12 de setembro de 2023

ERVA-FEITICEIRA

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performance

Defuma-DOR do Esque-SER

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A mescla e o elo entre tempos, história e chão.

Corpo-memória Tupi, não esquece a invasão.

Amescla, erva-feiticeira,

Guapoy-ici, ibiracica,

Yapüana, cheirosa, perfume que fica.

Tem cheiro de terra úmida, fértil e profunda.

Resina onde o  mundo se funda.

Erva sagrada, encantaria que atravessa o tempo,

Relembrar práticas, resgatar a magia.

Amescla, guardiã de mistério,

raízes, e encanto

Aroma que encobre feito manto.

Na base terrosa, o cheiro doce se desvela, 

Notas amadeiradas e fragmentos exalados,

 Na seiva da árvore-incenso, segredos velados.

Invadiram o corpo-memória Tupi. 

A primeira missa realizada em Pindorama, na região hoje chamada de Porto Seguro foi defumada com a resina de amescla como parte central do ritual, sendo um marco nesse longo processo de evangelização e apagamento cultural dos povos Tupis.

A apropriação do uso da resina de amescla para rezar a primeira missa no Brasil é um exemplo emblemático do peso colonial imposto sobre os povos indígenas e que ecoam em nossas práticas aromáticas, culturais e espirituais. Esse evento histórico não apenas marca a chegada dos invasores europeus, mas também destaca como a religião foi instrumentalizada como uma ferramenta de dominação.

A resina de amescla é uma substância sagrada, frequentemente utilizada para defumar espaços, purificar o corpo e estabelecer conexões com o divino e a natureza. A apropriação desse elemento pela Igreja Católica para a primeira missa simbolizou não apenas uma imposição religiosa, mas também uma apropriação cultural e espiritual. Representando não apenas a imposição de uma fé estrangeira, mas também a erosão das identidades culturais e espirituais dos povos nativos. A conversão forçada ao cristianismo muitas vezes era acompanhada por práticas coercitivas, violência e exploração, criando uma dinâmica de submissão e opressão.

A performance “Defuma-Dor do Esque-Ser” é um ato poético para nos relembrar da  conexão entre a resina de amescla e nossa ancestralidade indígena. O  aroma da resina de amescla, que permeia o ambiente durante a performance, serve como uma âncora sensorial sobre nossas raízes que foram pisoteadas pela história.

Registro de Performance – Setembro/2023. Disponível no Youtube.