10 de novembro de 2023
Ramon, que de trás para frente é no mar. No mar dos seus sorrisos eu sou
sereio e mergulho até as profundezas do seu ser, naquela parte em que o
ser também sou eu e juntos reinamos no império que se ergue entre o seu
e o meu olhar. Nesse espaço entre lampejos de luz e desejo, serpenteiam
vielas e percorrem caminhos criados pela força do nosso amor,
atravessando campos floridos de girassóis e camélias. Juntos desenhamos
uma porta-ponte e num jogo de cara e cara decidimos que vamos por ali
nos embrenhar, criar um mundo de cetim e nele costurar as miçangas dos
nossos dias, os fios da nossa história. Nesse mundo, nomeado Meusseu, as
estrelas brilham constantes, são planetas-refúgio para onde viajaremos a
cada dobra do espaço-tempo. De um universo a outro construímos uma
estrada de tijolos dourados e voamos nas asas de um dragão, que é forte,
vistoso e gentil como nossos corações, agora atados e batendo em
uníssono. Nossa canção ecoa pelos vales, entra nas cavernas, desata os nós
das rosas. Consigo ouvi-la no farfalhar das frutas, no desabrochar das
folhas, no barulho do seu olhar. Esse olhar que me põe para fora, desnuda
minha alma, me deixa ser o seu lugar e me faz querer ficar. Ficar em
navegação num mar de ondas tranquilas, onde me faço capitão e
tripulante, sou aquela sereia dançante, o aroma do luar. A luz de prata nos
preenche, somos dois delinquentes a caminho de uma eterna primeira vez.
A vez que todas são e que única é, que nos faz acordar o amanhã numa era
dominada pelos amanheceres. Deitados nas nuvens observamos os
mundos que criamos e preparamos os materiais para a extensa tela branca
que se estende à nossa frente. Pois nós somos o hoje e escolhemos
também ser os amanhãs. Calçamos nossas almas de paz, olhamos um para
o outro, dou-lhe um trago dos meus sonhos, você me conta os seus. Agora
você também tem cauda e sereiamos felizes nos vastos oceanos dos
universos que estamos a criar.