22 de julho de 2021
A cultura do uso do bambu na construção civil brasileira
O BAMBU NA CONSTRUÇÃO CIVIL:
EXISTE UMA CULTURA BRASILEIRA?
Em nossa pesquisa, para compreender a adoção cultural do bambu na construção civil, fizemos um panorama desde seu emprego na arquitetura asiática, até a inserção deste nas soluções de edificações nas Américas.
O seu uso específico no Brasil, advém, principalmente, da arquitetura indígena. A princípio, os portugueses, no início da colonização, chegaram a reconhecer e aplicar as técnicas indígenas. Contudo, quando a ocupação se consolidou, as técnicas portuguesas se tornaram o foco das construções. Ainda assim, em regiões aonde a madeira era, de certa forma, escassa, o bambu foi utilizado em sua substituição, principalmente na técnica de pau-a-pique.
Sylvio de Vasconcellos, em seu livro “Arquitetura no Brasil: Sistemas Construtivos”, pontua de forma abrangente esse uso na técnica citada, sem grandes alardes. Maria Cristina Seabra, arquiteta e urbanista, estudiosa das antigas técnicas construtivas, orienta que, em Minas Gerais, o uso do pau-a-pique com bambu chegou a ser efetivado nas primeiras igrejas, tais como da cidade de Diamantina. Contudo, por sua resistência insuficiente, ao longo do tempo foi alterada por adobe, moledo e outros sistemas.
Ainda assim, a ruralidade brasileira, advinda do modo de vida colonial, acrescenta alguns elementos arquitetônicos – cercas, forros e outros – e objetos – cestarias – construídos a partir do bambu. A adoção clara como sistema estrutural, desde colunas, vigas, estruturas de cobertura, telhados, esquadrias, de modo amplo, com a aplicação deste material, no Brasil, é relativamente recente.
No final do século XX, início do XXI, discussões sobre suas possibilidades, instigadas pelos seus atributos físicos e de respeito ao meio ambiente foram premissas para que diversos grupos realizassem laboratórios e vivências a partir de construções integralmente feitas de bambu. A troca de informações a partir de vivências em países orientais como a China, Finlândia e outros trouxeram ao Brasil, técnicas mais refinadas de manuseio e tratamentos prévios.
Em suma, a cultura brasileira do bambu existiu desde as construções indígenas, mas, em algum momento, ainda na colonização, seu uso não foi instigado, talvez por não se ter técnicas mais propícias, talvez por um preconceito arraigado pelos colonizadores. Limitado, foi revigorado e reinterpretado, em tempos atuais, o que nos sugere toda a sua potência de renovação dos sistemas econômicos e sociais diante da busca por soluções que impactem o meio ambiente, visto o dilema que vivemos por nossa incapacidade de conviver de forma harmoniosa com o meio que nos cerca.
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Interessante o breve panorama sobre a cultura do bambu e a importância de refletir sobre o rompimento com a hegemonia de técnicas e métodos construtivos que colocam práticas ”empiricas”, ainda que consolidada, com ”menos-saberes”.