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Mostra para celebrar 35 anos

A partir do dia 15 de dezembro, a Galeria de Arte BDMG Cultural apresenta a exposição “Não sou idêntica a mim mesma: mulheres no acervo do BDMG Cultural”, que parte do rico acervo artístico do local.

O recorte curatorial da exposição buscou focar nas obras de artistas mulheres que expuseram no BDMG Cultural nos últimos cinco anos, em um diálogo com as dezenas de obras dos anos anteriores. A escolha por analisar a coleção por este ângulo revelou o protagonismo feminino presente no acervo desde os primeiros anos. Iniciado em fins da década de 1980, a coleção abriga mais de 270 obras, compondo, assim, um panorama diverso da produção artística contemporânea.  

A frase “Não sou idêntica a mim mesma”, da poeta Ana Cristina César em Poema Óbvio, funcionou como guia da curadoria, como um dispositivo para refletir sobre e apresentar a diversidade da produção feminina no Brasil. O objetivo é abordar essa diversidade em termos de materiais, suportes, temas e expressões artísticas, sem realizar uma curadoria restritiva sobre o que se define como arte de mulheres. “O feminino aqui apresentado não existe em essência, é um feminino plural em constante construção, que questiona, inclusive, as fronteiras naturalizadas de feminino e de masculino em nossa sociedade. São artes feitas por mulheres cis, trans, que acionam memórias de brasis plurais das diversas regiões de Minas”, ressalta Rita Lages Rodrigues, curadora da exposição. 

O trabalho de curadoria foi possível graças à interlocução dos documentos escritos com as obras artísticas e também com os funcionários do BDMG Cultural que, ao longo das décadas, se dedicaram à preservação cuidadosa dessa história. Foram selecionadas 51 obras, algumas de autoria de duas ou mais artistas, para integrarem a mostra, entre pinturas, cerâmicas, vídeos, desenhos figurativos e entre outros formatos. Artistas que realizaram suas primeiras exposições individuais na instituição e hoje são relevantes no cenário das artes em todo o Brasil compõem a seleção, como Efe Godoy e Sonia Gomes. Essa presença reforça o incentivo histórico do BDMG Cultural às artes visuais. A instituição abre portas para artistas em início de carreira desde o princípio.

Os outros grandes nomes das artes visuais selecionados são: Solange Botelho e Sara Ávila; Luciana Radicchi, Lorena D’Arc, Vânia Barbosa, Emilia Sakurai, Aneli Brandão, Laila Kierulff, Bordadeiras do Curtume, Mulheres da Ponte, Liliza Mendes, Erli Fantini e Lira Marques ; Mariana Fonseca Laterza, Eliane Roedel, Iara Ribeiro, Poliana Nascimento, Isabel Rodrigues, Jade Liz, Márcia Guimarães, Lucimélia Romão e Jéssica Lemos, Yanaki Herrera, Ana Luiza Magalhães, Isabela Prado, Eugênia França, Massuelen Cristina, Efe Godoy e Priscila Rezende, Mônica Sartori, Esther Az, Maria do Carmo Freitas, Duo Passagens Móveis – Maria Vaz e Bárbara Lissa, Clarice G. Lacerda, Maria do Céu Diel, Camila Otto, Cristiani Papini Arantes, Juliana Gontijo e Tatiana Cavinato, Priscila Heeren, Carolina Botura, Sônia Gomes, Virginia Braccini, Lauren Marinho, Ana Maria Braga, Sara Lambranho, Sabrina Azevedo Hemmi, Noemi Assumpção, Rosceli Vita, Edna Moura, Niura Bellavinha e Sara Lana.

Mulheres nas Artes e no Acervo do BDMG Cultural

Em 1972, Linda Nochlin publica o texto “Por que não houve grandes mulheres artistas?”, considerado um grande marco para o início do debate sobre a presença feminina na área. Desde o século XIX, uma revolução, por vezes silenciosa, por outras nem tanto, já começava a tomar corpo a partir da presença de mulheres artistas em academias e escolas livres de arte, como amadoras e, principalmente, como profissionais.

A produção artística é mais uma das atividades, historicamente, desencorajadas para o gênero feminino. Para ingressar nesse mundo, as mulheres rompem barreiras, mostrando que são capazes de produzir a partir dos códigos e formas existentes, mas também trazendo formas próprias de existência e expressão criativa. Enxergando esse contexto, em novembro, o BDMG Cultural promoveu o 2º Simpósio Mulheres na Música, buscando não só trazer a realidade das mulheres na música brasileira, mas também uma vertente proativa, de formação e promoção de trabalho em rede. 

O acervo da instituição vai em sentido contrário à comum presença majoritária de obras de autoria masculina nas coleções. No final de 2023, das 278 obras, 143 são de mulheres, ou seja, mais da metade, o que reforça o compromisso do BDMG Cultural com as multiplicidades artísticas. A instituição, ainda, abre portas para artistas em início de carreira, incentivando a produção em Minas Gerais e no Brasil. A exposição, assim, celebra essa história de preservação e de incentivo à arte produzida por mulheres, em suas diversas existências e identidades.

Compromisso com a preservação

O ato de colecionar é um ato de recortar partes de um mundo existente e selecionar o que dele se pretende deixar em um determinado espaço, fomentando a existência desses objetos por um tempo estendido. Ao longo dos 35 anos, percebe-se a constante profissionalização do BDMG Cultural e o compromisso em ampliar de forma organizada o seu próprio acervo. As obras doadas que constituem a coleção se originam especialmente dos editais do Ciclo de Mostras, realizados anualmente desde 2001.

Nos próprios editais, já está prevista a doação de um trabalho escolhido pelo artista, em diálogo com a equipe da instituição. A pesquisa conjunta no acervo documental e no acervo artístico, realizada pela equipe responsável pelo recorte curatorial da exposição,  mostrou como o programa expositivo foi aprimorado. Outra parte importante, refletindo sobre o significado do BDMG Cultural em termos de incentivo às artes em geral, não somente às artes visuais, são os prêmios dedicados à música, que, ao longo dos anos, contemplaram várias artistas mulheres cujas obras também estão na exposição comemorativa.

Núcleos da exposição

A seleção das obras se deu a partir de uma curadoria composta por quatro núcleos. No primeiro núcleo, Arqueologia, homenageiam-se as que vieram antes a partir das obras de duas artistas da geração Guignard, Sara Ávila e Solange Botelho, mulheres artistas que abriram caminho para que outras pudessem trilhar sonhos e existências. As vozes do passado e as possibilidades de futuro se apresentam em formas de femininos plurais.

No núcleo Terra, o foco é na cerâmica, pigmentos e barro. As obras atravessam a arte popular e arte contemporânea, questionando os limites das classificações canônicas na História da Arte. O barro do núcleo Terra se mistura ao núcleo Corpo e corporalidades, a partir de cerâmicas que mostram a terra transformada pela ação humana criativa, não predatória, criando novas formas e expandindo para imagens fotográficas que mostram a paisagem, compreendida em seu sentido humano e natural. Em oposição à ideia de que Minas não há mais, importa mostrar que Minas são muitas. As corporalidades diversas, femininas, masculinas, de crianças, mulheres e homens são expressas no corpo-carne, na terra-corpo, na cidade-corpo. 

Por fim, em Múltiplas matérias, múltiplas formas, pinturas, objetos, vídeos e desenhos figurativos e abstratos trazem a forma, a imaginação, o sonho, a existência plural de mulheres no mundo.

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