MEMORIAL DO FIM-COMEÇO
2018 foi o ano em que descobri a música “Mama África”, de Chico César.
Foi um encantamento, lembrava de minha mãe, do abandono-aborto de meu pai na construção de minhas relações afetivas. Ao ouvir essa música envolvente, criou em mim um movimento de ressignificar de uma forma bonita essas mulheres memórias que me sustentou e mostrou o mundo. Essa música é um retrato do Brasil contemporâneo, em que mulheres negras, em sua rede afetiva de outras mulheres -parentes-negras, criam formas de se relacionar, de performar afeto-amor-suporte – essa é uma história, uma voz que ecoa em todos os cantos desse país.
Mulheres Memórias é um caminho em diálogo com as histórias contadas por Rosemeire (minha mãe), Rosineide (minha tia-avó) e Rosenalva (minha tia-avó, in memoriam), relatando a vida e o trabalho dessas três mulheres negras, pobres e periféricas, que teve em comum o trabalho doméstico.
registrar os relatos, utilizar elementos, como comidas, cheiros e visualidades.
Meu trabalho como performer-pesquisador foi de registrar os relatos, utilizar elementos, como comidas, cheiros e visualidades, que fazem parte da construção dessas memórias e incorporadas no ato performático. A obra tem como construção um percurso entre passado em confluência com o presente, em que eu-performer, EMIADÊ, homenageio todas as mulheres que atravessaram minha vivência e formação humana, desde as mulheres deste plano às Yabás.
Nesse rito de louvação, trago comigo muitos elementos significativos na construção do trabalho – a memória afetiva de comidas, objetos, cheiros e lembranças guardadas no fundo do baú, resgatando essas memórias em cena e criando um espaço de recepção de todas essas influências.