Ana Elisa Gonçalves /

A cor e o breu

Lidar com o vazio na pintura. A ação e a inércia tem que existir juntas. O impulso de querer controlar e conduzir etapas que se resolvem “sem ter resolução” revela como pensar demais pode ser constrangedor. E aí, no fim, o ato de “pensar demais” junto ao ato de “deixar acontecer” são perfeitos juntos.

Além de pensar o branco da tela, o vazio, nos últimos meses tenho pensando no corpo escuro durante a noite. Me fotografando. Nesse processo de pesquisa, esbarro com a história da fotografia, em seu funcionamento a partir da entrada de luz e em como isso reflete nos registros históricos de corpos como o meu.

Penso nos retratos analógicos e manuais que clareavam ao máximo os escuros da pele, no fundo do papel e da tela que começa pelo branco, tornando as cores escuras um desafio. Entendo então, que o ato de me fotografar a noite é uma maneira ficar invisível, e talvez, seja uma forma de materializar as invisibilidades que estão por ai, orquestrando o mundo.