Ação educativa – Um ano para fabular novas histórias
Esperança. Convocação à imaginação. Uma qualidade que se baseia na expectativa de futuros possíveis, necessária para escrever novas histórias. Ainda que em um cenário atribulado seja difícil manter a positividade, apoiar-se na ideia de que o amanhã pode ser diferente é possível e – talvez – fundamental.
É nesse caminho que o BDMG Cultural convida: “Que tal fabular, juntos e juntas, novos caminhos para o futuro?”
Em conjunto com o coletivo Micrópolis, o Instituto vai realizar ações educativas com o tema central o universo das Fabulações. Em 2020, foram quatro ciclos do programa educativo, sob o tema Vizinhanças, tratando sobre tudo aquilo que nos aproxima.
Gabriela Moulin, diretora presidente do BDMG Cultural, explica que a ideia do programa educativo passa por um compromisso com a expansão de pensamentos e das possibilidades de contato com múltiplas histórias, múltiplos saberes e diferentes perspectivas. Amplia também, segundo a jornalista, o entendimento de cultura como instância que transborda em todos os campos da vida. “Estamos animados com o tema de 2021”, resume.
Quais são os caminhos para o futuro de um mundo habitável por todas e todos nós? Como estimular a criação de novas histórias? As atividades dos próximos ciclos vão perpassar essas e outras indagações em quatro ciclos, que se desdobram nos subtemas: Fabulações da Natureza, Fabulações do Amor, Fabulações da Rua e Fabulações do Corpo. Por meio de oficinas, podcasts, textos e imagens, as ações partirão da ideia de que, apesar da sugestão do nome, fabular não é sobre pensar ficções, trata-se sobretudo de construir novos desejos e novas narrativas.
“No ano passado, refletimos sobre como poderíamos estar juntos e juntas e nos aproximarmos das diferenças. Fomos bastante atravessados pela pandemia no processo e, hoje, nosso contexto é de transição. Sem saber o que será do amanhã, estamos vivendo de imaginar. Por isso, achamos importante pensar futuros possíveis de maneira coletiva, como combustível para a transformação. Fabulações é sobre isso” – Felipe Carnevalli, do Micrópolis.
Ação, reflexão e diálogo
Para dar conta de todo o campo de possibilidades que o universo das Fabulações traz, as atividades ao longo dos ciclos serão divididas em três frentes: ação, reflexão e diálogo.
A primeira diz respeito a experiências coletivas com artistas, cientistas, pensadores e mestres da cultura tradicional no formato de oficinas, uma para cada subtema. Essas ações de caráter público e gratuito serão voltadas para professores e professoras da rede pública estadual de Minas Gerais.
Gabriela Moulin justifica a escolha por esse público propondo o entendimento dos(as) docentes como multiplicadores(as) de cultura, além de lembrar a necessidade constante que esse grupo tem de repensar suas práticas. O resultado final dessas oficinas serão produtos práticos e reflexões que os(as) educadores(as) vão poder utilizar em sala de aula ou tomar como base para pensar conteúdos e discussões.
Nos dias 22, 24 e 26 de março, a artista plástica e consultora nas áreas de educação e artes, Stela Barbieri, estreia as atividades com a oficina “Natureza Fantástica”, realizada virtualmente por transmissão de vídeo. Stela é artista plástica e consultora nas áreas de educação e artes. Foi conselheira da Fundação Calouste Gulbenkian entre 2012 e 2016 e, antes disso, foi curadora educacional da Bienal de Artes de São Paulo por cinco anos.
A presença de figuras notáveis não se limitará às oficinas. Mesmo que as ações educativas, no geral, carreguem estímulos ao diálogo e interação, é no podcast “É cultura?” que as conversas literais vão acontecer. Serão realizados bate-papos com convidados(as)(es) de diferentes áreas de pensamento, de atuação e de origem, colocando diferentes perspectivas para discutir em torno da temáticas-chave de cada bimestre – natureza, amor, rua ou corpo.
Sempre trazendo diversidade de vozes e lugares, cada ciclo vai contar com três podcasts. O primeiro ciclo Fabulações da Natureza já está em produção, com episódios protagonizados por José Augusto Pádua, Déborah Danowski e Dona Liça Pataxoop.
José Augusto Pádua é historiador ambiental e um nome referência na discussão sobre o mito do Brasil natural. No podcast, o historiador vai demonstrar como a ideia de que os recursos do país tropical são intermináveis é infundável e deve ser refutada para que possamos evoluir nas discussões ambientais brasileiras. Já a filósofa Déborah Danowski vai conversar sobre seus estudos acerca do negacionismo das mudanças climáticas e o perigo em torno disso. Dona Liça Pataxoop, educadora e liderança do povo Pataxó, por sua vez, vai abordar a cosmologia indígena em mitos sobre o fim do mundo e a emergência climática.
O nome do podcast “É cultura?” é um chamado ao debate. Natureza é cultura? Amor é cultura? E o corpo? E a rua? Esses questionamentos vão perpassar todos os episódios, porém sem oferecer soluções e sim convidando à formulação de novas perguntas e imaginando novas respostas. Isso é, possibilitar arejar nosso campo imaginativo com as fabulações sobre nós mesmos e o ambiente que nos cerca.
Por último, no quesito da reflexão, será produzido um texto crítico, a fim de compartilhar as questões e os conhecimentos revelados ao longo do ciclo. O primeiro material será de autoria da escritora Julie Dorrico, descendente indígena do povo Macuxi e doutoranda em Teoria da Literatura – a atividade fará parte das Fabulações da Natureza.