Larissa Barbosa /

Transmutações minerais

Oriki de mim

Minas Gerais é um território ameaçado pela terra que o suspende. 

Uma terra que é transmutada em ouro, e em ferro; que em seguida se transforma em monumento na Europa, ou em pequenas peças que suspendem prateleiras no ar. 

No final dos anos 90, conheci uma dessas peças de prateleiras, e foi quando entendi o ferro. Tava no feijão do meu avô. Prego no feijão deixa criança forte. O sabor veio antes da forma, e o som antes da cor. Ou às vezes foi tudo junto, porque em minha memória o ferro tinha um sabor acentuado de sol maior. 

Curiosamente, as cordas da viola do meu avô, lembravam o gosto do feijão de deixar criança forte. Mas quando eu olhava pra Mina de Ouro, onde ele trabalhava em Nova Lima, lembro que era uma imagem que tinha não só o gosto, mas cor, textura, som e forma de ferro. 

Os minerais sempre estiveram presentes em minha trajetória. Seja por vir de uma família de operários fabris e mineradores; seja por haver crescido em Contagem, onde muitos desses minerais são transmutados nas indústrias. 

O silêncio gutural, e a dureza no olhar dos meus, revelam em mim o ferro onde fui moldada. Dura e maleável, para resistir às intempéries do tempo. O ouro, retirado da mina onde trabalhava meu avô e levado para a Europa para virar monumento; eu não conheci no final dos anos 90. Entendi o ouro através de uma foto da minha mãe na janela. 

Minha imagem preferida no mundo. 

Coincidentemente, é onde eu começo. 

Essa imagem tem gosto de ouro.

Larissa Barbosa, julho de 2022.