13 de novembro de 2023

Ser rios inteiros-partidos-ao-meio

bruni emanuele

Casulo

Casulo-segredo II

Diários de transição

Maripousar

Do lugar de onde demovi as pedras

Revirei o leito

Revolvi partículas microscópicas

Hoje surge um peitoral corajoso:

Descobri, ao dar espaço,

Músculos, fibras, tônus, escudo

E uma dormência

Que prenuncia um despertar fecundo que espreita

Espreita tudo com os olhos du menine que fui

Curioso, espontâneo, brilhante

Não mais num poço de desconformidade

Mas despertando faminto de seu último casulo

Mariposa, mistério, asas, saliva, voo

Asas brilhantes, escuras, dois olhos

Nascidos no lugar de onde cortei e enterrei

As enormes marcas de pele e glândulas

Da humanidade-fêmea que expurgo de mim

Observo o mundo agora sob uma cortina

Leitosa e ondulante, brilhante e opaca

Fios tecidos por minha saliva de lagarta

Em mais um preparatório à metamorfose

Decidi por mim, busquei e tenho achado

A desistência prenhe de liberdade

De não mais trazer a marca mamífera

Fera, híbride, monstruose

Crustáceo-inserto-corpod’água

Que sou

Sendo identidade um rio, um processo

Sinto a ebulição do leito de meu(s) rio(s)

Rochas sedimentadas desprendem-se

Dos fundos, flutuam

Fragmentos de matéria cósmica

Em borbulhante e fria transfiguração

[A paisagem que eu mais imagino e recrio

A denomino corpo]

Quatro olhos, presas de caranguejo

Asas de mariposa, feitiço

Corpo-monumento em refeitura

Transicionar é renascer pra sempre

Matéria revolta em transmutação

A escrita foi meu primeiro levante

Meu primeiro grito, antes mesmo da palavra

Quando menine, paguei pelo contato íntimo

Quase metafísico, encantado, voraz

Que existe entre a palavra e eu

Bruja, encruza

Como que perseguide por uma inquisição

Meus feitiços poéticos uma arma a ser temida:

Com eles crio todos os dias

Mundos novos, férteis

Com um lápis sanguínea, sanguíneo

Tracejo sobre minha pele nua, exposta

Brechas, fronteiras, fissuras, riscos

Emergem sangue, lavas de vulcão

Saliva rubra, lágrimas carmim

Suor afropindorâmico, mares e rios vermelhos

Inteiros-partidos-ao-meio

Por entre as rachaduras de minhas placas tectônicas

Também ali brilha uma muntuêra

De líquidos escarlates incandescentes

Fluidos atlânticos, pindorâmicos

Memória e desejos líquidos, insumos

Pr’este corpo d’água e terra

Fogo e ar