Alimentação escolar e agricultura familiar tradicional

Olá pessoal, nesta postagem vamos falar sobre… Comida! Acompanhem com a gente! 

A merenda que deve ser comida

O povo Xakriabá interage há muitos e muitos anos com diferentes espécies vegetais e animais que coabitam seu território na transição entre os biomas cerrado e caatinga. A riqueza dos alimentos é enorme e dialoga com diversas culturas alimentares brasileiras e ameríndias. São exemplos de alimentos antigos as mandiocas (diversas variedades de mandioca brava e mansa), os milhos crioulos, os feijões (vários tipos como o feijão rosinha, o feijão catador e a feijoa), as abóboras, o maxixe, o pequi, a cabeça de nego, o imbu, as carnes de caça e, mais recentemente, os porcos e as galinhas. 

Tais alimentos vivem nas casas, nas festas e rituais, nas roças e, por que não, nas escolas? Pois é, por mais que pareça lógico esses alimentos se fazerem presentes nas escolas essa história nem sempre foi assim. Antes da criação do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) a merenda nas escolas indígenas expunha a comunidade à alimentos industrializados e de má qualidade como enlatados (salsicha, almôndegas…), concentrados (sucos em pó, achocolatados, temperos como Sazon…). “Merenda que não era comida“, como bem observa Zeza.

Esses “alimentos” (entre aspas), vindos de cima para baixo, prejudicavam a saúde e enfraqueciam a tradição de comer e produzir alimentos locais. A implementação do PNAE, surgiu como um aliado para a mudança que diretoras, diretores, professoras, professores, lideranças e a comunidade Xakriabá desejavam: a merenda deveria voltar a ser comida.

Variedades de abóboras produzidas no território indígena Xakriabá. Créditos: Zeza Xakriabá, 07/2021.

A força da coletividade e o trabalho de formiguinha

Um trabalho de formiguinha foi iniciado. Muitos desafios surgiram para colocar os direitos garantidos pelo PNAE em prática (no mínimo 30% dos alimentos comprados pelas escolas devem ser provenientes da agricultura familiar, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e as comunidades quilombolas). Devagarzinho, alimentos como feijão catador, fava, farinha de mandioca, pequi, folhosas diversas, rapadura, mel, açafrão e urucum, produzidos na comunidade, têm conseguido fazer presença na merenda das crianças Xakriabá. 

Existem ainda desafios a serem superados. É necessário, por exemplo, ampliar o acesso aos editais de compras de alimentos para as escolas, garantindo a presença de maior quantidade e variedade de alimentos produzidos pela própria comunidade. É nesta luta que o coletivo ROMZÂ está empenhado e que o nosso mapeamento colaborativo está comprometido. Esse é o trabalho de formiguinha: seguir passo a passo na busca pela superação dos desafios, manter o olhar concentrado nas conquistas que vêm de ontem e que serão deixadas como herança, e encontrar no coletivo a força para seguir sempre em frente!

Crianças indígenas Xakriabá participando do processamento de farinha e beiju de mandioca. Créditos: Zeza Xakriabá, 08/2021

 

Cardápio utilizado em 2011 na Escola Estadual Indígena Xukurank, na Terra Indígena Xakriabá. Fonte: Organização Interna Xakriabá.

 

Avante! Sigam acompanhando nossa caminhada e somem-se ao nosso formigueiro!

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