22 de julho de 2021
Encontros Mulheres-Sementes
O início dos plantios
Conspiração
“Ao olhar para o resultado em movimento da combinação entre semente, água, solo, biomassa, microorganismos, energia e trabalho humano, muitas vezes não percebemos que tudo aquilo contou com um elemento fundamental, que o olho não vê, mas que está presente ali: a conspiração. A semente só vai se metamorfosear, se participar de um processo conspirativo.”
Caderno de Formação, Setor de Gênero. A conspiração dos gêneros: elementos para o trabalho de base. MST, 2018.
Para começar é preciso conspirar. Voltamo-nos aos territórios. Do Brasil, Angel e Gabi foram aos assentamentos do MST Ho Chi Minh e João Pedro Teixeira, de Cabo Verde, Gi se deslocou para a Zona de Relvas, todas nós ao encontro das mulheres. A ideia era apresentar melhor o projeto: temos o desejo de promover e facilitar as diversas trocas transatlânticas que podem haver entre essas mulheres em diferentes partes do mundo.
As reuniões promoveram conversas várias, para além de objetivos específicos do projeto. Nos assentamentos, com 12 e 15 anos de existência e de luta pela terra, o grupo de mulheres já teve vários formatos e as reuniões constantes contribuem para que as mulheres se ajuntem cada vez mais. No encontro conosco, sobressaiu justamente a importância, colocada pelas mulheres, de manter as reuniões regulares, com data e hora para acontecer, consolidando um grupo que se fortalece e se anima. Há um desejo de estarem juntas para o projeto e também para terem um momento seu: para conversar e ouvir. Ficou combinado que entre elas haveria o encontrinho e conosco, o encontrão.
Ao mesmo tempo, na Ilha do Fogo, as mulheres falaram da importância de sair da rotina para ter um encontro com e entre elas. Ficaram entusiasmadas em conhecer as mulheres brasileiras e experienciar essa troca, mas sobretudo, o entusiasmo está em ter um dia em que elas vão se reunir para sair, conversar e mudar a rotina do dia a dia. Fizemos o convite para que sugerissem temas do interesse delas: falaram em saúde da mulher, em comercialização de cestas agroecológicas, dentre outros.
Tem sido gerado um efeito cascata: um movimento abre outras (várias) possibilidades. A necessidade de um espaço equipado para as vídeo-conferências impulsionou uma parceria com a municipalidade local na Ilha do Fogo. A prefeitura cedeu um espaço para os encontros e o projeto agora conta com essa chancela, podendo por exemplo, usufruir de espaços públicos para a promoção de feiras ou outras atividades.
Já nos assentamentos, combinamos a ida ao campo com a aquisição de produtos, reunindo o fomento e valorização da rede agroecológica da RMBH por meio da educação, trabalho realizado por Ângela em sua disciplina de “Educação para a terra” na escola onde é professora. Ao invés de uma simples ida ao supermercado ou mesmo da modalidade “curto-circuito” (modelo de compra de alimentos em que as cestas chegam diretamente à sua casa), nos convidamos para a colheita. No quintal de Francisca, cada uma com sua faca na mão, colhemos e chupamos laranja. Se juntaram a nós Dona Deja, que entrou no carro no meio da estrada e Das Dores, que se ofereceu para ir conosco e guiar o caminho. A colheita virou um almoço coletivo e um dia delicioso. São nesses momentos em que sentimos o propósito do projeto Mulheres-Sementes.
Próximos passos
Do presencial, fomos ao virtual. No grupo de whatsapp, já começaram as trocas: fotos de sabão de folha de mamão, vídeos de biscoito caseiro “da hora”, apoio de panela de fibra de folha de bananeira e vasos do caule, receitas de tempero caseiro. Por lá, também nos comunicamos com elas. Com uma imagem, convidamos para o próximo encontro:
Sementes lançadas a muitas mãos e em campos diversos. Essa teia de mulheres que já começa a se formar pode possibilitar tantas outras teias e histórias.
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Conspirações (multi)territoriais e transatlânticas em marcha. Animado com os próximos passos e curioso para saber mais sobre como foi o encontrão.