Espírito inquieto
Em entrevista, Shirley Djukurnã Krenak defende a educação potencializada pela presença indígena nas escolas, compartilha histórias e reflete sobre algumas das lutas de seu povo atualmente em Minas Gerais
Uma pessoa “desassossegada”. É assim que se descreve a ativista e educadora Shirley Djukurnã Krenak. Envolvida com a luta de seu povo desde a adolescência, quando acompanhava o pai, o também ativista Waldemar Itchó Itchó Krenak, em palestras e outras atividades de conscientização nas escolas da região, Shirley desenvolveu uma trajetória que vem se desdobrando em diversas frentes, como um rio que se multiplica à medida que ruma em direção ao mar.
Residentes da Mata Atlântica desde muitos séculos, os Krenak possuem, hoje, parte de seu território original demarcado ao longo da margem esquerda do Rio Doce, na região leste de Minas Gerais. Como tantos outros povos indígenas que sofrem as violências das práticas colonizadoras de forma continuada e implacável, conquistaram o direito constitucional a esse território com muita luta, em um processo desgastante que ainda deixa marcas. Na fala de Shirley, é possível perceber certa fadiga em relação a esses embates de tanto tempo, mas não um abatimento.
“Se você olhar o histórico de luta do povo Krenak, vai ver que essa luta é muito extensa, mas também é grandiosa. E quando nós nascemos dentro desse povo, crescemos dentro desse processo de luta. Mesmo diante de retrocessos, mesmo diante de racismo, mesmo diante de violências corporais e violências psicológicas que todo o povo indígena sofre, o enraizamento ancestral do seu povo faz com que você tenha um crescimento muito amplo. E eu nunca parei de acreditar. Defendo meu povo e falo sobre ele com as pessoas: falo sobre o que é ser Krenak, quem é o povo Krenak, o que o povo Krenak defende. Ecoar a história do seu povo é um processo de fortalecimento e de crescimento espiritual muito grande”.
A relação dos Krenak com a terra e com os rios torna incontornável a menção a um capítulo triste e recente da história nacional, quando, em novembro de 2015, o rompimento de uma barragem de mineração em Bento Rodrigues, vilarejo pertencente ao município de Mariana, resultou em uma catástrofe ambiental sem precedentes, despejando toneladas e toneladas de rejeitos altamente poluentes na bacia do Rio Doce (a quem eles chamam de Watú). “Foi um estupro a céu aberto esse crime”, define Shirley, sem pudor na escolha dos termos. “Toda vez que chove, o Watú é novamente soterrado. Hoje o rio é uma cicatriz no território. Esse é um dos maiores crimes ambientais da história e ninguém fala mais nele”.
O impacto do desastre para os Krenak – impossível de mensurar, mas possível de sentir nas palavras de Shirley – acaba por reforçar, em vias trágicas, a importância de uma conscientização ambiental coletiva e da mudança urgente de um modo de vida que reconsidere a nossa relação com a mãe-terra. Para a ativista, os principais caminhos para alcançar esses propósitos passam pela educação e pelo desenvolvimento de ações capazes de integrar diferentes públicos e grupos.
À frente do Instituto Shirley Djukurnã Krenak, Shirley trabalha em diversos espaços, entre escolas, universidades e projetos sócio-culturais, levando não apenas histórias indígenas – e um contraponto à educação tradicional –, mas também os valores de coletividade que aprendeu com seus mais velhos. Pensar a vida como uma trajetória de aprendizado contínuo com os anciãos, com a comunidade e com o território é, também, uma possibilidade de manutenção de nossa vida na Terra, como nos conta. E pensar essas formas de sobreviver em harmonia com o planeta envolvem, invariavelmente, um compromisso com a educação ambiental: pensar ferramentas pedagógicas para despertar, nas crianças, a sensibilidade para uma vida coletiva.
Tantas frentes de trabalho fazem jus a seu nome: Djukurnã representa uma mulher sempre disposta, pois carrega um espírito que nunca envelhece. Na entrevista a seguir, Shirley Krenak compartilha conosco momentos de sua trajetória e defende um ativismo que toma forma em práticas educativas centradas não somente em apresentar ou explicar, mas em sensibilizar e construir conexões capazes de curar e de mobilizar.
- Você poderia nos contar um pouco da sua história e apresentar o trabalho que realiza?
Eu sou mulher indígena ativista e luto pela proteção dos rios sagrados. Também defendo a Mata Atlântica com unhas e dentes. Comecei a fazer trabalhos dentro das escolas aos 13 anos de idade, em companhia do meu pai, com a intenção de levar a história do povo Krenak para os ambientes educacionais. Já falei sobre o meu povo em escolas municipais, estaduais, universidades e escolas fora do Brasil. A maioria delas, principalmente no estado de Minas Gerais, trata a história do meu povo Krenak de forma muito errônea, muito distante da realidade. Com o tempo, esse trabalho educacional foi crescendo e consolidando minha trajetória de ativismo.
