Diversidade e representatividade
22º Prêmio BDMG Instrumental para Igara, Ana Clara Guerra, Camila Rocha e Juventino Dias. Foto: Daniela Paoliello
12 Jun 2023 |

Diversidade e representatividade

Conheça as vencedoras e o vencedor do 22º Prêmio BDMG Instrumental

A grande final da 22ª edição do Prêmio BDMG Instrumental aconteceu no último fim de semana de maio, no Teatro Sesiminas, em três dias de evento, com a premiação dos músicos vencedores nas diversas categorias da premiação. Os grandes vencedores da noite foram os artistas Juventino Dias (trompete), Igara (piano), Camila Rocha (contrabaixo) e Ana Clara Guerra (violão), que levaram para casa o troféu principal. Eles receberam uma premiação no valor de R$ 13 mil, além disso, os vencedores farão dois shows cada com direito a convidado, um em Belo Horizonte, no CCCBB, e outro em SP, no programa Instrumental Sesc Brasil.

Também foram premiados alguns destaques que passaram pelo palco da finalíssima, sendo que cada vencedor ganhou R$ 4 mil. Para os destaques foram levados em conta todos os músicos que se apresentaram entre os dias 26 e 27 de maio, tanto os finalistas quanto músicos acompanhantes que integraram suas bandas. O melhor arranjo foi para Luiz Camporez, com a música “Milagreiro”, de Djavan. Foram escolhidos como dois melhores instrumentistas das apresentações Jack Will (bateria) e Gilson Brito (violão). Já a categoria estreante, revelação do ano, foi para Luadson Constâncio (piano acústico e rhodes).

O presidente da comissão de seleção, o compositor, arranjador e contrabaixista, Marcos Paiva, destacou que foi uma tarefa difícil a escolha diante da alta qualidade dos concorrentes, mas que o resultado retrata a diversidade presente em todo o processo do prêmio.

“Estamos em 2023, vivemos um momento mundial e brasileiro em que precisamos contemplar e olhar com empatia uma série de questões que discutimos politicamente e que tem também representação e grande importância nas artes. De alguma forma o resultado  conseguiu abraçar tudo isso, tendo como norte a música produzida por todos os artistas em suas apresentações. O BDMG Instrumental é um dos prêmios mais importantes do Brasil hoje, pela sua longevidade, e também pela qualidade do trabalho da produção musical dos inscritos”, destacou Marcos Paiva.

Fizeram parte da comissão julgadora também Fernando Oliveira Viana, Técnico da área de música da Gerência de Ação Cultural do SESC SP; Maria Teresa Madeira, Pianista, compositora e professora da UNIRIO – Universidade Federal do Rio de Janeiro; Mariana Peixoto, Jornalista do jornal Estado de Minas; Marta Castelo Branco, Flautista e Professora da Universidade Federal de Música de Juiz de Fora; Paulo Henrique Silva, Jornalista do jornal O Tempo; Pérola Braz, Programadora cultural do SESC Pinheiros; Vera Figueiredo, Compositora, baterista, professora no IBVF Brasil.

O presidente da comissão de seleção, o compositor, arranjador e contrabaixista, Marcos Paiva. FOTO: DANIELA PAOLIELLO

Gustavo Mitre, presidente do BDMG Cultural, agradeceu a participação de todos que fizeram inscrições, incluindo os finalistas e premiados.

“Se não fossem os artistas participarem com um grau elevado, esse prêmio não seria o que ele é, então esse sucesso tem a participação de todos. A cada dia que passa, a convivência com os servidores ou com artistas, a gente sente a importância do BDMG instrumental, não apenas para o cenário mineiro, mas também para o cenário brasileiro. Conversando com jurados de fora do estado, a consideração é que é o maior e melhor prêmio instrumental da nossa música. Estamos no caminho certo, vamos amplificar e fortalecer este legado”, afirma o presidente.

Vencedores e apresentações

Entre os dias 26 e 27 de maio, os doze finalistas da categoria instrumentistas se apresentaram no Teatro Sesiminas. Ao fim dos concertos no sábado, a comissão de seleção classificou seis músicos para a finalíssima, que aconteceu no dia 28 de maio. Entre os nomes classificados estavam Juventino Dias (trompete), Igara (piano), Camila Rocha (contrabaixo), Ana Clara Guerra (violão), Ravi Kefi (piano) e Gilson Brito (violão), que apresentaram músicas inéditas e releituras de obras consagradas.

