REVISTA nº 7

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Maria Lira Marques: a arte lírica de um sertão afro-indígena

A arte da Lira é a arte dos encontros subjacentes, traços vivos de uma imaginação que conta histórias não contadas de tantos séculos de conversas entre povos africanos e ameríndios nos sertões mineiros

Joana Corrêa
29 Nov 2022 16 Min
Maria Lira Marques: a arte lírica de um sertão afro-indígena
Os frames que acompanham o texto são do curta-metragem "Maria Lira Marques", produzido pela Olada Audiovisual

Maria Lira Marques é uma artista cuja obra se funda na essência de misturas: mineral, ancestral e cultural. É a terra, o barro e a pedra, o Vale do Jequitinhonha rupestre, sertanejo, caboclo e afro-indígena. É a arte criativa, é a música tradicional. A arte da Lira é a arte dos encontros subjacentes, traços vivos de uma imaginação que conta histórias não contadas de tantos séculos de conversas entre povos africanos e ameríndios nos sertões mineiros.

Primeiros caminhos: do barro às máscaras

Nasceu Maria Lira Marques Borges, em 1945, filha de Odília Borges Nogueira e Tarcísio Santana Marques, em Araçuaí, capital cultural do médio Vale do Jequitinhonha, onde vive até hoje. Sua mãe era lavadeira, mas também se dedicava à cerâmica e criava presépios que se espalhavam pela vizinhança. Desde menina, queria fazer o que sua mãe fazia. De princípio, experimentou a cera de abelha usada no ofício do pai sapateiro e, com o passar dos anos, foi modelando sua arte nas vertentes do barro.

Seu olhar curioso de pesquisadora autodidata esteve desde o princípio em sua busca como artista da cerâmica, observando as peças utilitárias – pratos, potes e botijas – vendidas no mercado municipal de Araçuaí. Essas peças eram produzidas por artesãs da Baixa Quente, uma comunidade próxima, localizada à beira do ribeirão Calhauzinho. As cores diversas captavam o olhar de Lira enquanto ela indagava às mulheres artífices sobre os saberes e técnicas envolvidas nos processos de feitura.

O amadurecimento de Lira como artista foi fruto da experimentação e vivência em um vale de tantas afluências culturais. Cursou apenas os primeiros anos escolares e jamais frequentou uma escola de arte. Lira é uma mulher do coração do Vale do Jequitinhonha, território fértil em criações das mais variadas vertentes culturais, das esculturas em barro e madeira, das tecelagens e trançados em couro e palha, da poesia e das cantigas, da música e do teatro, das devoções e festas populares. Sua obra nasceu embebida por muitas águas.

O aprimoramento técnico veio com sua vizinha Joana Poteira: foi com ela que aprendeu a tirar o barro no tempo certo e nos lugares adequados, a construir o forno de queima e manusear as sabedorias do fogo para não rachar as peças. As máscaras de feições afro-indígenas, alicerçadas por pesquisas e leituras em busca do reconhecimento de suas ancestralidades, foram a marca do início de seu processo criativo. 

Lira tem grande apreço por sua criação de máscaras, obras que ganharam formas e volumes variados ao longo de sua trajetória. A artista afirma que gosta muito de fazer rostos observando a expressão das pessoas. Disse à pesquisadora Lélia Coelho Frota: “as máscaras são meu forte, nunca vou deixar de fazer, sempre com forma diferente, sempre astuciando coisa nova” (em A Lira do Vale: ceramista e musa do Jequitinhonha, 1994, pág. 13). Contudo, neste mesmo ano de 1994, Lira foi diagnosticada com uma grave tendinite, fruto do expediente pesado da lida com o barro. Precisava parar e sua carreira artística parecia definitivamente comprometida. A partir do acolhimento do amigo Frei Chico, Lira mirou novas veredas para sua arte.

