Construção coletiva de conhecimento
Processo Coser com nó, de Chris Tigra. Pintura nanquim s/ papel
18 Jan 2022 |

Construção coletiva de conhecimento

A segunda edição do LAB Cultural reuniu 20 artistas de diferentes áreas, promovendo trocas de experiências e afetos

Antônio Paiva
18 Jan 2022 7 Min

Em 2021, o LAB Cultural chegou a sua segunda edição. O programa de valorização e incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de processos artísticos e culturais em Minas Gerais enfatizou a construção coletiva de conhecimento e reconheceu a potência das novas formas de comunicação. A pandemia ainda esteve presente e alterou as formas de diálogo e partilhas. Novas trocas e interações foram experimentadas, pontes virtuais foram criadas, encurtando distâncias e promovendo encontros que aproximaram um estado com regiões tão diversas e plurais.

“O LAB Cultural passou a ser um encontro maior do que um trabalho. Descobertas verdadeiramente lindas dos tutores e a forma respeitosa e dedicada para com o projeto; hoje somos todos amigos, e grandes amigos”, comenta Samantha Moreira, integrante do JA.CA Centro de Arte & Tecnologia, que compõe o corpo técnico de seleção, produção e orientação do LAB Cultural.Para ela e todos que estão envolvidos, o programa se tornou um espaço de afeto, de identificação, cumplicidade e envolvimento. “Um ‘lugar’ muito bonito e privilegiado”, completa Samantha.

A escuta também foi algo presente em toda a iniciativa. O resultado disso foi uma colaboração mútua, que impulsionou todos os projetos.

“A gente tá se movimentando pra fora, eu percebo isso também em outros participantes. Eu participei de outros processos durante o LAB Cultural e muitos deles, tenho certeza, aconteceram pelas confluências, pelo avanço, pela mudança que aconteceu na minha consciência sobre o que eu estava pesquisando.” aponta Washington da Selva, artista e pesquisador, participante do LAB Cultural 2021.

Processo de Washington da Selva. Bordado de um pé de quiabo sobre tecido hidrorepelente. Série “A Coroação”

Ao todo, foram 433 artistas inscritos e 20 projetos artísticos de diferentes áreas selecionados. Cada artista teve cinco meses para o desenvolvimento de suas pesquisas. Desses cinco, quatro foram de pesquisa tutora. Participaram como tutoras e tutores do LAB Cultural a artista visual e pesquisadora, Aline Motta; a dramaturga, roteirista e atriz, Dione Carlos; o artista multimídia, músico e produtor musical, Gil Amâncio; e o artista-pesquisador multimídia, ensaísta e editor, Ricardo Aleixo. 

Todos os trabalhos estão compartilhados na plataforma exclusiva, no site do BDMG Cultural. Conheça um pouco mais sobre cada artista e seus projetos:

Adriano Maximiano – Nascido em uma favela de São Paulo, fez o caminho regresso de seus pais, vindo para Minas Gerais. Recebeu de seu avô a herança de Chefe de Congada da cidade de Ilicínea, segue na resistência em todo o estado de MG.

Augusto Henrique – Com formação em artes, sua produção resiste entre-inter linguagens das artes visuais, artes cênicas e audiovisual por meio da performance. Seu repertório gestual e vocal aspira no devaneio corpo e espaço, a composição de sonoridades e visualidades dissidentes nas artes.

Camilo Gan – Cantor, compositor, arranjador, onilú, multi-instrumentista, dançarino, construtor de instrumentos musicais, educador, licenciado em música e ritual designer. Idealizador do Samba de Terreiro, Bloco Afro Magia Negra, Corpo Oralidade, Babadan Banda de Rua, PerConcertos, e do Instituto Afrormigueiro.

Carneyra Qhitä – Artista visual, designer, produtora cultural, futurista e estudante de Design, usa da modelagem 3D, eletrônica, instalação, mídias diversas e cyberprocessos tecnológicos como formas de organização, cura e desenvolvimento de estéticas e vivências anti-coloniais em Abya Yala. (Abya Yala na língua do povo Kuna significa “Terra madura”, “Terra Viva” ou “Terra em florescimento” e é sinônimo de América.) 

Chris Tigra – Trabalha com linguagens híbridas investigando as urgências humanas, a arte como parte de uma cultura de ativismo em busca de transformação social, a provocação de ressignificações acerca de situações e universos marginalizados. 

Clara López Iglesias – Palhaça, atriz, dramaturga, diretora- -cocriadora de espetáculos, produtora independente e oficineira de artes cênicas. Equatoriana, natural de Guayaquil, mora em BH desde 2018. Desenvolve uma dramaturgia própria baseada na palhaçaria e teatro físico com inclusão de habilidades circenses.

Emiadê – Multiartista, preto, periférico e LGBTQIAP+, atua na área do teatro contemporâneo, performance, música, desenho, poesia e produção cultural. Já produziu diversas obras que dialogam com a pauta racial, educacional e de gênero.

