Yanaki Herrera /

Wawa Wasi

Para mim, ser um corpo em deslocamento é estar em uma insistente procura pelo pertencimento e vinculação para transpor a sensação de ser lida como um ser estranho. E é nesse vaivém que eu me torno o meu próprio lar. Ao mesmo tempo, o meu próprio corpo se torna lar da vida que gero. Conforme a gestação vai avançando o corpo se transforma de tal forma que pode sustentar e nutrir um novo ser humano. Quando parimos, esse mesmo corpo que se preparou para gestar agora se prepara para suportar e amparar. Na pandemia o único lugar que nos sustenta e abriga é a própria casa. É como se eu fosse a casa dentro de casa, sou quem alimenta, carrega, acolhe, brinca e ainda cumpre as demandas pessoais.

 

 

 

 

 

Wawa Wasi (quechua), que em português significa casa de criança, é a interpretação e representação de um corpo sendo desafiado pelas distintas funções a serem desenvolvidas ao longo do dia, um corpo que testa seus limites e vive na ambivalência ora mãe, ora lar.

Experimentando posições sobre ser um corpo-casa.

 

…ESSA FORÇA SOBRENATURAL É DE FATO REAL OU É UMA IDEIA SOCIAL ESPALHADA PARA SUSTENTAR SOCIEDADES QUE EXPLORAM MULHERES E CRESCEM ÀS CUSTAS DE NÓS PARA NOS MANTER EM POSIÇÃO DE SUBALTERNIDADE?

 

 Socialmente, a maternidade é interpretada como algo natural e instintivo que dá a entender como se nós mulheres fôssemos dotadas e feitas para tal. Por outro lado, a paternidade se entende socialmente como algo que se constrói ao longo do tempo e portanto, livre de escolha. Esta lógica tem alimentado ao longo da história que os corpos maternos são amadoras incondicionais das nossas crias e que há uma força sobrenatural dentro de nós que faz com que nos desdobramos a todo custo em prol de prover para saciar as necessidades dos nossos filhos. Mas, essa força sobrenatural é de fato real ou é uma ideia social espalhada para sustentar sociedades que exploram mulheres e crescem às custas de nós para nos manter em posição de subalternidade?