A Lira das trovas e saberes do Vale

Você anda o mundo inteiro
Ô Rosa
Tirana
E não se esquece de mim
Aha! Ô Rosa!
(Tirana da Rosa, canto de tradição oral,
repertório do Coral dos Trovadores do Vale)

A amizade entre Lira e Frei Chico havia começado pelo menos duas décadas antes. Em fins de 1968, Francisco van der Poel, frei de origem holandesa, foi designado para a paróquia de Araçuaí. Recém-chegado de sua terra natal e de mente aberta para os horizontes da cultura, Frei Chico logo percebeu que a região era um território de profundas riquezas humanas e que sua missão religiosa se tornaria mais sábia e eficaz se aprendesse a conversar com toda a gente. Os cantos cotidianos da cozinheira Filó, viúva de um canoeiro, serviram de inspiração para o começo de uma vasta caminhada dedicada ao conhecimento das tradições locais. 

Filó trabalhava na casa paroquial e gostava de cantar cantigas do repertório oral da região. Frei Chico ouvia e dizia “ô, isso é bonito, Filó”, e ela respondia “são bobagens”. Em 1970, Frei Chico resolveu começar um coral com homens e mulheres trabalhadores de Araçuaí. Muitos não sabiam ler nem escrever, e, segundo o pároco, eram inclusive os melhores, porque sabiam improvisar, vivenciavam as danças de roda e batuque em suas casas e comunidades.

Em uma diocese como a de Araçuaí, com 31 municípios, sendo que 16 estavam sem padre na época e 70% da população morava na área rural, eu achava que tinha que, de alguma forma, me dedicar à valorização do povo do Vale e à melhoria de suas vidas. Tinha que contribuir para que suas culturas fossem, de alguma forma, reconhecidas. (Frei Chico)

O coral funcionava em uma sala da casa paroquial, com Frei Chico acompanhando no violão, e mais tarde também com um tambor herdado dos tamborzeiros do Rosário. Lira, então com 25 anos, entrou no coral e ficou maravilhada. Começou a perseguir com a mãe para reunir cantigas guardadas em sua memória.

O gosto nato de Lira pela pesquisa foi ao encontro da alma também curiosa de Frei Chico. Lira abriu as portas da intimidade e do convívio com a vida cultural e os saberes populares de Araçuaí. Juntos gravaram mais de duzentas e cinquenta fitas com cantos tradicionais da região e duas mil rezas de benzedeiras, fizeram anotações, reuniram imagens e documentos. Lira tinha uma letra boa e começou a transcrever as fitas gravadas em mais de 15 mil folhas. As cantigas reunidas por Frei Chico e Lira envolvem incelenças, brincadeiras de crianças, cantos de trabalho, de lavadeiras, canoeiros e boiadeiros, cantos de louvação, músicas de danças e festas tradicionais, cantos dos congadeiros e tamborzeiros das festas de reinado, folias de reis e outras devoções populares. 

Lira trabalhava comigo dentro da sala, nós trabalhávamos juntos. Começamos um trabalho de igual para igual, porque cada cultura tem sua lógica e, sobretudo, sua história. Criamos inclusive o “método Lira”, porque ela gostava muito de ler e lia meus livros, inclusive os que eu não tinha lido ainda. E eu pedia para ela marcar nos livros o que achava importante. Falei que ela podia rabiscar, marcar, escrever. E quando eu comecei a ler, não entedia suas marcações, pareciam-me que não eram importantes os trechos que ela sublinhou. De repente, parei e pensei comigo: “Frei Chico, Frei Chico, você pediu para a Lira sublinhar e agora está julgando… Você tem que perguntar para ela”. E ela começou a me explicar e tudo começou a fazer sentido, inclusive para compreender de fato os valores culturais do Vale do Jequitinhonha. Lira é uma grande leitora, veja na casa dela quantos livros você vai encontrar. (Frei Chico)

Os registros musicais feitos pelos dois serviram de alicerce para que aquele pequeno coral se tornasse o renomado Coral dos Trovadores do Vale, fundado em 1970, hoje com mais de meio século de estrada. Em 1983, o Coral dos Trovadores do Vale lançou seu primeiro disco, o LP Ainda bem não cheguei, pelo Movimento de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha, e, em 1998, o CD Beira-mar novo, pela Lapa Discos.

As notas, depoimentos e documentos reunidos por Frei Chico, que contaram sempre com a parceria de Lira no Vale do Jequitinhonha, também deram origem a obras de referência, como os livros Rosário dos homens pretos (1981), sobre os congados, tamborzeiros e festas de Reinado de Araçuaí, e Dicionário da religiosidade popular (2013), com ilustrações da artista.

