21 de setembro de 2023
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Eu estou no alto da montanha e carrego comigo os meus ancestrais.
Eu estou no alto do morro e carrego comigo os meus ancestrais.
Eu estou no alto da serra e carrego comigo os meus ancestrais.
São fotografias.
Na primeira, meu avô dança elegante.
Na segunda, minha avó sorri segurando mão de criança.
Guardo-as com calma no bolso da frente para não amassar quando eu me pôr de pé.
Eu estou olhando o céu. Posso ouví-lo falar comigo no silêncio entre um assobio e o arrepio.
Quando me levantar precisarei levar a mão por dentro do bolso para esticar as fotografias.
Encarar a imensidão que me olha de volta quase me custou um desmaio.
Mas o grito que eu dei foi de liberdade.
O grito que eu dei foi de liberdade!
E a presença que conversa comigo não é mais o céu.
Não é terra, mas não deixa de ser.
É indisível.
Secreta.
Eu também me transfiro para olhar.
Encontro-me em outro corpo, faço-me outras palavras.
Seguro a que me abrigou na palma da minha mão.
Eu estou de pé.
Desaguando profunda com a força do meu pulo.
E quando chego no fim me deito.
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Texto: Patrícia Coelho
Vídeo, voz e edição: A Sol Kuaray