Bônus: “AYA Huma e AYA Trapézio” – Vídeo arte Em Processo
Projeto “Memórias de um Corpo Estrangeiro Imigrante”
TRANSFORMISMO: TRANSFORMA-DOR
O projeto “Memórias de um Corpo Estrangeiro Imigrante” tem como objetivo narrar minhas experiências e reflexiones sobre meu processo de imigração no Brasil, a partir dos estigmas que surgem do julgamento de minhas características fenotípicas, culturais como estrangeira e também da relação da sociedade brasileira com as pessoas imigrantes.
A Ação “Transformismo: Transforma-dor” busca dar forma ao rosto da minha Pessoa Drag – como uma forma de denúncia – desde o mergulho na leitura social que é dada para mim no Brasil:
Aqui, sou chamada de “índia”
Termo que foi dado às pessoas nativas deste continente pelos portugueses e espanhóis a partir da invasão desde 1492. Com o qual se extermina a diversidade dos povos originários e se associa sua existência ao selvagem, inferior e pouco desenvolvido… Uma população cuja existência se associa a um imaginário congelado no passado: de pessoas que vivem nuas no meio do mato, isoladas, sem falar português e que até se considera que foram totalmente exterminadas. Apagando sua existência e resistência.
Já desde minha infância no Equador me ensinaram que chamar alguém de “índio” carrega características depreciativas: um estigma.
Então, no Brasil me debato com essa etiqueta que se me atribui.
Ao mesmo tempo que, me indigno que seja um tema do qual quase não se discute neste país.
No Equador sou lida como uma mestiça. Entendendo que nossa relação com a mestiçagem é diferente da do Brasil. Me considerar mestiça lá é aceitar que tenho raízes indígenas, porém que não seja parte de um povo nativo específico.
Inclusive quando tenho compartilhado com pessoas do Equador que no Brasil sou considerada “índia” e que isso tem me colocado em situações de vulnerabilização, marginalização e até violência… ninguém entende como isso chega acontecer e se horrorizam com o que eu tenho vivido.
Se o estereótipo de “índia” carrega preconceito, o ser “estrangeira” também.
Estes preconceitos ofendem e em ocasiões tem limitado os direitos que me deveriam ser garantidos como a todo ser humano. Gerando assim prejuízos, que vem de agressões de diferentes níveis tanto psicológicas como físicas. As quais são despercebidas ou não consideradas com essa natureza invasiva e/ou violenta.
Ao narrar este tipo de situações a outras pessoas imigrantes, estrangeiras ou indígenas, elas se identificam com o que narro. Evidenciando que não é um caso isolado, mas bem algo a ser visibilizado, questionado e que precisa ser mudado para o Bem Viver de nós neste país.
Por isso, para a busca da visualidade desta Pessoa Drag, decido marcar meus traços que são assinalados no meu cotidiano: O olho puxado, a nariz e o cabelo liso, muito mais desde que uso franja.
Evidenciando eles muito mais e sendo o ponto de partida para a construção de uma maquiagem que se relaciona com uma estética Drag.
Na busca de minha Pessoa Drag, antes da Lab Cultural, o uso predominante das cores fúcsia e vermelho no rosto é algo que se repete. Se converte num traço identitário dessa Pessoa que aparece em mim. Então, tomo aquele ponto de partida, colocando ele na minha nariz – que a sua vez o associo a nariz vermelha usada como máscara na Palhaçaria que é minha Profissão.
Nesta ação, agrego as cores laranja e preto. Obtidas nas culturas nativas deste território através do “urucum” e o “jenipapo”, plantas que também existem na Amazônia do Equador com o nome de “achiote” e “wituk” respectivamente.
Nos povos originários deste continente estes pigmentos são utilizados para ser vestidos nos tempos de festa, entre outros.
Existe uma lenda dos povos amazônicos do meu país que conta que estas plantas são “Irmãs”.
Na cosmovisão do povo Sarayaku no Equador, elas se consideram plantas ligadas à Alegria.
E precisam sempre estar juntas.
Por tudo isto, Escolho estas cores. Para assim,
“DENUNCIAR e TRANSFORMAR A DOR – COM ALEGRIA!”
Artista: Clara López Iglesias – Teatro del Camino
Instagram: @teatrodelcamino