Tantos anos de pesquisas em conjunto e de trabalho com o Coral dos Trovadores do Vale solidificaram a improvável amizade entre o frei holandês e a artista, elo que se perpetuou mesmo depois que Frei Chico deixou de residir em Araçuaí, no final da década de 1970. Alguns anos depois que havia deixado Araçuaí, Lira precisou acompanhar por um tempo a mãe adoecida em tratamento na capital mineira, e passou cerca de dois anos na casa paroquial em que Frei Chico morava, em Betim. 

Nesta época, ela me acompanhou também em várias palestras e dávamos aula juntos. Ministramos alguns cursos juntos. Nós demos uma oficina de três dias na UFMG sobre nosso método de pesquisa associativo e sobre este pensamento redondo, os esquemas de palavras que criávamos. (Frei Chico)

Lira também esteve na Holanda a convite da família de Frei Chico quando ele completou 25 anos como padre. Sempre que um de seus seis irmãos completava 25 anos de casamento, todos se mobilizavam para uma grande festa. Como Frei Chico não havia se casado, acharam que seria justo que a festa fosse dedicada às bodas de seu celibatário. Os irmãos, mesmo à distância, compreendiam Lira como uma pessoa ligada à família e decidiram que o melhor presente que poderiam oferecer ao frei seria a presença dela na festa. Na ocasião, visitaram também a Alemanha e a Bélgica.

Em 2010, com o apoio do bispo de Araçuaí, fundaram o “Museu de Araçuaí – um presente de Frei Xico e Lira Marques” (curiosamente, grafaram o nome do padre com “x”), espaço que reúne objetos utilitários que guardam memórias do Vale do Jequitinhonha, e que Frei Chico chama de “riquezas do pobre”, reunindo várias doações. Lira, durante alguns anos, cuidou pessoalmente da limpeza e manutenção do museu.

Os bichos do sertão

Em 1994, na casa paroquial de Frei Chico, em Betim, Lira buscou resguardo quando se viu diante da encruzilhada que confrontava sua obra artística com sua saúde. O amigo a incentivou a experimentar os pincéis com os pigmentos feitos de terra que usava para pintar as cerâmicas. 

Frei Chico falou assim comigo: “ô, Lira, vai desenhar”. Eu fiquei nervosa por dentro: “mas eu nunca nem peguei em um pincel”. Daí Frei Chico pegou as máscaras da parede e falou que aquilo que eu fazia já era desenho. Ele juntou tintas, pinceis e papéis e falou para eu experimentar. Eu estava muito chorosa, mas comecei a desenhar. De vez em quando, ele vinha e falava que estava bonito. Crescia raiva por dentro de mim, porque eu achava que era somente para me animar. Eu falei que ia rasgar essas coisas, e ele, com medo, pediu para dar para ele. Ele dizia: “isso aqui eu vou mostrar para a Lélia Coelho Frota”, que na época estava à frente da Coordenação de Folclore e Cultura Popular da Funarte. Ele mesmo se incumbiu de guardar. E eu fui pintando. Não havia papel que chegasse, mas ia curando minha tristeza. Até que Lélia chegou em BH para buscar as peças para exposição da Sala do Artista Popular que eu ia fazer no Rio de Janeiro e que estavam guardadas na casa de Frei Chico. Frei Chico falou que tinha uma surpresa e mostrou as pinturas. E a Lélia endoidou: “já gostava da sua cerâmica, mas a pintura ultrapassou”. E já levou alguns desenhos também para uma exposição no Rio. (Maria Lira Marques)

Lira começou um novo estudo em sua obra que lhe abriu caminhos para desenvolver uma técnica peculiar de pintura com pigmentos da terra, aplicadas tanto ao papel como às pedras. As máscaras ganharam a companhia de seres mágicos, seus bichos do sertão, traçados com pigmentos essenciais do barro, em camadas cromáticas de tempos líricos, oníricos e zoomórficos. 

