Um programa educativo sem fronteiras
26 Mar 2021 |

Um programa educativo sem fronteiras

Gabriela Moulin
26 Mar 2021 5 Min

Desde 2019, o BDMG Cultural vem trabalhando formas de ampliar o espectro do que entendemos como ação cultural ou como sendo o papel de uma instituição cultural. Para além do fomento e da promoção das linguagens artísticas, que são fundamentais, entendemos a cultura como parte constitutiva e inter-relacionada com todos os setores, pensamentos e possíveis projetos de desenvolvimento que envolvem a vida e a sociedade.

Entendemos ainda que instituições culturais devem ser lugares coletivos, de sentido público, em que pessoas diferentes se reúnam em diálogo, extrapolando fronteiras e imaginando criativamente outras maneiras de ser e estar no mundo.

Cultura com princípio, fim e meio. Este é nosso posicionamento atual e perpassa as ideias de compromisso, propósito e processo.

E para cumprir esse mandato de interesse público, entendemos que novas alianças são fundamentais neste momento. Alianças entre cultura e educação, aliança entre diferentes linguagens, alianças a favor do respeito, da diversidade e do direito à imaginação, ao conhecimento e a novas possibilidades de entendimento do mundo.

Neste sentido, a relação entre a cultura e a educação – também entendida como um grande campo para além da educação formal – torna-se protagonista a partir de nossa premissa de que há muito o que se expandir no entendimento da cultura e das relações sociais que a envolvem.

Por isso, criamos em 2020 um Programa Educativo para o BDMG Cultural e o idealizamos como uma instância que se deixaria permear por nossos compromissos públicos e nossos programas e também iria além, explorando novas fronteiras do conhecimento e olhando para as questões contemporâneas que emergem na sociedade.

Totalmente afetado (no sentido dos afetos e da influência) pela pandemia da Covid-19 que chegou em março de 2020, exatamente no mês em que inaugurávamos o programa, tivemos que renovar formatos e repensar ações. E tudo isso nos levou a criar redes e atividades que nos desafiam e nos mostram novos caminhos a cada dia.

Nossas diretrizes principais sempre foram as de dialogar com múltiplas vozes e saberes; desenvolver ações que fossem de interesse público; nos aproximarmos dos educadores que são grandes multiplicadores de conhecimento; e atuar de maneira a contribuir para uma ampliação de repertórios.

E assim veio o trio – composto por podcasts, oficinas e textos reflexivos – que compartilhamos com o público a cada trimestre. Sempre com um tema transversal que nos conduz a cada ano.

Em 2020, antes mesmo da crise sanitária,  já anunciávamos Vizinhanças como tema do ano. De um ponto de vista geográfico, uma vizinhança evoca a contiguidade das casas, das ruas e das pessoas, uma proximidade espacial essencial para a constituição da experiência coletiva. Mas também implica em um gesto de aproximação: avizinhar-se é tentar tornar possível uma vida em comum, reconhecendo a importância das distâncias necessárias. E este gesto gerou diálogos e produtos incríveis que é possível acessar aqui.

Em 2021, avançamos em forma e conteúdo. Nosso ano será dedicado às Fabulações. Em abril, lançaremos a temporada 5 de podcasts, dentro do Spotify agora, em nosso programa “É cultura?”. Além disso, já estamos realizando oficinas com educadores da rede pública de educação de Minas Gerais e temos muito pela frente.


Mas por que Fabulações? 

Junto com nosso parceiro – o coletivo Micrópolis – pensamos que talvez este seja o mais importante para o agora: imaginar novas histórias e futuros para nós. O que fazer diante de desequilíbrios climáticos, processos de destruição da biodiversidade e crescimento exponencial da intolerância que repercutem em nossa vida ainda regulada pela pandemia de COVID-19? Como deveremos nos portar após tantos meses vivendo em um mundo socialmente isolado? Como, enfim, pensar no depois se o agora reclama a urgência da nossa atenção? (Sobre isso ainda teremos muito mais em 2021, promovendo diálogos, programas e editais diversos que envolvem cultura e os objetivos do desenvolvimento sustentável). 

Frente a tantas incertezas, é difícil vislumbrar saídas. Mas é justamente a incapacidade de prevermos o que virá que nos demanda cravarmos os pés no presente, e nutrirmos, no agora, aquilo que queremos compartilhar em nossos futuros. É preciso, sobretudo, “repovoar o deserto devastado de nossa imaginação” (como nos explica a filósofa da ciência Isabelle Stengers), especulando juntas e juntos a possibilidade de contarmos novas histórias sobre nós mesmos, sobre nosso tempo, e sobre os tantos mundos que nosso mundo abriga.

Como escreveram recentemente os editores da revista Climacom em diálogo com o trabalho da filósofa norte americana Donna Haraway, fabular não é acreditar em contos de fadas onde tudo é possível, mas “criar, conectar e conversar por histórias e paisagens, considerando as múltiplas conexões entre ficções, ciências e experiências vividas, unidas enquanto narrativas sobre (e no) mundo”.

Nos próximos meses, realizaremos quatro temporadas de ações educativas a partir do universo das Fabulações, por meio de oficinas, podcasts, textos e imagens que irão nos ajudar a compartilhar outras histórias e tecer possibilidades de futuro. Todos estão convidados a confabular conosco!

  • Fabulações da natureza – em abril, com podcasts com a filósofa Debora Danowski; o historiador ambiental José Augusto Pádua e a liderança indígena Dona Liça Pataxoop; além de oficina com a artista e educadora Stela Barbieri.
  • Fabulações do amor – aguarde para quando junho chegar! Porque amor também é cultura!
  • Fabulações da rua  – e a rua? É cultura? Em agosto vamos conversar sobre.
  • Fabulações do corpo – Corpo é cultura? Conversa para outubro!