Um criador e performer de melodias, harmonias e texturas
15 Jan 2020 |

Um criador e performer de melodias, harmonias e texturas

Rafael Martini revela a sua trajetória desde a primeira vez que venceu o Prêmio BDMG Instrumental, em 2004, até o show com Letieres Leite, que consagra a sua última passagem pela premiação

Atualmente com sete discos gravados e uma posição de destaque na cena instrumental em Minas Gerais, reconhecido como um dos principais compositores e pianistas de sua geração, Rafael Martini passou pelo Prêmio BDMG Instrumental por três vezes: 2004, 2012 e 2019.

Aos 23 anos, em 2004, quando concorreu pela primeira vez, Rafael havia começado a tocar piano há um ano e estreava as suas composições no novo instrumento. “Arriscadamente, eu cheguei ao palco para me apresentar tocando esse instrumento e minhas primeiras músicas. Foi uma surpresa e alegria ter sido vencedor e, principalmente, um incentivo enorme para meu caminho posterior”, conta o músico.

Na época, o pianista concorreu ao lado de músicos anteriores à sua geração, com carreiras já consolidadas.

Hoje, além dos sete discos gravados e lançados, os 15 anos a mais e uma experiente bagagem, Rafael Martini se vê em posição geracional na qual tenta aproveitar ao máximo cada oportunidade.

“Estou em uma posição mediana entre quem está chegando e iniciando a sua vida artística, e quem já tem mais experiência”, revelou o músico que diz absorver as influências de cada ponta.

Falando em influências, a sua mente criativa e fértil diz muito sobre o seu repertório eclético e a sua incessante busca por artistas inventivos. Entre a música feita hoje e a que já faz parte da nossa história, alguns nomes estão no caderno de Rafael. Entre eles, Léa Freire, Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, The Bad Plus, Mário Laginha, Diego Schissi, Maria Scheneirder e Letieres Leite, este último, inclusive, “objeto” de estudo para o pianista.

Rafael é um estudioso de Leite, mente por trás da consagrada Orkestra Rumpillez. “Vejo nele uma das novas e mais importantes forças da renovação, não apenas da música, mas da cultura brasileira em geral. Sua música é para mim exuberante e inventiva. Sua visão sobre a cultura afro-baiana resulta numa leitura extremamente original e fundamentada na tradição”.

Convidado especial da série de shows dos vencedores do 19º Prêmio BDMG Instrumental, Letieres já esteve com Rafael em uma residência artística com a Geraes Big Band da UFMG.

Rafael Martini e Letieres Leite no 19º Prêmio BDMG Instruemntal – Foto: Élcio Paraíso

Mas além de beber de águas instrumentais, vem de fora também grande parte das referências para a música do pianista. “Canção brasileira, rock, música eletrônica, música erudita clássica e de vanguarda”, afirmou o produtor que tem utilizado vocalizes nos seus últimos lançamentos.

Com uma mente aberta para sonoridades e elementos, em 2013, Rafael lançou o CD “Motivo”, vencedor do Prêmio Marco Antônio Araújo de melhor CD autoral, instrumental e de produção independente. Mas foi com “Suíte Onírica”, obra apresentada pela primeira vez em 2017, que o pianista deixou evidente essa área de livre acesso entre os universos da música popular e erudita.

Gravada com a Orquestra Sinfônica da Venezuela e, posteriormente, apresentada pela Orquestra Sinfônica e Coral Lírico de Minas Gerais, “Suíte Onírica” é uma composição do pianista sobre os textos de Makely Ka. “Neste trabalho trato a fronteira entre música popular e erudita da maneira como eu acredito que ela deva ser tratada”, reforça.

Surfando nas possibilidades que diversos instrumentos e elementos sonoros oferecem, Rafael Martini tem incorporado recursos eletrônicos a suas composições, a exemplo do repertório premiado na 19ª edição do Prêmio BDMG Instrumental, que contou com synths do próprio compositor e de Davi Fonseca, que integrou a banda vencedora.

 

“Música eletrônica é mais que o instrumento com sonoridade eletrônica, é antes uma maneira de fazer música, e é mais isso que me interessa, não importando se é feita com instrumentos acústicos ou não”, garante.

https://www.youtube.com/watch?v=8ts7Puwo2Xg

No final do ano passado, além do show no CCBB-BH e no Instrumental Sesc Brasil, no Sesc São Paulo, Rafael se apresentou com o quarteto do Egberto Gismonti, na MIMO São Paulo. “Estou em estúdio fazendo as produções e arranjos de artistas como Assanhado Quarteto, Luísa Bahia e Marcos Braccini”, finaliza o produtor que lançará seu próximo álbum em breve.