Em sua apresentação, Juventino Dias levou para o palco a sonoridade e influências da cultura afro diaspórica. Como integrante de Reinado e religioso, trouxe o ritmo do congado mineiro e das músicas das religiões de matrizes africanas. Ele destacou a importância da valorização da sabedoria dos mestres e mestras da cultura popular e tradicional, ao celebrar sua premiação a relevância de defender composições que fazem parte de sua história.

“Estar no palco do BDMG Instrumental, que é uma forma de valorizar os músicos instrumentais, e poder ser contemplado para fazer shows aqui em BH e no SESC Instrumental é muito importante para nós que defendemos uma música alicerçada nas tradições afro mineiras e afro-indígenas. É tão importante enquanto um ato artístico e político, estar entre os finalistas e ser contemplado por esse prêmio, e por poder mostrar minha música pro restante de Minas e do Brasil”, afirmou o artista.

A premiação contou com número recorde de mulheres compositoras, sendo três mulheres entre os 12 finalistas, que por fim também figuraram entre as grandes vencedoras do prêmio. A artista Igara (piano), natural de Diamantina, mostrou em sua apresentação as habilidades de quem tocou sua primeira música no piano aos 2 anos de idade. Ela destacou a felicidade de estar entre as premiadas.

“Na sexta já foi uma alegria inexplicável. Hoje voltando como finalista só renovou essa alegria. Ter mulheres na música instrumental é importante para se discutir sobre a presença feminina tanto na música instrumental quanto na composição. Eu dividi o palco com mulheres que são referências pra mim e que colaboraram para que eu estivesse aqui hoje como compositora”, destacou a premiada.

A contrabaixista Camila Rocha mostrou a influência da música mineira e do samba de roda em suas obras, fazendo também uma homenagem a Sérgio Pererê em um de seus arranjos. Ela já tinha participado algumas vezes acompanhando outros compositores, e esta foi a primeira vez que esteve no palco como compositora.

“Teve um gostinho especial, é um palco muito importante e a gente vai vendo o quanto é necessário termos iniciativas como essa do BDMG Cultural, que fomenta tanto nossa cultura e que coloca a gente pra ir cada vez mais pra frente. Várias vezes que toquei aqui eu era a única mulher no palco, eu e mais uma… e ver mais mulheres chegando é emocionante. Batemos um recorde de 3 mulheres entre as finalistas, mas espero que venha cada vez mais”, celebrou.

A vencedora, Ana Clara Guerra (violão), natural de Uberlândia, levou para o palco composições que retratam a infância no interior assistindo aos desfiles de congado e a influência do choro em sua música. Ela destacou a importância do prêmio para se firmar enquanto compositora.

“Foi sensacional, coração cheio de subir no palco com outras duas mulheres que estavam competindo, e o prêmio é um incentivo para continuar. Foi um processo muito árduo e fiquei muito feliz de participar ao lado de amigos que me acompanharam no palco e por todas pessoas novas que conheci aqui na premiação”, comemorou.

Outras premiações

Na última noite, dia 28 de maio, também foram entregues o Prêmio Flávio Henrique, teve pela primeira vez a consagração de dois álbuns, sendo eles das artistas Augusta Barna, com o álbum “Sangria Desatada”, e Nath Rodrigues, com o álbum “Fio”, como os melhores álbuns de canção autoral mineira lançados em 2022. Elas receberam uma premiação no valor de R$ 10 mil cada.

Nath Rodrigues e Augusta Barna, vencedoras do Prêmio Flávio Henrique 2023. Foto: Daniela Paoliello

Também foi premiado o baterista Gladston Vieira, vencedor do Prêmio Marco Antônio Araújo, com seu álbum “À Vontade”, com um pocket show que encerrou as apresentações na noite de domingo. Ele ganhou uma premiação no valor de R$ 10 mil. O Prêmio BDMG Instrumental é reconhecido, em Minas Gerais e no Brasil, por sua importância no fomento e na valorização da produção da música instrumental.

Gladston Vieira, vencedor do Prêmio Marco Antônio Araújo 2023, com seu álbum “À Vontade. Foto: Daniela Paoliello

Sobre os vencedores do 22º Prêmio BDMG Instrumental

Ana Clara GuerraNatural de Uberlândia, é violonista e compositora. Possui graduação em Música e mestrado pela Universidade Federal de Uberlândia. Seu trabalho composicional tem maior ênfase no campo da música eletroacústica, trilhas sonoras e composições instrumentais para diferentes formações. Em 2020, recebeu o Prêmio Jovem Instrumentista BDMG. Em 2021, teve uma composição para violão solo premiada no Concurso Sons da Cidade, de Belo Horizonte. Em 2022, recebeu o primeiro lugar no concurso Prêmio de Música das Minas Gerais. Faz parte da Associação Internacional de Violonistas Compositoras – AIVIC.

