Arte de costurar memórias
Antes do início da exposição A memória parada acerta três vezes ao dia, de Esther az, recebi alguns áudios da artista visual e ilustradora que me remeteram à música Movimento dos Barcos, composta por Jards Macalé. Não há relação entre a mostra da artista de Contagem, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte, com a canção do músico baiano; mas eu pensava nas imagens descritas – sendo uma delas um barco – a partir dos arquivos sonoros enviados. Neste espaço, vocês podem ouvir as narrações de Esther também.
Com afeto, delicadeza e potência, nesta exposição, a artista nos permite refletir sobre o silêncio e os ruídos do tempo e da memória – nos emprestando a sua história, mas que também assemelha-se a de muitas e muitos – por meio de pinturas, desenhos, objetos, bordados, vídeos, intervenções urbanas e registros de performances presentes na plataforma virtual mostrasbdmgcultural.org.
A inspiração para a exposição surgiu durante uma viagem e do desejo da artista em investigar a sua própria história. No começo de 2018, Esther fez um passeio ao sul da Bahia e visitou lugares próximos de onde chegaram as caravelas portuguesas e que marcou o início da colonização brasileira. “Estar em contato com essa paisagem tão carregada de mitos e que a gente aprende desde muito cedo, me fez voltar a pensar sobre essa questão histórica que, na verdade, foi um um assunto que sempre me interessou”, conta a artista.
Viagem à Bahia e a inspiração para a exposição. Ouça
O desejo de realizar a exposição acompanhou Esther por muito tempo e veio da vontade dela de criar uma ponte entre o livro de história com o álbum de família. A artista se debruçou na investigação das suas raízes e das lacunas de sua história.
“Esse mesmo desejo de criar uma ponte que possa ligar o livro de história com o álbum de família é também o desejo – ou tem suas suas raízes no mesmo lugar – de investigar minha cara. De onde vieram meus traços? Quem são os meus antepassados?”, explica Esther Az.
No lindo catálogo da exposição – disponível aqui -, a curadora Juliana Gontijo afirma que “a memória de Esther é desconforto e repouso, farpa e acolhimento. É o espinho por baixo da almofada. É acalanto na falha, leveza na insegurança, uma escrita volúvel do mundo”.
Esther az comenta sobre o processo criativo da mostra. Acompanhe
Além da plataforma virtual, a exposição também estava em cartaz na Galeria de Arte do BDMG Cultural, que fechou no início de março, seguindo as orientações das autoridades sanitárias diante do agravamento da crise da pandemia da Covid-19.
“Fazer essa exposição em meio à pandemia deixou tudo muito mais agudo. Acho que essa situação me fez pensar muito mais sobre o sentido do meu trabalho. O que isso traz de significado para o mundo? Que tipo de troca é possível estabelecer com o mundo? E que tipo de conversa faz sentido se ter neste momento?”, relata Esther az.
A artista fala da montagem da exposição em meio à pandemia. Confira
Esther az comenta o desafio do fazer artístico neste momento. Ouça
A memória parada acerta três vezes ao dia é a segunda exposição individual de Esther Az e integra o Ciclo Mostras BDMG 19/20. Além da exposição virtual, que continua em cartaz na plataforma exclusiva, a artista também utiliza o seu perfil no Instagram para registrar e contar as histórias de cada uma das obras presentes na exposição. Aqui você confere as imagens da montagem da exposição na Galeria de Arte feitas pelo fotógrafo Miguel Aun.
Assista ao teaser da mostra
