ALUKÒ POSSUI PENAS VERMELHAS, QUE NUNCA LHE FALTE O VERMELHO!
No dia 24 de setembro de 2022, aconteceu a premiação de mestres e mestras da cultura popular de Belo Horizonte. Neste evento, mestre Evandro Passos (também premiado no dia) e eu, apresentamos uma performance criada por nós dois, tendo como referência um poema do escritor e artista plástico Marcial Ávila, de nome: “Isidoro, um negro de quilate”, que traz para a cena, a história de um homem negro escravizado, Isidoro Amorim da cidade de Diamantina. Isidoro foi escravizado e conseguiu adquirir sua carta de alforria. Tornou-se um dos maiores faiscadores de diamantes nas Minas Gerais. Tão logo a população de Diamantina, Ouro Preto, Mariana, Sabará e outras cidades históricas de Minas Gerais tomaram conhecimento dos inúmeros diamantes em mãos de Isidoro, os mesmos o procuraram na tentativa de comercializar sem conhecimento da intendência da época. Isidoro os comercializava não para enriquecer sozinho, mas sim para libertar outros negros e negras do cativeiro. Ao tomar conhecimento dos feitos de Isidoro, o intendente recém-chegado no Arraial do Tijuco, hoje Diamantina, ordenou que o mesmo fosse capturado e preso. Ao ser preso, Isidoro foi torturado por mais de duas semanas em uma prisão improvisada no centro do Arraial do Tijuco. Em um espaço onde embaixo estavam os funcionários da coroa, da intendência e acima a sala improvisada propositalmente para que aqueles que faziam contrabando com o Isidoro ouvissem os gemidos da tortura. Isidoro era torturado dia e noite, porém não delatou ninguém. Após sua morte passou a ser reverenciado nas Irmandades negras em cidades históricas de Minas Gerais.
Dentro de toda ansiedade e preparação para esta apresentação, como de costume, não fui sozinho. No início da performance, entro cantando um vissungo e tocando em um agogô, um barra-vento bem cadenciado, porém dessa vez, troquei meu agogô por uma enxada que além de simbolizar todo trabalho que faz relação com a história que contamos, me chamou a atenção, quando assisti em um igbejadé do artista Babilak Bah, também residente do Lab, o que ele fez/faz utilizando enxadas, visual e sonoramente. Fui sim, todo influenciado.
E também, em outro momento do Lab cultural, ocorreu um combinado em que nós, participantes, trocaríamos objetos. Nesta ocasião, fui sorteado pela artista diamantinense, Liz Monteiro conterrânea de Isidoro Amorim e Chica da Silva, que me enviou cartões postais, um do mercado dos tropeiros, outro da casa de Chica da Silva e outro da cachoeira da Sentinela. Além de um incenso, uma pedra da cachoeira e um raminho de Marcela. Quanto axé não??
Eu sou de Xangô e recebi uma pedra cheia de história de Diamantina que de fato, possui alguma ligação com essa pesquisa sobre Isidoro.
Sou um Ogan, um adepto do candomblé antes de qualquer outra coisa e essa junção de Isidoro com a enxada de Babilak e a pedra de Liz… Enxada de Ogun, pedra de Xangô, pode ser Exu pregando peça ou quem sabe, complementando essa peça, trazendo as infinitas possibilidades de fazer nada, ou tudo, ou quase tudo, ou…
Percebo que de diversas formas, esses encontros nos proporciona trocas, nos apresenta referências que influenciam em variadas camadas na trajetória da gente.