Camila RochaBacharel em Música Popular com habilitação em contrabaixo pela UFMG. Foi contrabaixista e bolsista da Geraes Big Band da UFMG, com a qual trabalhou com Eduardo Neves, Nivaldo Ornellas, Vittor Santos e Nelson Ayres. Em 2014, ganhou o prêmio Jovem Instrumentista BDMG e, em 2018, foi premiada como Melhor Instrumentista do 9º Prêmio BDMG Instrumental. Em 2019, ganhou, com o grupo Quarteto Dois a Dois, o concurso Novos Talentos do Jazz, do Savassi Festival. Já tocou com músicos e artistas como Chico Amaral, Juarez Moreira, Morais Moreira, Orquestra Ouro Preto e Alceu Valença, Mônica Salmaso, Toninho Horta, Ná Ozzetti, Titane, Ellen Oléria, Sérgio Pererê, Tizumba, Odair José, André Mehmari, Sérgio Santos, Eduardo Neves, Marcelo Martins, Pedro Martins, entre outros. Gravou contrabaixo em mais de 20 discos da cena autoral e independente de Belo Horizonte. Atualmente, tem desenvolvido seu projeto solo: Camila Rocha Quinteto, além de trabalhar como contrabaixista com Thiago Amud, Luiza Brina, Então, Brilha!, Octávio Cardozzo, entre outros.

IgaraNatural de Diamantina, a musicista transita entre a cidade e Belo Horizonte. Vinda de família de musicistas locais e apresentada ao piano desde os três anos de idade, formou-se, inicialmente, pelo Conservatório Estadual de Música Lobo de Mesquita, onde desenvolveu-se no piano erudito. Mudou-se para Belo Horizonte em 2015, quando continuou seus estudos no piano de forma autodidata. Em 2021, participou do programa Jovem Instrumentista BDMG, com aulas de piano com Rafael Martini, com quem já havia cursado algumas aulas individuais e disciplinas coletivas, pela Escola de Música da UFMG. Dá aulas particulares de piano desde 2017 e atua como musicista freelancer como acompanhante, em gravações de álbuns. Atualmente, é integrante de um trio instrumental ao lado de Lucas Godoy, na bateria, e Briki Khalil, no baixo elétrico e alaúde, performando composições e arranjos do grupo para músicas instrumentais e canções, num estilo que se aproxima ao jazz contemporâneo.

Juventino DiasTrompetista, compositor e arte-educador com 25 anos de experiência. Iniciou seus estudos aos 10 anos de idade, na Associação Musical Cajuruense, em Carmo do Cajuru. Iniciou sua carreira como músico profissional em 1999, tocando em bandas de baile por todo o estado. É bacharel em trompete pela UEMG. Entre 2005 e 2009, integrou a Big Band e Banda Sinfônica da UEMG, o Grupo de Metais e o Quinteto de Metais da ESMU/UEMG. Em 2008, a convite do governo do Estado de Chihuahua (México), apresentou-se com o Grupo Tambolelê em 15 cidades no 4º Festival Internacional de Chihuahua. Em 2009, ganhou o prêmio de melhor instrumentista do 9º Prêmio BDMG Instrumental. Entre 2015, viajou para a Índia em turnê com o Projeto de samba “Saravá”. Participou da gravação do CD de vários cantores e instrumentistas de Minas Gerais e se dedica aos estudos e pesquisa da música afromineira. Já acompanhou artistas como Nivaldo Ornellas, Maurício Tizumba, Elza Soares, Marku Ribas, Paulo Moura, Célio Balona, Maurício Carrilho, Nailor Proveta, Zé da Velha & Silvério Pontes, Toninho Horta, Sandra de Sá, Gerson King combo, Chico Amaral, Esdras “Neném”, Sérgio Pererê e Eduardo Neves. É idealizador e sócio fundador do Bloco Chama o Síndico e da Orquestra Babadan Banda de Rua. Integra também a Orquestra de Choro Já Te Digo e a Banda de funk & soul Black Machine.

Registros

Confira a cobertura fotográfica aqui