Narrativas imagéticas, metáforas do futebol e a vida cotidiana
Froiid - Foto: Élcio Paraíso
10 Fev 2020 |

Narrativas imagéticas, metáforas do futebol e a vida cotidiana

Em 2019, o BDMG Cultural inaugurou um novo ciclo de exposições no Mostras BDMG. Artistas mineiros ou residentes no Estado, após seleção, são convidados para compor a programação que apresenta o que há de mais atual na produção de artes visuais de Minas, um recorte com diversas linguagens e temáticas.

Para abrir o ciclo 19/20 foram escolhidos os artistas Alexandre Junior e Froiid, que apresentaram simultaneamente trabalhos com narrativas imagéticas, metáforas de futebol e a questões da vida cotidiana, Alegria nas Pernas e Onde a Coruja Dorme, respectivamente.

Além do futebol, evidente nas duas exposições, humor, ironia e uma boa dose de sarcasmo dialogavam nas propostas expositivas. “Na minha exposição, a ironia, o sarcasmo são mais fortes. Na do Froiid, uma espécie de traquinagem em mudar as regras do jogo e nas formas de um campo convencional de futebol”, explica Alexandre. O artista, inclusive, já é veterano no Mostras BDMG. Em 2013, trouxe os Reis do Ringue e, agora, retorna à galeria de arte da instituição trazendo mais uma vez o esporte como referência.

Alexandre se intitula como uma criança clichê, que sonhava em ser jogador de futebol. Com um trabalho que reflete questões autobiográficas, o tema não poderia passar despercebido pelo artista.

“O esporte faz parte da minha vida. Então, acho natural que essas coisas venham à tona no meu trabalho em algum momento. Na minha trajetória, o futebol sempre esteve presente mas, essa última investida no tema, foi a forma mais consolidada que consegui dar para ele em todos esses anos”, conta.

Alexandre Junior – Foto: Élcio Paraíso

Explorando uma das principais paixões do brasileiro, o futebol, Alexandre apresentou a cultura da bola por meio de uma estética gráfica que remete aos anos 80. Sem ressentimentos, o artista passa pelo inesquecível 7×1 da Copa do Mundo FIFA 2014 no Brasil, e flerta com as questões estruturais de educação e saúde do país que ficaram ainda mais expostas durante esse período.

Em Alegria nas Pernas, o artista escolheu a piada e o humor presentes no futebol como recorte para as suas obras. Há o resgate de jogadores antigos tidos como mais confiantes e arrogantes. “Coisa que carece um pouco no futebol de hoje”, afirma Alexandre. “Há hoje uma proliferação de piadas, muitas vezes por meio de memes, muito maior do que sempre existiu dentro do esporte. Acredito que esses pontos ajudam a refletir sobre o estado da sociedade atual. Há desgraça, mas há escárnio, há tragédia, mas ela anda de mãos dadas com o riso. E, mais do que isso, o futebol é algo no qual podemos nos dar ao luxo de rir, afinal, é só um esporte”.

https://www.youtube.com/watch?v=IhfRxIjiXKk

Se o futebol é um escape para problemas cotidianos, Alexandre vai além e externaliza essas questões do dia-a-dia, utilizando a arte como diálogo de crítica e contestação. “O futebol ajuda a esquecer os problemas da vida, mas ajuda a cria-los e propaga-los. Um paradoxo necessário”, conta.

Enquanto isso, compartilhando o mesmo espaço da Galeria de Arte BDMG Cultural, Froiid apresentou esculturas de jogos de tabuleiro. São nove campos inéditos, apresentando formatos livres e mutáveis. “Trata-se de uma exposição onde o público pode jogar e criar suas próprias regras”, explica o artista.

Froiid – Foto: Élcio Paraíso

Utilizando os “petelecos”, inspirados em jogos idealizados por artistas de vanguarda da metade do século XX, figuras geométricas pintadas em bases de madeira representam campos de futebol. Onde a Coruja Dorme ganhou novas regras, ampliando as possibilidades do jogo.

“Os jogos de certo modo são metaforizações dos modos de vida. As regras e os títulos explicitam isso. Trago diálogos com as vanguardas, com futuristas, ‘Dadás’ e outros grupos, mesclando influências que tive nos jogos nos campos de várzea e de rua”, afirma Froiid.

Neste aspecto, o artista também passa pelas relações entre o jogo e o humano, jogando com a realidade. E o nome da exposição diz muito sobre isso, afinal, a expressão futebolística onde a coruja dorme, se refere ao extremo, a dificuldade. É neste “canto” que também mora a complexidade das relações que estão implícitas nos títulos e nas regras dos jogos.

https://www.youtube.com/watch?v=hOt7yU_f4Mw

Conheça mais sobre os artistas

Alexandre Junior
Natural de Contagem, Minas Gerais, Alexandre Junior faz mestrado em estudos de linguagem pelo Posling/Cefet-MG. Formado em desenho pela Escola de Belas Artes da UFMG, o artista destaca em seu portfólio de exposições as individuais realizadas no Centro Cultural da UFMG, Galeria de Arte BDMG Cultural e Centro Cultural de Contagem. Seus trabalhos coletivos marcaram presença no Espaço 104, V Salão de Arte Itabirito Regional, Centro Cultural Escola de Design da UEMG, Museu Casa dos Contos em Ouro Preto, e no Centro de Convenções de Ubatuba, em São Paulo.

Froiid
Desde 2015, o artista plástico atua no Laboratório de Poéticas Fronteiriças, grupo de pesquisa de desenvolvimento e inovação que se propõe a problematizar as/nas fronteiras. Mestrando em artes, Froiid desenvolve trabalhos individuais e coletivos relacionando arte e cidade. Entre os temas, pirataria, território, cidade/urbano e joquificação. O artista é membro fundador e idealizador do Piolho Nababo e MAPA%.