Oriki: Do amarelo ao passo dos pés
Saúdo a criança que fui e faço oferendas a sua memória. A criança carrega o além e os anteriores a mim. Cresci com minha mãe me vestindo de amarelo, procurando impulsionar minha luz. A trajetória precoce de formação no teatro, embranquecido, não permitia a fala de meu corpo falante. Vêm o rompimento. A história de Maria Felipa de Oliveira. O caminhar de meus próprios passos, ser a rua, o hiphop, os saraus de poesia e as brincadeiras de roda. Sou do corpo. Meu primeiro autorretrato foi uma poesia.
março de 2013
“Meus pés são o retrato,
de uma falta de chamego
do fim de um aconchego,
dos teus pés, dos teus dedos,
entrelaçados ao meus.
Meus pés são o retrato.
Tão negros, tão magros…
Se acinzentam, descaso.
Sem cessar, de canto a canto,
Todos dois a me levar.
Meus pés são o retrato,
porém, também são um recado:
de que não dá para parar,
de que todo mundo tem um par.
E de que, o aconchego, o afeto e o entrelaço
dá para reencontrar.”
caderno de Ana Elisa Gonçalves