11 de setembro de 2023
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O Território, uma serra imensa, como uma espinhela deitada, que margeia por dentro, nos diversos sertões: o MAR.
É esse o percurso pindorâmico, que nos levará ao locais do sul ao norte, hoje denominados: Minas x Bahia, Ouro Branco x Chapada Diamantina.
Mais de 1000 km de memórias de montanhas, que levou milhões de anos para virar camadas inclinadas de quartzitos. É o tempo ancestral da própria TERRA.
Já em nossa existência humana, as rotas foram marcadas no tempo de mais de 12 mil anos, quando as paredes de cavernas foram pintadas, com terra, vegetal, gordura e sangue.
O tempo fluiu… No norte os povos eram diversos, e coexistiam em suas particularidades ao habitarem os mesmos territórios, quando fugiam do litoral, mata adentro. Sobreviveram aos colonizadores armados e violentos, pelos trajetos de fuga.
O Sertão da Bahia era habitado “desde o século XVI por grupos étnicos indígenas como os Payayá que faziam parte do grupo linguístico Kariri, família que predominava em uma região que abrangia desde o Ceará e Paraíba até o sertão setentrional baiano…” (SANTOS, 2020:05). Porém, os Payayá não eram os únicos, ali também estavam os “Sapoiá, Tocós, Moritises, Maracás, Secaquerinhens, Cacherinhens, Caimbés, Pankararu, Ocren, Oris, Tamaquins, Araquenas, Anaiós, Topins.” (SANTOS, 2011:34).
Do extremo sul ao norte, nesse caminho dorsal, também ocorreram movimentos guiados pelo brilho das pedras preciosas, que habitavam em pequenos fragmentos dentro da terra, ou no corpo dos vales, nos rios, junto a areia e sedimentos de pedras comuns. O garimpo, por séculos, perdurou nos territórios mineiros, desde o século XVI, mas teve seu declínio a partir do século XVIII, foi quando o caminho a ser percorrido foi traçado em direção à Chapada Diamantina, que, noticiada em jornais, rapidamente foi super povoada. ( MARTINS, 2013:33)
Muitos utilizaram esse caminho de deslocamento, como estratégia de sobrevivência ao fugirem de seus feitores, e que, com sua experiência, também ancestral, via na Chapada Diamantina, um possível Eldorado.
” Os garimpeiros vinham de todos os lugares, como bem pontuou J. Vieira do Couto, referindo-se a Minas Gerais no século XVIII: Ninguém precisa encorajar os homens para atividades mineradoras, o natural instinto, de que nos dotou a natureza, de caminharmos sempre pelo caminho mais curto à nossa felicidade, fará que haja sempre muitos mineiros. Supõe-se que os mineradores de ouro já soubessem reconhecer os diamantes quando das explorações do referido metal em Rio de Contas no século XVIII e XIX, mas, talvez pela ilegalidade, garimpar diamantes fora da província de Minas Gerais, tenha inibido a sua divulgação. “(MARTINS, 2013, p. 38).
Essas são algumas das camadas que habitam o corpo-memória da Cordilheira do Espinhaço. Perceber o que me alimenta, dentro desse percurso é a matéria viva da pesquisa – quero me alimentar dos gestos, sons, paisagens, encontros e rios… No percurso do nomadismos circular,* vamos caminhar?
Nota:
*Segundo Glissant, o nomadismo circular muda de direção à medida que partes do território ficam esgotadas, a sua função é garantir, através dessa circularidade, a sobrevivência de um grupo. (GLISSANT,2011:04)
Referências:
GLISSANT, Edouard. Poética da Relação, Portugal: Sextante, 2011.
MARTINS, Romulo de Oliveira. “Vinha na fé de trabalhar em diamantes”: Escravos e libertos em Lençóis, Chapada Diamantina-BA (1840 – 1888). Dissertação (Mestrado em Hisstória) – Programa de História Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013.
SANTOS, Solon Natalício Araújo dos. Conquista e Resistência dos Payayá no Sertão das Jacobinas: tapuia, tupi, colonos e missionários (1651-1706). Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-graduação em História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, 2011.
SANTOS, Solon Natalício Araújo dos. Etnogênese Payayá: pesquisa e ensino na Chapada Diamantina. 23f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Inclusão e Diversidade na Educação) – Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Santo Antônio de Jesus, 2020.
https://www.conservation.org/docs/default-source/brasil/megadiversidade_espinhaco.pdf
http://inot.org.br/cordilheira-do-espinhaco/