrom e preta e papel canson A3, que foi escaneado para obtenção de maiores detalhes.