Froiid – Artista plástico, desenvolve seu trabalho em diversas linguagens artísticas de modo híbrido relacionando arte e cidade, trançando temas como pirataria, território, cidade/urbano e poéticas do jogo. Atua também em grupos de pesquisa de desenvolvimento e inovação que se propõem a problematizar as/nas fronteiras.

Jeiza da Pele Preta – A artista sempre tenta promover em suas performances/trabalhos um circo mais brasileiro, usando seu corpo preto de mulher e suas vivencias em dança, enaltecendo nossa cultura brasileira e afro-brasileira.

Joyce Athiê – Atriz, jornalista e mestra em Comunicação Social, desenvolveu estudo sobre o ato de biografar e suas implicações éticas. É especialista em gestão cultural e realiza trabalhos em comunicação para projetos culturais. 

Juliana de Oliveira – Estudante de Artes Visuais, a artista dedica a sua produção de pintura ao descobrimento das nuances do corpo, trazendo uma característica expressiva e singular da pessoa retratada. 

Malu Teodoro – Mãe e artista multimeios, dedica-se principalmente ao vídeo e à fotografia. Desde 2018, ano de nascimento de sua filha, seu trabalho tem sido atravessado por questões sobre a maternidade e os feminismos. 

Manuella Balbino – Estudante de Design e ilustradora, realiza pesquisas sobre artistas afro -brasileiros e se interessa por causas identitárias no cenário artístico.

Massuelen Cristina – Artista visual, seu trabalho perpassa por várias linguagens nas quais busca explorar as diferentes formas de ver, ser e estar no mundo ocupando e criando espaços de diálogo sobre o lugar do sujeito e o tempo que configura a memória e o afeto. 

Mayara Bouquard – Produtora cultural atuando também na área audiovisual, busca contribuir para o fortalecimento da autoestima da mulher negra de Além Paraíba/MG, contribuindo para uma reflexão crítica sobre mudanças sociais; busca também valorizar a produção feminina no audiovisual local. 

Negah Thé – Militante da Cultura Hip Hop, graduanda em pedagogia, produtora cultural e mãe de Hannah. Idealizadora e gestora da Preta Produtora, atua na perspectiva de potencializar o trabalho das juventudes preta e periférica, em especial mães, mulheres negras e comunidade LGBTQIAP+. 

Pedro Neves – Estudante de patrimônio cultural, busca representar o cotidiano e os signos que traduzem o povo brasileiro e seu complexo cultural. Sua obra vem se construindo através da pintura, fotografias analógicas e esculturas em cerâmica. 

Wallison Culu – É morador do Aglomerado da Serra/BH, onde iniciou seus estudos nas danças urbanas. Atua como diretor, coreógrafo e dançarino. Ministra cursos e workshops e produz eventos culturais, com destaque para o Festival A Quebrada. 

Washington da Selva – Artista e pesquisador. Tem experimentado na construção de uma poética auto- -etnográfica, onde utiliza de narrativas de experiências familiares de trabalho na zona rural do Cerrado de Minas Gerais. 

Yanaki Herrera – Artista plástica, nascida em Cusco e residente em BH, vivencia a experiência de mulher imigrante desde os 15 anos. Sua pesquisa artística transita entre migração, folclore, maternidade, por meio da linguagem pictórica, instalação e performance, envolvendo a memória e a crítica decolonial.

 

Pinturas feitas durante o processo da arista Juliana de Oliveira

“O que mais me marcou na parceria com o BDMG Cultural foi a identificação de um profissionalismo que não elimina o dado humano, o cuidado com as pessoas, comigo em especial, com as demais pessoas que participaram do processo, me refiro especificamente ao LAB Cultural. A escolha das pessoas para participarem como tutoras foi muito cuidadosa e a condução muito carinhosa também da relação entre nós, tutores, tutoras e o grupo de bolsistas. Isso chamou muito a atenção, a demonstração de que é possível ser muito profissional e ainda ter cuidado na aproximação entre instâncias e entre pessoas”, apontou um dos tutores do programa, Ricardo Aleixo.

Adriano Maximiano é Rei de Congada e um dos bolsistas do programa. Seu projeto registrou o Congo pelo pelo estado, o que intensificou o pertencimento com a manifestação cultural que faz parte da sua vida, como um encantamento, como ele mesmo diz.

“Eu termino essa vivência do BDMG Cultural em 2021 como um marco na minha vida, no aspecto sagrado, social, político e artístico. A partir deste momento, eu consigo provar para o nosso povo que nós fazemos arte”, finaliza.

Os processos das e dos artistas participantes podem ser acessados na plataforma exclusiva do LAB Cultural. Lá também estão informações sobre os bolsistas e tutores.

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Entrevista com a tutoria
LAB Cultural 2020