Um rio, uma avenida: Amazonas
Felipe Chimicatti apresenta seu olhar sobre uma das principais avenidas de Belo Horizonte
Uma arqueologia do urbano, um registro do crescimento da cidade e do seu constante movimento. Assim se dá a narrativa escolhida pelo artista Felipe Chimicatti em sua série fotográfica inédita Avenida. Amazonas, que ocorre até 31 de março, na Galeria de Arte BDMG Cultural, de 10h às 18h, diariamente, inclusive sábados, domingos e feriados. Às quintas, horário estendido, de 10h às 21h. O acesso é gratuito.
Fotógrafo, cinegrafista, diagramador e artista visual em Belo Horizonte, Chimicatti faz parte dos selecionados para o ciclo 19/20 do Mostras BDMG, que faz um recorte das questões do mundo atual, o que fica evidente em sua exposição. Inaugurada em 1941, com cobertura do fotógrafo Wilson Baptista, a Avenida radial Amazonas foi pensada como ligação entre a zona planejada de Belo Horizonte e a Cidade Industrial, em Contagem.
Com tal envergadura, já se esperava o eixo de crescimento que viria a atrair, como o conjunto residencial JK, os campi do CEFET-MG, as instalações do Expominas e ainda o 5º Batalhão da Polícia Militar. Mas o olhar do artista foi muito além dessas inflexões espaciais. “Sempre morei perto da avenida, simboliza, para mim, umas das principais vias de BH. É o contato do centro com a região industrial”, conta o artista que iniciou a série em janeiro de 2019. Na série, ele registra pessoas que estão de passagem ou entretidas em sua travessia e compromissos, chegando até a solidão de perfis que posam ao final da faixa de um painel luminoso. “São como corpos inertes em esculturas fotográficas”, completa Junia Mortimer, que assina o texto curatorial da exposição.
De acordo com Felipe, ao começar o projeto, percebeu que a Avenida Amazonas não possui muitas correspondências visuais.
“No Arquivo Público encontrei algo dos anos 60, 70, 80, e a maior parte da região central. Quando chegamos ao eixo de expansão, na Contorno, o material fica escasso”, revela o fotógrafo que percebe um culto ao pavimento, terno e gravata nestes registros.
Resignificando esse olhar sobre uma das principais avenidas de Belo Horizonte, essa documentação mais conceitual da via é uma forma de registrar o ano de 2019 e lançá-la para gerações futuras, mostrando uma cidade em constante movimento. “Um orelhão pode parecer pitoresco, celulares, veículos, mas esses elementos que indicam temporalidade poderão ser vistos daqui há anos, marcando uma época. É uma documentação pouco usual, mas que pertence a cidade”, afirma Chimicatti.
Ainda refletindo sobre a sua obra, Felipe percebe o desenho da cidade na Avenida, por meio de intervalos urbanos com interferências de postes, quadrados e circunferências.
Na exposição, Felipe Chimicatti apresenta entre 40 imagens produzidas em supor analógico nos formatos pequeno (135) e médio (120). As fotos serão divididas em quatro ou cinco diagramas, levantando temas relevantes.
“O gráfico que aglutina os temas que abordo são diagramas fotográficos com imagens, textos, transeuntes, bandeiras, resíduos e detritos, publicidade, edifícios, a chuva como renovação, o modal de transporte, rede elétrica, pixo, sinalização, entre outros”, explica.
Conheça mais sobre o artista
Felipe Chimicatti desenvolve trabalhos ligados à fotografia, ao vídeo, ao cinema e às artes visuais. Suas pesquisas estão ligadas à dimensão do arquivo, da película e da documentação. Em 2017, publicou o fotolivro “Santiago – Fogo”, pela editora Chão da Feira. No ano passado, participou da Temporada de Projetos do Paço das Artes, em São Paulo, com a exposição que reúne as imagens que deram origem ao livro.
Na área da cinema, realizou os filmes “Brooklin”, “O jardim”, “Eles Sempre Falam Por Nós”, “Na Velha Lagoinha”, “Bruno”, ‘espinhela Caída”, “Linha de Impedimento” e “Empurrando o Dia”.
Atualmente, desenvolve pesquisa de mestrado no departamento de artes visuais, da UFMG, sobre livros que têm como tema principal as erupções do Vulcão do Fogo, em Cabo Verde; e integra a produtora audiovisual NAUM.