Manejando sombras

“Gesto de proteção”. Fotografia digital. 2021.

Quis fazer dessa pesquisa carapaças.

Ao pesquisar sobre o que significaria criar carapaças, descobri que essa estrutura, em alguns animais, é formada, sobretudo, de queratina. Quanto mais queratina, mais rígida é a carapaça. Além disso, descobri também que a carapaça pode ser composta de múltiplas peças, fundidas ou não entre si, criando estruturas de formas diversas.

Nas lavouras de café, quando tinha 12 anos, Maria Aparecida da Silva me disse, por ligação, que ali próximo da Fazenda Paraíso havia trabalho para a família. Disse ainda, que via sua mãe cobrir-se com uma calça e depois uma saia longa, uma blusa, as vezes luvas; e sempre, um lenço para colocar na cabeça. Perguntei “que cor?”, ela respondeu “azul”.

Perguntei “que cor?”, ela respondeu “azul”.

 

“Experimentando EPI’s na loja”. Grafite e lápis de cor em papel vegetal. 21 x 14 cm. Washington da Selva. 2021.

Saí cedo no sábado, pedi que De Simone não se atrasasse se quisesse me acompanhar, pois queria pegar aquela loja aberta. Era uma loja dessas de produtos rurais. Eu sempre fui doido pra entrar ali e poder ver algumas coisas. Finalmente, poderia me vestir de algumas peças, ainda que o atendente insistisse em saber o que eu estava procurando pra apressar seu trabalho.

Conversei com De Simone sobre a vontade de criar uma peça em grande formato, utilizando sombrites, toucas e luvas, onde as pessoas pudessem se vestir e mover um corpo coletivo que criasse sombras. Em resumo, o sombrite é um tecido que projeta sombra, um elemento muito presente na paisagem de onde vim, ao ver este tecido esticado no viveiro de mudas de café montado por minha mãe e meu pai. O resgate em memória do uso deste material,  me dá vontade de desenvolver dispositivos coletivos de expansão da sombra. Também, essa vontade surge ao lembrar de conversas com pessoas familiares, e ao perguntar à elas do que se protegiam, a maioria respondia “do sol”.

… ao lembrar de conversas com pessoas familiares, e ao perguntar à elas do que se protegiam, a maioria respondia “do sol”.

Como expandir sombras?

Tenho percebido que os materiais, de alguma forma, tem conduzido parte destes processos. Em sua maioria, são materiais de uso rural que eu sempre convivi. Objetos, imagens, acessórios, que nestes 7 anos que estive ausente de minha casa natal (Carmo do Paranaíba – MG), se fizeram presentes em minhas narrativas.