Suas pinturas são atravessadas por uma poética da mesma natureza do espanto e encantamento despertados pelo encontro de um vestígio fóssil guardado em camadas minerais. Os bichos de Lira apresentam o aprofundamento da busca de sua ancestralidade e a projeção de um mundo idílico onde convivem criaturas fantásticas de toda ordem. Elas se espalham pelos papéis, se apresentam no dorso de pedras arredondadas e se escondem nas faces das mais disformes.

A casa de Lira, com seu ateliê ao fundo, se transformou em um pequeno templo de arte. Peças se acomodam também nos quintais, entre plantas, terra e cimento, formam círculos e caminhos. Por lá, passam recorrentemente pesquisadores, curadores, jornalistas e curiosos interessados em aprender mais sobre sua obra singular.

Depois de passar por tratamentos e cirurgia, Lira voltou a trabalhar também com a modelagem do barro, mas preserva-se das etapas que exigem maior esforço. José Paixão, um amigo catador de rua que ela chama de “meu guru” é quem atualmente tira para ela a argila no barreiro, soca, molha, leva ao pilão, bate um pouco e depois deixa tudo separado em bolas recobertas por plástico para não ressecarem.

Além das máscaras, Lira faz pequenas runas circulares de cerâmica. Sua inspiração partiu da leitura de um livro de Frei Chico que apresentava runas de ossos e pedras, suas simbologias e significados. Ela, que sempre gostou de símbolos, conversou com Frei Chico sobre fazer algo similar com a cerâmica. E assim nasceram singelos conjuntos marcados com traços finos na argila que desenham formas de peixes, estrelas, igrejas, cruzes, símbolos que têm significado na vida da gente do Jequitinhonha.

Lira nos circuitos das artes

Em 1975, Lira expôs pela primeira vez sua obra fora de Araçuaí, no Sesc Pompeia, em São Paulo, juntamente com outros artistas do Vale do Jequitinhonha, como Zefa, que era também de Araçuaí, e Dona Isabel, que viveu na comunidade de Santana de Araçuaí, em Ponto dos Volantes. O Coral dos Trovadores do Vale se apresentou na abertura da mostra.

A partir de então, começaram a surgir convites para participação em feiras e mostras em Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro. A obra de Lira passou a integrar acervos de museus de arte e cultura popular e coleções particulares. Sua primeira exposição individual foi na Grande Galeria do Palácio das Artes, em Belo Horizonte. E por ocasião da segunda exposição individual, “Lira Marques e as faces do Jequitinhonha”, realizada também em Belo Horizonte, na Galeria Mão do Povo, de Luiz Carlos Pires, uma de suas peças foi adquirida pelo Museu Nacional da Dinamarca.

Em 1994, quando descobriu a tendinite, Lira realizou sua terceira mostra individual, “A Lira do Vale – ceramista e musa do Jequitinhonha”, organizada por sua amiga Lélia Coelho Frota, na Sala do Artista Popular, no Rio de Janeiro, e vinculada ao atual Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Iphan. Suas obras integram o acervo do Museu de Folclore Edison Carneiro, mantido pela mesma instituição.

A obra de Lira está presente também no extenso acervo de arte popular do Museu do Pontal, criado em 1992 pelo francês Jacques Van de Beque, no Rio de Janeiro. Suas peças foram adquiridas em viagens de campo pela antropóloga e curadora do museu Angela Mascelani, durante as pesquisas realizadas em 2005 e 2007, que resultaram no livro Caminhos da arte popular: o Vale do Jequitinhonha (2008). 

A obra de Lira se destaca na produção cerâmica da região por ter encontrado algo muito próprio, que conecta suas experiências, os problemas de seu tempo, sua história de vida e seus desejos. Mais do que usar cores da terra, pintar em pedras, criar bichos relacionados a uma imaginação histórica e pré-histórica, Lira revela por intermédio de sua obra outras camadas de sentido. Sentidos relacionados a concretude da matéria em si, ao conhecimento das plantas, da natureza, do solo, dos minérios. E vai além. A terra é vida, diz. Terra é vida para quem a usa, para quem precisa dela para plantar e viver. Por isso, Lira, esta artista visual, do canto e de tantas ancestrais imaterialidades, acha tão importante que seja feita a reforma agrária. (Angela Mascelani)

Os convites para exposições individuais se tornaram cada vez mais comuns em sua trajetória. Em 2012, “Cores da terra – a arte de Maria Lira” esteve em exibição na galeria Cândido Portinari, na UERJ, Rio de Janeiro, com curadoria do antropólogo e pesquisador de arte popular Ricardo Gomes Lima. Ele também foi um dos curadores responsáveis pela organização do acervo do Centro de Arte Popular do Circuito da Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, inaugurado no mesmo ano, onde também figuram obras da artista.

