Natal Raízes Gerais: conheça a árvore de Natal do BDMG Cultural
Com elementos do cerrado mineiro, a árvore traz uma nova forma de se enxergar as celebrações de fim de ano
A partir do fim de outubro e início de novembro, já é possível ver decorações de Natal pelas cidades. Lojas colocam as luzes em seus espaços e anunciam a venda de produtos para a festividade. Além das luzinhas, outros enfeites, como as guirlandas e bonecos de Papai Noel, são colocados nas vitrines, assim como o pinheiro, árvore símbolo dessa festa. A ideia é emular o clima de Natal que vemos em outras partes do mundo, marcados pela neve caindo dos céus.
Porém, será que esse Natal representa o território brasileiro? Faz sentido trazer elementos de outros países para um Brasil tão rico e diverso culturalmente? Que Natal é esse que é mostrado nas diferentes mídias? Foi pensando nessas questões que o produtor e gestor cultural, integrante do coletivo Cine Barranco, Gley Motta, e a arquiteta e integrante do coletivo Às Margens, Isabela Izidoro, trouxeram uma outra proposta de natal. Na Varanda do BDMG Cultural está uma árvore que fala sobre o Geraes, as regiões Norte e Noroeste de Minas e que apresenta o Natal Raízes Gerais.
“Se Natal é um momento de partilha e o Sertão é abundante, é criativo, a gente pensou em trazer toda essa abundância para essa concepção do Natal”, explica Gley Motta.
A árvore, uma fruta-de-lobo, é seca e tortuosa, decorada com frutos de tamboril e tamarindo, característicos do cerrado mineiro. Outros elementos nos galhos são sinos de cabra. Na parte de baixo, na base da árvore, estão dispostos outros frutos do cerrado como o pequi, o baru e o coco babaçu.
A ideia é, também, ressaltar toda a dinâmica que está relacionada aos frutos e as comunidades. Dessa forma, a extrativista extraindo o pequi, peça feita por Carlos Roberto, artesão da Comunidade Quilombola de Palmeira, de Pedras de Maria da Cruz, representa essas relações existentes nesse território criativo, que estão ligadas a cultura alimentar, ao extrativismo sustentável e a geração de emprego e renda. “Em um território criativo, você alimenta, mas você faz o artesanato com uma fibra de buriti, por exemplo. Com o buriti, se faz o doce de buriti, a farinha de buriti e o óleo de buriti. Você também faz artesanato e utiliza como utensílio doméstico”, comenta Gley. Para ele, esses saberes se encaixam na mineiridade presente dentro do estado, uma vez que toda essa teia faz parte de uma diversidade de saberes e manifestações presentes na região Norte, saberes ancestrais e que são identidades de diversas comunidades.
Os outros elementos que compõem a árvore do Natal Raízes Gerais potencializam ainda mais esses fazeres e culturas tradicionais. O feijão crioulo, produzido no Quilombo de Alegre, em Januária, e diferentes tipos de ervas representam técnicas, medicinas e ciências ancestrais e geracionais. A peça dos tocadores, moldada pela artesã Vanuza, mostra as relações com o barro e trazem a festa como uma característica daquele território.
Segundo Gley Motta, são formas de pensar uma Minas que se mostra um pouco distante da capital, mas que carregam manifestações artísticas e culturais de um povo. “É uma questão de ser e existência. Isso é identidade, diz de como um ser se relaciona consigo mesmo, com os outros e com o seu meio, com o seu espaço. E foi isso que buscamos trazer aqui”.
O produtor cultural ressalta que esse olhar para o extrativismo sustentável diz também sobre a conservação do cerrado: “Um extrativista de pequi não vai tirar o pequi todo do pé e não deixar para o passarinho e nem deixar o fruto cair lá para a reprodução, porque aquele pé que está lá vai morrer, a natureza irá agir naturalmente. É uma relação sustentável, eu tiro para mim e para os meus, mas eu deixo também para os outros seres”.
A soma de tudo isso é uma instalação que dialoga com o Geraes e que traz esse território para um espaço diferente, auxiliando na desconstrução de um imaginário coletivo que se tem sobre a região. “As pessoas desconhecem, não sabem que há um território criativo, com diversas linguagens artísticas. Existe um outro lugar que não é pobre. Ele é rico, é abundante, tem vida, tem festa. Tem muito trabalho, muitas pessoas trabalhando”, aponta Gley.
E o território criativo também está presente na mostra Bordados da Terra e do Céu, em cartaz na Galeria de Arte BDMG Cultural, que reúne bordados de dois grupos de artesãs do Vale do Jequitinhonha: Bordadeiras do Curtume e Mulheres da Ponte, com peças carregadas de simbolismos e que narram um cotidiano regido pela ancestralidade, por saberes passados de geração em geração e pela força e beleza do modo de viver das bordadeiras.
Em um território que não é delimitado por fronteiras geográficas, o vínculo com as bordadeiras do Jequitinhonha se dá pelos saberes, como o fazer com o barro ou o próprio extrativismo sustentável.
“Elas bordam toda uma relação com o território. Tem um bordado que ela coleta no algodão. Que que é isso? É o extrativismo. Ela representa toda uma dinâmica social de um território, dos seus”, explica Gley que quer presenciar o momento em que as mestras artesãs enxergarão a árvore feita por ele e por Isabela Izidoro.
A árvore do Natal Raízes Gerais integra a programação especial Natal da Mineiridade, do Circuito da Liberdade e da Secult, e pode ser visitada a partir do dia 15 de dezembro, às 19h, na Varanda do BDMG Cultural, que fica ao lado da Galeria de Arte. A visitação é gratuita e ocorre diariamente, das 10h às 18h, até o dia 6 de janeiro de 2023.