11 de setembro de 2023

Avenida Amazonas

ariel

ferreira

LAB23

Devaneios nacionais (maníacos alegóricos):

Tem uma advertência: se segue um texto que é um rascunho. O texto não é legenda das fotografias, ele compartilha minhas inquietações que correm paralelas ao que até agora estou chamando de Avenida Amazonas, ou que se chamará SUBINO, feito de fotos do asfalto ondulado da Avenida Amazonas. Talvez, no fim, as fotografias nem precisem do texto, ou fiquem melhores sem ele. As coisas estão em processo.

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“O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão.” {isso é que é mourão voltado ah! isso é que é voltar mourão}

primeira vez, ou

quantas vezes houve?

Era um dilúvio? Uma fuga? De criança eu sempre pensei nessa frase do mar virar sertão de forma paleontológica. Depois vim a saber que na profecia, se vinda do contexto dOs Sertões (de Euclides), o mar e o sertão eram contrastados em termos mais sociais que geológicos, se se pode dizer. O mar representava a civilização do litoral (rica, abundante e populosa) enquanto o sertão era a vida de privações (pobre, seca, difícil). Assim que na forma do “mar” deve ser imaginado não tanto um “mar de água salgada”, mas um “mar de gente” (e o que é mais o sal da terra?). Era uma profecia e uma promessa de vingança no confronto dos dois brasis. Matado o profeta conselheiro não se extinguiu a mensagem lançada.

Anos atrás, quando numa questão de vestibular haviam perguntado qual é o sujeito que aparece no início do hino nacional: Ouviram do Ipiranga / as margens plácidas / de um povo heroico / o brado retumbante”. A maior parte dos concurseiros erraram ao afirmar que o sujeito era o “povo heroico”. O sujeito da primeira oração não é o povo mas sim “as margens plácidas”, foram elas que ouviram. Colocando a sentença em ordem facilitada: As margens plácidas do [rio] Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico. Eita! Parece que o povo forte fecundou a natureza pelos ouvidos, lá no reflexo das águas. Eita que hino bom! Eles gritam para as margens plácidas, poderiam ter sussurrado o que seria mais cortês e sexy, não, tinham que gritar porque o bebê nasce gritando, grita independência e ameaça de morte. E quem é que reconhece a Independência? O sol que passou a brilhar diferente (numa anti revolução copernicana!), de um instante para outro como se acordasse com aquele grito, seria ou foi o momento em que o território vira paisagem (digo pq tem país na palavra paisagem). “Gigante pela própria natureza”… o hino nacional exalta a formosura da terra (a idealiza) mais até que o povo bravo e o braço forte que sim estão levantados como tem que ser o falo, mas me parece que é a natureza (a geografia) quem precede tudo e garante a grandeza muito mais que a história. Pois, a propósito, a terra aparece majestosa no hino como um éden … uma abundância tipo uma cornucópia; entretanto nenhuma linha do hino (que eu saiba) fala dos 300 anos de conquista.

Passa o barco. Hoje se a natureza está sendo fetichizada, ou, de outro modo, a imagem da natureza como mercadoria é cada vez mais valorizada mesmo, haveria como des-fetichizar a natureza??e seria desejável?? Desfetichizar mas sem (o que seria impossível) desestetizar (qualquer base de estética já é natureza).

E o sertão já virou mar? Está virando?… a cidade de BH seria privilegiada para fotografar esse processo. BH é uma cidade-fronteira que tem para um lado o litoral (eixo rio-são paulo) e de outro o sertão para cima, como fosse a última cidade do litoral e a primeira cidade do sertão.

Roça grande – Cidade curral. Seu Interior e seu exterior, metrópole sem ser cosmopolita, modernização sem modernidade, surreal sem chegar a ser surrealista, aldeia-mundo, etc.

Clube da esquina 2 diz o que eu gostaria, por enquanto: “um rio de asfalto e gente, entorna pelas ladeiras, entope o meio-fio, esquina mais de um milhão …” .