ORIKIDEMIM
Kaô Kabecilê
Epa hei minhas ventanias
Os ventos que atravessam os ouvidos
Varre a visão, tempera os acontecimentos
de muitos ecos que me invadem a cabeça
As muitas lacunas que me preenche
Quando a ventania me inunda
Sou vários, silêncio eterno em barulho,
sou todo vazio nesse oco do mundo.
Sou também cuspe, suor,
perfume da lama, Lab,
lambidas que chama o fogo
Labaredas nas paredes da língua
Fogueira de palavras, sons, ruídos.
Sexo das águas, tesão da terra
Pênis de Exú, oxum, enxurradas de coisas
Cristo travestido de Oxalá, ferramentas de ogum
Loucura sagrada, a usura não me pertence
Sou desgarrado do lucro do ouro
Sou um touro sentado que bebe o caos
Numa contemplação sob o mar de Yemanjá
Kaô Kabecilê, Epa hei minhas ventanias
Confuso, as vezes certeiro, uma seta Incerta,
Fogo varrido pela ventania, um vendaval.
Não gosto de água morna, sou aguardente
que abre os sentidos, sou charuto na cachaça
Ebó na encruzilhada, vento e chama
que faz chamado em todas as direções.
Tenho vários anos nas costas
meu Egum me disse no pé do ouvido
Quando o pé girou na gira do terreiro
O corpo florido no jardim dos orixás
sementes do chão nas arvores do céu
A pele tem o desejo de muitas diásporas
a pica, pica os orifícios desabrocha em flor
Os espinhos também inspiram vontades
Sou capim, rosa negra, cactos e baobá
transbordo escuridões que são primaveras…
Babilak Bah