13 de outubro de 2023

Primeiro veio a lágrima 💧

LAB23

Muito da nossa conversa coletiva com o grupo do lab habita o avivamento das memórias, principalmente das nossas ancestrais, nossas matriarcas. Foi natural que eu também me sentisse mergulhando nessas corversas e cada vez mais nas memórias do que eu tinha de melhor em mim, construído na referência dos meus aprendizados com mulheres grandes e fortes.

Nesse processo de lavar minhas jóias, vejo que o brilho é o reflexo do meu empenho, mas também é carinho, acalento e segurança que meus patuás me mostram em seus relevos e as cunhagens ancestrais que estão nessa encruzilhada do tempo.

Estudos das cores

Dentro do meu preparo para esse dia, separei algumas cores de tinta e fui fazendo alguns testes e estudos dessas cores. Das cores, acredito que a mais presente é o azul; apareceu novamente lá na casa, a garagem que era a sede dos encontros era perfeitamente acabada no gesso e um azul bem clarinho, perto do ciano e trouxe a brisa do mar, a leveza das brumas.

Por que o azul?

Eu fiz essa pergunta ao Wanatta e ele me retornou que no conflito de representar a pele negra com colorações pouco representativas os contrates desse azul criaram significado em suas personas que têm em sua pele o brilho, sua magia e o neon que sou apaixonada.

Meu encontro com Wanatta em visitar sua quebrada no Alto Vera Cruz foi enigma do começo ao fim. Desde o começo não sabíamos o que sairía da parede que Wannata já havia negociado com uma familia, cujo porta voz era um carinha de uns 45 anos, todo trajado nas cores da bandeira do Brasil, e sua moto no mesmo estilo. Até então, ainda tinhamos receio, por mais que fosse um grafitti autorizado, ainda existem questões que nos atravessam muito nesse momento de diálogo com pessosas cisgeneras eoutras pessoas que não têm um contato tão diário com a arte de rua.

Não demorou muito para que fossemos apresentades para as matriarcas da familia que logo nos contaram sobre os conhecimentos deixados também pela mulher preta e imponente que criou a famaília toda alí naquele terreiro e hoje está junto de nossas ancestrais mais antigas. Vivi foi muito carinhosa e nosso papo pingava igual a chuva que durou o dia inteiro, bem pouquinho, mas constante.

As simbologias que nos cercavam também teciam lugares comuns, Wannatta, num dado momento até puxa uma conversa sobre Sankofa nas Janelas. Ali, foi ´possivel esse resgate de sabedorias ancestrais com as artes e com o trabalho manual.

Confesso que eu, como super romântica, primeiro vejo corações e reflexos, acredito que também pelo papo que estávamos tendo sobre afetividades, dentre outros babados, mas a troca que aconteceu entre Wannatta e Ricardo me surpreendeu, ao me levar a pensar essa forja africana, no metal, nas jóias, nas preciosidades que partem de nosso território, lapidasdas pelos nossos, e carrega os nossos valores.

A rua estava bem movimentada e a medida que o dia acabava e a noite vinha, o moviemnto de pessoas ali naquela encruzilhada também aumentava, a maioria eram pessoas indo para a igreja, e um trafego de mães e senhoras de idade em suas rotinas de domingo. Muito elogios e olhares curiosos, e acredito que por mais que fosse uma coisa diferente, remete imediatamente a uma ancestralidade africana, negra, afrobrasileira. Sabemos que a conjuntura que vivemos é de extrema intolerância de alguns grupos, pricipalmente aqueles ligados a líderes religiosos protestantes. Enfim, uma das poucas pessoas que nos abordou com um “Jesus te ama”, que é uma crítica disfarçada de preocupação com a salvação.

De fato acredito que esse encontro está ecoando no espaço e atravesssa a mim e Wanatta, nossos looks monocromáticos azul e rosa, nossa pele preta e de todos os outros elementos que nos contsrói, individual e coletivamente.