20 de setembro de 2021
Primeira visita a Maquiné – reconhecendo a comunidade e seu espaço
O nosso público alvo do projeto Urbe Urge são as mulheres da comunidade de Maquiné, localizada no distrito de Ravena, município de Sabará, MG, inseridas no seu contexto espacial: uma comunidade ruralizada, com questões sociais e ambientais relevantes.
A escolha do feminino se deu pela oportunidade de incentivar a liderança feminina e, também, pelo amplo potencial disseminador da mulher. São mulheres de todas as faixas etárias, que possuem o papel familiar de cuidar e, ao mesmo tempo, prover sustento. Esse último é proporcionado de forma exaustiva, uma vez que muitas delas necessitam sair da comunidade, muitas vezes sendo admitidas em empregos mal remunerados. Boa parte trabalha como empregada doméstica ou em postos de trabalho no comércio de Sabará.
O projeto propõe a elas saberes que respeitem seu ambiente, suas temporalidades, seus corpos e, ao mesmo tempo, que demonstram possibilidades de inserção econômica distinta e inovadora, é direcionado a elas.
Nossa primeira visita ao local aconteceu no dia 11 de setembro, momento no qual nos reunimos com o total de 9 mulheres. Destas, algumas já tiveram a oportunidade de participar de um curso de bambuzeria para móveis, ministrado no CERBAMBU pelo mestre bambuzeiro Lúcio Ventania.
A comunidade teve seu início com o casamento do Sr. Lourenço, proprietário de uma fazenda no local, e de D. Raimunda, vinda da cidade de Sabinópolis. A união, já no século XX, gerou uma migração de familiares de D. Raimunda para o local. Esta situação se deu a partir de doações e vendas de trechos da gleba pelo Sr. Lourenço. O casal teve, ao todo, 12 filhos, que, por conseguinte, geraram suas famílias, e novas divisões de terras. O aumento populacional se deu a partir de casamentos entre primos, que gerou a população que hoje se encontra no local.
A economia inicial era baseada na agricultura, que teve seus momentos de êxito, declínio, e hoje não é mais praticada. Assim, os moradores necessitam sair do local em busca de empregos no próprio município de Sabará ou até mesmo em Belo Horizonte. Alguns conseguem serviços como pedreiros, domésticas, caixas de loja e caseiros de sítios vizinhos.
O assentamento deu início a partir da divisão de uma gleba maior, em pequenas porções, de dimensões próximas ao que se considera um lote urbano mínimo (cerca de 125m²), outros maiores, com cerca de 700m².
O crescimento foi informal, desordenado, embora seguisse, como eixo principal, as margens do Córrego Santo Antônio – afluente do Ribeirão Vermelho, um dos principais contribuintes do Rio das Velhas. As construções, em sua maioria, são autoconstruções, de padrão baixo, em sua maioria com telhados de telha de fibrocimento, piso de cimento e blocos de concreto ou cerâmica. Pequenas, com poucos cômodos, são locais muito quentes.
Praticamente todas possuem quintais, aonde se vê o solo exposto e pouca vegetação. Algumas com criação de galináceas.
Há apenas dois estabelecimentos comerciais de pequeno porte, são bares que também funcionam como pequenas mercearias. Não há escolhas, creches, postos de saúde, nenhum equipamento social. Não há áreas abertas, praças.
As ruas são de terra, e, as que sobem para os morros ao redor, apresentam lixiviação e carreamento de solo. Há uma ocupação às margens do córrego, e, este, está poluído. Não há redes de distribuição de água, e esta é captada a partir de poços. Ainda, o esgoto, até 2016 funcionava por fossas negras, que, por sua vez, contaminavam as águas potáveis, o que gerou muitos problemas de saúde. Hoje há fossas sépticas.
Como o local surgiu de parcelamento clandestino, não houve uma reserva de áreas públicas. A comunidade é carente de áreas comuns.
Todo esse contexto demonstra uma deficiência na estrutura urbana e um impacto ambiental que, se não for trabalhada, pode se intensificar cada vez mais. A prefeitura de Sabará, por não considerar o local um núcleo urbano, não subsidia como deveria, não oferece serviços e infraestrutura para a regularização fundiária. Esta postura de não compromisso, por parte da administração municipal, nestes assentamentos é uma realidade brasileira, que se observa em todas as regiões. Este fato propicia a intensificação da desigualdade socioeconômica e espacial. Oportunizar uma formação que possibilite um modo de economia, de construção adequada, de organização espacial e, ainda, com mitigação dos impactos ambientais, também é um dos objetivos do nosso projeto em construção, com o intuito de corroborar para a melhoria urbana e ambiental, pautado no conceito de sustentabilidade empregado pela ONU. Para tal, se estrutura o projeto a longo prazo, com uma meta de retorno de, aproximadamente, 10 anos.