Fabulações da Natureza

A invenção de uma outra natureza

Oficina online com Stela Barbieri

Stela Barbieri
26 Mai 2021 3 Min

Nesse curso nos propusemos a investigar outras possibilidades da invenção da natureza de nós mesmos, inspirados na perplexidade que os seres vivos nos trazem. Em nosso olhar e percepção se encontram entrelaçadas as diferentes áreas do conhecimento. O contato com as manifestações do vivo, nos convida a um mergulho em um universo complexo e interdependente sempre em transformação, que nesse momento nos convoca a respeitá-lo com atenção.  

Emanuele Coccia nos fala que o mundo se faz na mistura e da mistura. Assim podemos pensar que somos feitos da mistura de tantos outros seres vivos. Essa mistura compõe Gaia, que Lovelock definiu como “uma entidade complexa que inclui a biosfera, atmosfera, oceanos e a terra, constituindo na sua totalidade um sistema retroalimentado que busca um entorno físico e químico propício para a vida no Planeta”. A riqueza e complexidade de todas as naturezas em convívio ativam nossa imaginação, como pudemos ver no filme “Acera, ou a dança das bruxas” de Jean Painlevé, no qual, observando a graça e leveza com que dançam os moluscos nas águas, somos convidados a uma dança flutuante. Que devires o vivo nos convoca?

Ao nos relacionarmos com os seres vivos, fomos nos dando conta da força e da forma que cada elemento que compõe o vivo tem, trazendo potência ao sistema do qual faz parte. Os insetos foram alguns dos seres aos quais nos aproximamos nesse trabalho, observando suas diversidades de antenas, patas e corpos, e os propósitos que cada parte tem na constituição desse todo. 

Nos propusemos a buscar manifestações do vivo que nos causam perplexidade e por meio destas investigações, ativarmos nossa invenção de outros seres que poderíamos imaginar a partir de nós. A proposta de invenção de uma outra natureza levou em consideração os processos de metamorfose pelos quais o vivo passa. Por que transformações passaria este outro ser vivo derivado de camadas de nós mesmos?

Muitas vezes as transformações dos seres vivos são invisíveis aos nossos olhos e nos processos que construímos no cotidiano. A superfície de um corpo nem sempre manifesta os acontecimentos e transformações que se dão dentro dele, mas comunica indícios, sintomas. Percebemos as constituições do mundo pensando a complexidade do sistema vivo. Frequentemente trabalhamos com as texturas, na escola, como se fossem só as superfícies das materialidades do mundo, mas as texturas expressam a constituição das coisas, são a expressão externa de uma complexidade interior que se manifesta de modo singular na superfície. A respiração entre o interno e o externo é um movimento potente para a aprendizagem, para a invenção, a imaginação, a fabulação, para nossa vida. Estamos falando da transformação da forma, que não é só a aparência, não é só a textura, não é só o lado externo, mas é tudo que constitui e se movimenta naquele corpo como força.

Esse ateliê de invenções levou em conta o ecossistema fundante deste ser vivo com todos os atributos que o compõe. A partir disso, elaboramos em conjunto um dicionário de seres imaginários, e com os materiais do dicionário, construímos máscaras dos seres vivos inventados. 

O que surgiu dessas pesquisas e investigações está presente na publicação elaborada por nós, que pode ser acessada através dos links abaixo:

A invenção de uma outra natureza – Versão para leitura online

A invenção de uma outra natureza – Versão para impressão em casa

Convidamos cada leitor e leitora a inventar uma outra natureza para si!

Stela Barbieri

 

é artista, contadora de histórias, autora e educadora. Dirige o binåh espaço de arte, um lugar de educação e invenção. Foi diretora da ação educativa do Instituto Tomie Ohtake em São Paulo, e curadora educacional da Fundação Bienal de São Paulo. Assessora na área de arte e educação para várias escolas e museus em diferentes Estados do país, e já publicou materiais educativos para diversas instituições culturais.