O fotógrafo Lori Figueiró, conhecido por sua vasta obra de documentação do cotidiano, dos saberes e das artes do Vale do Jequitinhonha, é outro parceiro de longa data. Há mais de duas décadas coleciona peças de Lira e a fotografa com suas criações, apoiando a organização de exposições da artista por diversos espaços culturais e galerias. Lori é um dos fundadores da organização social Memorial do Vale e publicou, em 2017, Sementes da terra, um catálogo com fotografias e pequenos depoimentos de Lira.

Artista de traços primorosos e essenciais, Lira Marques se constitui na força e na delicadeza de forjar com as próprias mãos uma obra singular e luminosa, repleta de signos do seu território íntimo e imaginário. Cultivar uma amizade com Lira me proporciona, entre outros sentimentos, alegria, orgulho e inspiração. (Lori Figueiró)

Em uma costura que vem sendo tecida nos últimos anos pela parceria com Lori, a partir deste ano de 2022, a obra de Lira passou a ser representada por duas galerias de arte, Gomide & Co., em São Paulo, e AM, em Belo Horizonte. A artista se dedicou durante o período de pandemia a criar obras com exclusividade para inaugurar duas grandes mostras, “Maria Lira Marques: obras recentes” e “Meus bichos do sertão”, ambas em 2021. 

Os contratos de exclusividade têm ajudado a valorizar a obra de Lira no mundo das artes e trazer maior tranquilidade financeira para seu trabalho criativo neste momento amadurecido de uma vida dedicada à arte e aos saberes de sua terra. E Lira está envolvida também em mais dois projetos de livros relacionados à sua obra. 

Eu estou maravilhada com tudo isso, porque está valorizando o trabalho da gente. Há quantos anos eu estou trabalhando, eu já estou com 77 anos. Eu também nunca pensei nessas coisas grandes, mas vai acontecendo na vida da gente. O que tem que vir, um dia chega às nossas mãos. Maria Lira Marques

Para Frei Chico, “Lira é uma liderança e tem uma inteligência muito grande. Lira foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores em Araçuaí, fundadora também da associação de artesãos.” Ela inclusive faz questão de sempre enaltecer os trabalhos de outros artistas do Vale, nunca vê sua obra de forma isolada. Em geral, prefere seguir reconhecida como artesã ao invés de artista popular, porque não quer abandonar a proximidade com outros artesãos.

Fontes consultadas

A cor da terra: artes de Maria Lira – Maria Lira; curadoria: Ricardo Gomes Lima. UERJ, DECULT e Galeria Cândido Portinari, 2012.
A Lira do Vale: ceramista e musa do Jequitinhonha – Lélia Coelho Frota. Coordenação de Folclore e Cultura Popular, 1994.
Caminhos da arte popular: o Vale do Jequitinhonha – Angela Mascelani. Museu Casa do Pontal, 2008.
Sementes da terra maturada – Lori Figueiró. Ramalhete, 2017.

Agradecemos às entrevistas concedidas por telefone por Maria Lira Marques e Frei Chico, e ainda aos depoimentos de Angela Mascelani, curadora do Museu do Pontal, e de Lori Figueiró, concedidos em setembro de 2022 especialmente para esta reportagem.

Joana Corrêa


é antropóloga e gestora cultural. Trabalhou no Museu do Pontal (RJ) e atualmente realiza projetos e pesquisas nas áreas de música, expressões e festas populares, conhecimentos tradicionais e patrimônio imaterial. Participou da organização dos livros “Museu Vivo do Fandango” (2006), “Na Ponta do Verso: poesia e improviso no Brasil” (2008) e “Enlaces: estudos de folclore e cultura popular” (2018). Acaba de publicar seu primeiro livro de poemas, “Das Vertentes” (2022), fruto de andanças pelo cerrado mineiro.

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