Luba / Artur Ranne /

Amor, verdade, inquietação

A verdade tem estrutura de ficção.

 

Este é, talvez, o aforismo provocativo que conseguiu alinhavar as contas e os búzios qu’eu estive jogando ao vento nos últimos meses neste espaço que inventamos coletivamente. Recentemente, estive ausente. Ausente d’alma, ausente de formas que não cabem no significante e que não sou sujeito o suficiente pra fazer significar. Estive ausente d’aquele tipo de ausência que paralisa e que te posiciona no nada por um tempo – o tempo, sim, definido – e que permite observar o Real sob novos ângulos.

Agora voltei e falarei mesmo sobre a minha volta em breve, mas agora falo d’ausência tão somente. E, n’ausência, me foi proposto um desafio (que, em retrospecto, pode ter sido, ele mesmo, um dos motores da volta – veja que pedregulho serendipitioso pelo caminho) qu’entra agora em meus esforços infindos de dar sentido à hiância como uma excelente contribuição ao movimento. Talvez, eventualmente, algum fragmento de saber se tornará cognoscível a vocês que acompanham esta novela. Talvez, permaneceremos apenas no campo da verdade – o que exigirá de vocês um esforço em favor do qual já venho admoestando há algum tempo, sutilmente, nas entrelinhas, para os que sabem ouvir.

 

Por enquanto, portanto, “eu, a verdade, falo” pela voz de Outro: não há Outro do Outro. Fiquemos, pois, com um primeiro momento de uma ficção, que, espero eu, vocês sejam capazes de encontrar em outros fragmentos aqui, em nosso espaço inventado. Eu volto já, eu já voltei!

 

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É difícil escrever sobre uma coisa que você não sabe o que é. Um desafio, sem dúvidas. E aqui estou eu, escrevendo sobre algo que eu não sei o que é. Outras pessoas sabem, parece; muito se fala disso que eu não sei dizer. Acho que não sei dizer porque não sei reconhecer exatamente como é que se sente isso, que todo mundo parece sentir muito bem, muito claramente, mas em mim é meio confuso. Verdadeiro, intenso e tal, mas confuso. Veja só, você existe. Você, aí existindo e eu cá existindo também, cada um da sua forma única de fazê-lo etc. etc. E aí, de repente, eu percebo que por aqui algo está fora do lugar. E aí vou percebendo que, na verdade, está é tudo fora do lugar. Veja bem, eu tenho minhas formas de ver o mundo, de ser (n)o mundo. Daí, quando fica tudo fora do lugar, o que resta pra eu ser? Percebe? Eu acho que não, acho que eu estou falando sozinho, mas eu sempre acho isso, então talvez dessa vez não seja.

Vou tentar organizar, porque afinal é disso que eu estou falando.

Você está aí existindo e eu me desorganizo. Sabe? É isso, não sei mais outra forma de dizer. Lembrar de você, pensar em você, entrar em contato contigo de alguma forma, qualquer forma, me desorganiza. As coisas ficam fora do lugar e algo começa a pulsar de um jeito… de um jeito que não sei adjetivar porque é um jeito muito jeito! E aí as pessoas têm essa palavra e usam muito essa palavra e eu fico pensando se é isso que é sentir essa tal coisa, mas eu tenho meio que medo de usar essa palavra porque meio que sacralizaram ela…

Me disseram recentemente que é preciso “restituir ao uso comum aquilo que os dispositivos tornaram sagrados”. Essa é, portanto, uma carta de amor. Aqui e agora, é assim que eu sinto essa palavra, esse sentimento, essa coisa.

Essa é uma carta pra dizer que, entre eu e o amor, existe você.