30 Abr 2020 |

Guanduo ganha o Prêmio Marco Antônio Araújo

O duo mineiro venceu a premiação com o álbum Música Disfarçada de Gente

Com o objetivo de reconhecer os trabalhos de música instrumental e independente, o Prêmio Marco Antônio Araújo 2020 elege o álbum Música Disfarçada de Gente, do Guanduo, como vencedor da edição 2020.

Gravado no Brasil e na Alemanha, Música Disfarçada de Gente foi lançado em 2019 e traz novas matizes instrumentais à composição do Guanduo, com a participação de 16 instrumentistas do Brasil, Alemanha, Argentina, Venezuela e República Tcheca. Sedimentado nas raízes da música popular brasileira, o repertório dialoga com o frevo, o samba, o choro e a capoeira.

Capa do álbum Música Disfarçada de Gente, do Guanduo | Obra: As baianas, de João Quaglia

Formado pelos músicos mineiros Juliano Camara e Eduardo Pinheiro, Guanduo lançou o primeiro trabalho, o disco Inventos, em 2015. No mesmo ano, o duo foi um dos vencedores do décimo quinto Prêmio BDMG Instrumental. Em 2016, venceu o Prêmio MIMO Instrumental. O início da trajetória internacional da dupla começou em 2017, com concertos em Portugal, França, República Tcheca, Polônia e Alemanha.

O desejo do duo ao fazer o álbum Música Disfarçada De Gente era corresponder. “Ao conquistar o Prêmio Marco Antônio Araújo, o sentimento de correspondência foi o que veio mais forte. Já deu vontade de ligar para cada um dos artistas que abraçaram a nossa ideia nessa produção”, relata Eduardo Pinheiro.

“O prêmio é um sinal aberto para o Guanduo; um ’sigam adiante, pois caminho há de haver’ em tempos sombrios para a cultura brasileira. É um fôlego para pensar num novo disco, um atestado que tem gente que aprecia todo o amor e cumplicidade que esse trabalho carrega em si”, completa o músico.

Muitos dos artistas envolvidos no álbum Música Disfarçada de Gente são também autores e produtores musicais, como Rafael Martini, Lucas Telles, Ian Guest, Arcomusical Brasil, Pedro Franco, Alexandre Andrés, Rafael Dutra, Joaquim Santos e Márcio Bahia. “A cena instrumental mineira é um expoente e cresce a braçadas. Minas Gerais é um berço de músicos inventivos e competentes! Deve ter alguma coisa nas nossas águas. Nos sentimos muito agraciados de reunir distintas gerações e perfis da produção instrumental nesse disco”, ressalta Eduardo Pinheiro.

Este ano, o Prêmio Marco Antônio Araújo contou com 8 trabalhos de música instrumental inscritos e avaliação da cantora e compositora Déa Trancoso, do cantor e compositor Sérgio Santos e do jornalista João Paulo Cunha. A comissão de seleção comenta o álbum Música Disfarçada de Gente, do Guanduo:

Déa Trancoso
Música Disfarçada de Gente reúne cabeça, coração e outras entidades sutis dentro do mesmo corpo. O corpo, esse carrossel capaz de performance à altura de algo que não se pode tocar nem ver – a dona, a música. O roteiro do disco é uma brecha dentro da brecha nos conduzindo por uma literatura que também é tão musical quanto o som. Essa gente disfarçada de música, capaz de erguer tantos intervalos de beleza, é quase canção de palavras caladas. Em “Fluência”, eu me senti transportada à montanha dos meus sonhos de menina-moça, olhada desde a boléia do caminhão do meu pai, lá no Vale do Jequitinhonha. Egberto Gismonti diz que só existem duas músicas: a que a gente precisa e a que a gente não precisa. Essa “Música Disfarçada de Gente” é a música que a gente precisa.

Sérgio Santos
Música Disfarçada de Gente é um trabalho minucioso de construção de descobertas musicais. Ouvi-lo é se entregar ao original e ao inusitado, com matizes capazes de nos surpreender durante toda a audição. Com enorme sofisticação, e com um esmero técnico admirável, os violonistas se somam a formações instrumentais distintas, que conferem ao trabalho uma gama ampla de sonoridades interessantíssimas, como por exemplo na Suite Imaginária Para Três Berimbaus Afinados e Dois Violões. Seja no arrojo inédito dessa peça, seja na leitura de clássicos como Lamento Sertanejo e Vibrações, o duo nos oferece sempre uma amplitude de enfoque musical onde não há limites entre o popular e a música de câmara, entre a tradição e a contemporaneidade. Um trabalho de encher os ouvidos e o coração.

João Paulo Cunha
O Guanduo, com o disco Música disfarçada de gente, abre uma interessante perspectiva para o violão brasileiro, com seu formato de duo de sete cordas e impressionante entrosamento entre os músicos Juliano Câmara e Eduardo Pinheiro. A qualidade técnica dos instrumentistas está sempre a serviço da música, num trabalho que reúne sensibilidade e inteligência. A sonoridade é muito rica e original, diferente do formato dos duos clássicos e mesmo da linguagem conhecida do violão popular, sem divisão rígida do papel de cada músico. As composições próprias e as leituras de temas conhecidos, em arranjos recheados de criação e boas ideias, dialogam no conjunto do álbum, com evocações da melhor música brasileira e da linguagem da música de câmara. Além do timbre sempre harmônico do duo, o ouvinte amplia sua percepção musical a cada tema, com a presença de trio de cordas, bandolim, flautas, uma bateria delicada, bandoneon e até um sofisticado trio de berimbaus afinados. E o melhor é que tudo flui com beleza e emoção.

Ouça o álbum 

 

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