Ação educativa – uma conversa entre vizinhos
Instituições culturais devem ser lugares coletivos, de sentido público, em que pessoas diferentes se reúnam em diálogo, extrapolando fronteiras e imaginando criativamente outras maneiras de ser e estar no mundo. É assim que o BDMG Cultural entende o seu papel dentro dessa rede potente e em movimento que é a cultura.
Cultura com princípio, fim e meio. Este é nosso posicionamento atual e perpassa as ideias de compromisso, propósito e processo.
Para cumprir esse mandato de interesse público, entendemos que novas alianças são necessárias neste momento. Alianças entre cultura e educação, aliança entre diferentes linguagens, alianças a favor do respeito, da diversidade e do direito à imaginação, ao conhecimento e a novas possibilidades de entendimento do mundo.
Por isso, para além dos prêmios, projetos e editais que já realizamos, estamos iniciando um ciclo de ações educativas que ampliam o diálogo em torno dos temas que sustentam a nossa programação.
E, porque queremos sempre fazer em diálogo, convidados o coletivo Micrópolis para estar conosco nesta jornada. Juntos, BDMG Cultural e Micrópolis, criamos conceitos e atividades para 2020.
A sede do BDMG Cultural está em Belo Horizonte, mas tudo que realizarmos por aqui será disponibilizado em nosso site e estamos abertos, sempre, para o diálogo com outros territórios. Estudantes, educadores, pessoas de todas as idades são bem vindos a construir conosco.
Veja abaixo, o texto do Micrópolis sobre o processo coletivo de criação de nossas ações.
Com quantas mãos se faz um educativo?
Micrópolis
Como estimular ainda mais a dimensão pública de uma instituição como o BDMG Cultural? Seria possível ampliar a participação do cidadão comum em seus debates e questionamentos? De que forma expandir o papel de um educativo para além dos formatos convencionais de mediação cultural? Em que medida podemos explorar a educação como uma plataforma para conectar diferentes modos de vida? Essas foram algumas das perguntas que surgiram a partir de nossa imersão conjunta –BDMG Cultural e Micrópolis – para a construção de ações educativas. Por meio de mapeamentos e levantamento de percepções, chegamos a denominadores comuns capazes de mobilizar os afetos coletivos necessários para o programa educativo. Um programa de caráter público, que promova conexões entre modos de vida, que seja praticado em diferentes escalas, e feito a muitas mãos.
Como primeira ação, construímos uma família de mobiliários e próteses espaciais para o BDMG Cultural, de modo a ampliar as possibilidades de uso do espaço, tornando a sua arquitetura mais polivalente e preparada para abrigar diversas atividades — sejam elas planejadas ou espontâneas.
Em um segundo momento, tomamos como ponto de partida a necessidade de articular as atividades previstas para 2020, bem como o desejo comum de abrir o BDMG Cultural para a cidade e trazer conhecimentos e tecnologias da vida cotidiana para seu interior, e chegamos a um tema central a ser abordado durante este ano.
Vizinhanças foi o termo escolhido para guiar as atividades educativas propostas pelo BDMG Cultural que, além de perpassar e estabelecer conexões entre os projetos, opera também como um objetivo a ser alcançado. De um ponto de vista geográfico, uma vizinhança evoca a contiguidade das casas, das ruas e das pessoas, uma proximidade espacial essencial para a constituição da experiência coletiva. Mas também implica em um gesto de aproximação: avizinhar-se é tentar tornar possível uma vida em comum, reconhecendo a importância das distâncias necessárias. Ao articular essa temática com as questões, projetos, discussões e pessoas envolvidos na programação do BDMG Cultural, buscamos estabelecer gestos de aproximação, lugares de compartilhamento e possibilidades de coexistência por meio do programa educativo.
“A partir do seu lugar, possivelmente, você perceberá o lugar do outro. Sua reação pode ser de quem reconhece uma ameaça, o mundo pode estar cheio delas; ou um vizinho, o mundo pode ser uma imensa vizinhança. Diante de uma ameaça, não há muito o que fazer, ou você foge dela ou você a enfrenta, geralmente com violência. Em uma relação de vizinhança, você negocia o que é comum, as aproximações e também as distâncias necessárias. Aqui, a vizinhança poder ser considerada o lugar que você mora, a cadeira do ônibus que você compartilha, a rua que você ocupa em dias de manifestação etc. Bom pensar que uma boa política de vizinhança deve partir de relações recíprocas. Bom acreditar que entre a guerra e a diplomacia colonizadora há outras relações de vizinhança possíveis. Em qualquer escala.”
Enrico Rocha
A fim de testar os possíveis e desejáveis avizinhamentos, propusemos uma série de ciclos bimestrais de ações educativas a serem realizados ao longo do ano, que irão girar em torno de subtemas comuns às atividades de cada bimestre, sempre articulados com a questão central das Vizinhanças.
Os dois primeiros meses se dedicam a discutir a relação de Vizinhanças com as imagens, buscando entender como a produção visual pode contribuir para formar novas vizinhanças. Ou, dito de outra forma, como as imagens podem participar dos desafios do viver junto, seja tornando visíveis territórios e formas de vida em comunidades dadas como inexistentes, seja criando possibilidades de compartilhamento e invenção de experiências coletivas. No segundo bimestre, por sua vez, abordaremos aproximações possíveis entre Vizinhanças e linguagem, buscando refletir sobre como a linguagem pode contribuir para a sobrevivência de comunidades periféricas, que não raro inventam formas de resistência e experiências coletivas. Os próximos ciclos estão em processo de definição e vamos contar em breve.
Cada ciclo bimestral é composto por três etapas:
(1) Realização de um momento aberto de encontro e discussão sobre a temática do bimestre, envolvendo convidadas e convidados artistas, ativistas, pensadores, mestres da cultura tradicional e cidadãos comuns cujas práticas e interesses perpassam as questões abordadas. Os momentos de diálogo serão registrados e posteriormente transformados em podcasts, acessíveis a um público mais amplo através do site do BDMG Cultural.
(2) Realização de uma ação de caráter público e inscrição gratuita, envolvendo o(a) artista da exposição em cartaz na Galeria BDMG Cultural e um(a) facilitador(a) cuja pesquisa ou prática dialoga com as questões abordadas. Essa ação pode tomar a forma de um jogo, uma oficina, uma visita mediada, uma sessão de cinema, entre outras atividades coletivas. Além do público espontâneo, para cada ação são convidados grupos específicos cujos interesses vão de encontro ao tema da ação, como professores, estudantes, pesquisadores ou coletivos da cidade.
(3) Produção de material de interesse público a partir dos registros das duas fases anteriores. Para essa etapa, convidaremos uma colaboradora ou colaborador para redigir um texto que compartilha com o público as reflexões, conhecimentos e questões reveladas ao longo do ciclo de ações, articulando a ideia de Vizinhanças com o subtema abordado em cada bimestre. Além do texto, serão publicados no site do BDMG Cultural relatos e imagens dos materiais produzidos no período de ações.
Esta é a contribuição do educativo para tornar o BDMG Cultural um espaço ainda mais plural de troca e acolhimento que promova diálogo, acesso e diversidade.
Veja como foi a primeira ação educativa.