Pedro Neves /

memoria n 2

carta ao seu Francisco

 

entre livros de Celso Brandão i gautherot

eu vejo que brasil é nosso;
em um surto

que eu chamo de viver

fui conhecer  o seu francisco com Vitória:
entre o abismo de 6 horas que separa nosso
norte do horizonte moderno
não pude deixar de reparar que a nossa paisagem
é corroída pela presença morbida de eucaliptos.
Rumo ao norte;
com os pés descalços dentro  do ônibus
e vitória ao meu lado em sono profundo,
ali eu vejo o mundo;
a criança no banco da frente sorria e brincava,
pela janela , ruas tão antigas de uma bahia
que se radicou mineira;
as matas eram diversas, vez ou outra um pequeno pasto
-ou uma célula morta-viva de eucalipto-

mas para não me estender vou pular ao rio;
que se mostrava calmo,
me contou segredos sobre a relação homemxnatureza;

de tudo que fica, alem do que palavras podem contar
e imagens podem narrar;
avivo a memoria de barraca de travessas, paus, oleo de mamona, oleo de pequi e peneiras
e todas essas coisas das artes naturalmente brasileiras;

Ao Rio;
Francisco,
artéria latina que guarda em aguas
quase mansas segredos de uma america
que só vive onde o homem não aprendeu ler:
teu povo é feito a tua imagem;
e eu
que sou filho de água morena
Mearim
metido em coisa moderna de cidade sinto de longe teu abraço
se enrolando nos pes e subindo a cabeça.

Feira III, acrílica sobre tela, 150 x 150 cm, 2021
Sem tíltulo, 60 x 40 cm, óleo sobre madeira, 2021