10 de agosto de 2021
O levantamento a partir do olhar da família Souza
Ntesiemate Masie
Ntesiemate Masie. Fonte: Instituto de Pesquisa e Estudos Afro-brasileiro – Ipeafro, 2021.
Adinkras são um conjunto de símbolos dos povos Akan do oeste de África, que representam ideias expressas em provérbios. O Adinkra utilizado para ilustrar essa postagem é o ‘’Ntesiemate Masie – eu ouvi e guardei. Símbolo da sabedoria, do conhecimento e da prudência’’ (IPEAFRO, 2021).
O segundo mês do projeto foi sobre entender quais desdobramentos seriam possíveis no projeto, tendo como reflexão as questões suscitadas pelas interlocuções, refletindo que os trabalhos desenvolvidos não poderiam se encerrar na realidade do Kilombo Souza, entendendo que os demais quilombos ocupados por Belo Horizonte poderiam (e deveriam) ser incluídos nas discussões sobre agroecologia, conformando-se assim uma rede de intercâmbios.
A concretização das ações propostas se fará a partir do credenciamento da Unidade Produtiva Território de Tradição, processo assim denominado pela Prefeitura de Belo Horizonte, que ainda terá seu edital disponibilizado. Sendo assim, definimos que é importante antes desse processo o início de discussões ligadas à agroecologia a partir de oficinas culturais, que permitam um processo de sensibilização e reconhecimento do território e suas potencialidades.
[INÍCIO DA CARTOGRAFIZAÇÃO DO PLANTIO NO KILOMBO SOUZA]
No final de julho realizamos uma nova reunião com o coletivo, onde discutimos aspectos do projeto, mapeamos os locais de plantio já existentes e aqueles que poderiam se conformar enquanto novos locais cultivo, inclusive os espaços que são cimentados. Discutimos a possibilidade de ocupá-los com hortas suspensas, além da área permeável extensa que também será utilizada no plantio. O objetivo é espalhar essa produção pelo território do Kilombo Souza, fazendo com que essa lógica faça parte do cotidiano direto de todas(os) membras(os) da comunidade, além de ajudar no processo de regulação da temperatura.
Canteiros presentes no Kilombo Família Souza. Fonte: Patrícia Brito
Abaixo temos um croqui desenvolvido a partir de planta de levantamento topográfico, onde membros do coletivo juntamente com membros da família Souza começaram a realizar o mapeamento e identificação das espécies de plantas presentes no território ancestral, dos canteiros e demais espaços disponíveis. Ainda estamos refletindo sobre a melhor forma de representar a realidade, reconhecendo a limitação e abstração das plantas baixas, que transferem ao plano 2D uma realidade multidimensional e sensorial.
Croqui realizado na oficina de mapeamento das atividades de plantio desenvolvidas no território do Kilombo Souza
A partir das discussões fomentadas pelo mapeamento começaram a aparecer sugestões, tais como a produção de jardins suspensos, a possibilidade de ampliar a captação de água da chuva para utilização nas plantações existentes, processo que já existe mas se mostra insuficiente, além da possibilidade de pensar alternativas para a geração de energia elétrica, tais como as plantas fotovoltaicas, tendo em consideração a disponibilização vastas de lajes no território.
Os membros do coletivo decidiram que o desenho elaborado será discutido e apresentado a todas(os) quilombolas para que eles se tornem guardiãs(ões), para além das participantes diretas do projeto, Glaucia, Maria Adélia e Simone, aproveitando as potencialidades dos outros moradores, como por exemplo Marco Antônio, que também aprendeu com sua avó, a matriarca Maria de Souza, os segredos das plantas.
Foi importante o debate em torno das questões das plantas sagradas, dos Orixás, ervas medicinais, de forma que a proposta da PBH por meio da Diretoria de Patrimônio sobre os Jardins do Sagrado seja atrelada à proposta do nosso coletivo desenvolvido junto ao Urbe Urge e seja pensado juntamente com o desenho dos novos canteiros de plantação.
Um aspecto que ficou evidente a partir da oficina de mapeamento é que mesmo nas regiões do território em que houve uma impermeabilização do solo existem canteiros, sejam abaixo do nível do solo ou acima do nível do solo, o que denota a necessidade da presença desses espaços permeáveis ao longo do território. A partir das discussões apontou-se a possibilidade de semear as plantas sagradas nos quatro pontos cardeais do Kilombo Souza considerando a possibilidade de plantio nesses canteiros já existentes, em um processo de fundamentação e proteção do território.
Ficou definido como encaminhamentos principais outro encontro para apresentação do desenho desenvolvido durante a oficina de mapeamento, visita ao Quilombo Mangueiras com a participação da PBH, que ficou agendada para o dia 05/08, além da visita em 25/08 ao CERBAMBU em Ravena para o final de agosto, onde conheceremos o espaço organizado por Lúcio Ventania.
Agradecemos por nos acompanharem até aqui.
Referências bibliográficas
Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-brasileiro – IPEAFRO. Adinkra Ntesiemate Masie. <https://ipeafro.org.br/acervo-digital/imagens/adinkra/> Acesso em 29 de julho de 2021.