3 de dezembro de 2023

Vai pra sua casa! E mais isso e aquilo que eu já sabia

LAB23

Princezinhadapaz

Andanças por SP – Caminhos que desconheci

De volta à São Paulo, atravessando 584km mais ou menos, umas 9h de viagem que eu já tô mais que acostumada, e na minha cabeça é um percurso que dura algumas piscadas e algumas lágrimas de nostalgia misturadas daquele sentimento de que nada será igual.

Chegando ao final da nossa imersão nas comunidades PREFERÍVEIS (parafraseando Nêgo Bisbo), sinto que preciso desse relato, para entender e digerir, um pouquinho desse frenesi elétrico que toma totalmente meu corpo a cada novo caminho mental. O olho que treme é pra mim o mais puro sinal de quem tenta olhar pro futuro; dói, fica com a gente 1, 2, 3 dias, após as visões fico muito abalada, me lanço à minha experiência em situações, lugares, relações e depois me arrependo, me assusto, me frustro.

Algumas coisas a gente bota aquela intenção para que aconteçam outras já estão ligadas à linha do tempo que nos conecta ao espaço. São Paulo é meu passado, presente e futuro.

A cidade é colossal, é falsa e nojenta demais. EU vejo a nojeira, eu vejo o desejo, se não fosse o desejo, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro não existiriam. Pensar meu corpo nessas cidades riscando o asfalto, à vista, notada, percebida, esquecida, não quista e descartada é parte do exercício de criar memórias que por muito tempo eu deixava passar e soterrava de muitas formas, quase que apagando minhas pegadas.

São vias, linhas, malhas que cada vez mais se encaixam e na minha frente resumem conflitos, me apazigua e me traz a paz saber que tudo está exatamente onde deveria.

Dentre as amizades que não estou nutrindo mais e novas pessoas, sempre voltaremos. Buscando me deixar conhecer pessoas e movimentos em SP me encontrei com a montagem de POPERÓPERA TRANS ATLÂNTICA, foi um dos acontecimentos que marcaram na minha passagem nesse ultimo arco em SP.

PODE, AIVAN, ALÊ, ANITA, DOURADO, PATRÍCIA, SUZY, TATIANE TODAS me atravessaram de uma maneira que até hoje prefiro deixar pra retribuir em outras línguas que não o português digitado.

Foto: Reprodução de Marcelo @otimocarater

Dourado foi a pessoa que eu fiquei observando de longe – enquanto esperava minha amiga Pode desligar seus equipamentos e toda a treta de desmontar espaço. Esses dias tenho sido mais observadora, tenho ficado com preguiça de expressar meus pensamentos que estão cheios de melancolia, tessituras nostálgicas e ansiedades. Enquanto bebíamos, e eu esperava atentamente os últimos minutos antes da hora do metrô fechar, foi lá no boteco Copacabana que ficamos uns 50 minutos de conversas atravessadas sendo uns 30 de dourado dando um sermão pra cima da Branquitude de uma das monas

~~ A falta de lugar em São Paulo, de muita gente que roda aquele chão e passa mais tempo na rua que em casas tá realmente mais para as pessoas pretas do que pra branquitude centro-santa cecília – bom retiro – bela vista~~~

É em uma dessas brigas bobas que a gente tem com a mãe, um “então sai da minha casa” que faz com que a vida do centrão entre em cena. Eu não precisei de hotéis, albergues, mas já precisei de afeto acolhimento, amizades em que pudesse confiar noites de sono. O estado de alerta para a violência em que corpos negros estão situados é tão entorpecente, e penso que realmente só algumas drogas potentes são capazes de quebrar esse estado entorpecido de realidade, afinal, somos sempre lembradas dessas violências que não cansam de nos perseguir. Problemas do mundo problemas de cada um

“Criar a própria trilha sonora e existir a partir da sua possibilidade de construir as paisagens sonoras que se vive”, aprendi muito nesse sentido com Pode e continuo aprendendo. No fim das contas, cada uma contava sua história, com mais ou menos um pouquinho do tom heroico a partir das valorizações. A vida de atriz me fisgou esse dia, too achando que eu tô igual adolescente querendo ser mil coisas. Já tô praticando ser atriz, vida de atriz é glam, Europa it’s so fabulous! Mas se for, não vou poder voltar pra cá pra essa vida.