Uma questão que me incomodava na juventude, e ainda incomoda muito, é que as pessoas veem o nosso Brasil como um território de um único bioma. É como se nós, indígenas, existíssemos só na Amazônia e não em outros biomas. Para poder trabalhar mais essa mentalidade de ação ambiental pelo bioma da Mata Atlântica, foi necessário criar o Instituto Shirley Djukurnã Krenak. Criamos a instituição há quase quatro anos e, hoje, trabalhamos em diversos espaços, inclusive em centros sócio-educacionais para menores em conflito com a lei e em unidades femininas da APAC [Associação de Proteção e Assistência aos Condenados].
- A relação com as águas e com a terra é fundamental para o povo Krenak. Como vocês buscam comunicar esse conhecimento e essa relação nas ações do Instituto?
Desenvolvemos trabalhos que buscam educar através da relação com a Terra e da história do povo Krenak. São trabalhos de cura. E o mundo está precisando dessa conversa, desse diálogo constante. Trazemos as pessoas para ouvir um canto, para entender o que é restaurar uma terra. Depois do rompimento criminoso da barragem em Mariana, que atingiu o nosso território e impactou mais de 3 milhões de pessoas, a necessidade de restauração voltou com ainda mais urgência. Nós não temos mais rio dentro da nossa comunidade. Todo o nosso trabalho, toda a nossa perspectiva de vida diante da espiritualidade com a água, isso foi totalmente tirado de nós.
O que buscamos fazer, então, é reunir elementos da mãe-terra dentro de processos de terapias ancestrais, com rezas, com canto, com conversa, com diálogo, com alimentação totalmente agroecológica. E, assim, a gente desenvolve os trabalhos. Participamos, por exemplo, de encontros realizados pelo Núcleo de Agroecologia Nagô, da UFJF [Universidade Federal de Juiz de Fora]. Também atuo como coordenadora pedagógica de um curso de extensão que eles realizam, no eixo das histórias indígenas do Brasil. Convidamos diversos parentes indígenas que desenvolvem a cura através da reza, do trabalho com as plantas e do trabalho com a alimentação para dar aulas. Porque a forma de curar está em todas as ações que a gente desenvolve, desde que seja positivo para a mãe-terra.
- Pelas ações realizadas pelo Instituto, me parece haver uma política de vocês em realizar trabalhos tanto com públicos de pessoas indígenas como pessoas não indígenas. Pode comentar um pouco sobre essa política? Como ela funciona na prática?
Somos uma instituição indígena, mas também levamos assistência social para povos não indígenas. Ajudamos algumas famílias com alimentação, ajudamos mães solos, e também temos projetos para mulheres em três assentamentos que ficam lá pela região de Resplendor e Conselheiro Pena. O Instituto faz o possível para, sempre que temos recurso, assistir a essas famílias também com conversas e escrevendo projetos voltados à questão hídrica, porque esses assentamentos não têm água potável e são totalmente esquecidos pelo município. São políticas públicas mal resolvidas, as prefeituras não trabalham de acordo com o direito do ser humano de ter uma água boa para beber em sua casa. E essa distribuição tem que contemplar as famílias não indígenas também.
Por isso, trabalhar juntando os mundos indígenas e os não indígenas faz parte da nossa proposta educacional. E atuamos também com essa bandeira da sociabilidade. Falamos para o pessoal que nós somos povos indígenas, mas não nos importamos só com nós mesmos; nós damos importância ao outro também. É a empatia.
- Vários projetos realizados pelo Instituto possuem como público-alvo crianças, adolescentes e jovens. Qual é a importância de conversar especificamente com esses grupos?
O crescimento de uma criança é algo muito sagrado para os povos indígenas. Por isso, todo o trabalho realizado pelo Instituto em âmbito educacional tem como objetivo trabalhar a formação das crianças de um jeito verdadeiro. Para nós, é muito chato ver crianças falando até hoje que têm medo de povos indígenas – e a maioria dos livros didáticos ainda falam do processo de colonização creditando quem descobriu o Brasil, contam que nós somos antropófagos e tantas outras mentiras. Então, é importante que a criança tenha a oportunidade de passar por um ensino baseado em histórias verídicas e contadas de forma verdadeira. Esse gesto gera uma possibilidade de equilíbrio não só em termos históricos, mas também de humanidade.
Nós já conhecemos os conteúdos que os livros didáticos trazem para esses jovens, e geralmente a história que vem sendo contada não é contada por nós, povos indígenas, mas pelo olhar do colonizador. Então, o fato de estarmos dentro das escolas, conversando com as crianças, é para que elas tenham o entendimento de quem somos nós e por que nós estamos ali ocupando aquele espaço, buscando o diálogo com elas. E a gente ocupa esses espaços pedagógicos levando música, levando nossos instrumentos sagrados, contando histórias das florestas, compartilhando uma educação que a gente recebeu em casa, de dentro do nosso território.
- E como foi a sua educação? Você passou por esses ambientes “formais” de ensino?
Eu fiz o ensino fundamental dentro da comunidade, naquelas escolas com uma única sala, que tinha as quatro séries de uma vez. Foi assim que a gente aprendeu. Mais tarde, eu fui a primeira Krenak do meu povo a fazer universidade, em 2000. Saí de casa e fui para Governador Valadares cursar Comunicação Social na Univale.
Mas, independente dos estudos formais, a gente é criança para os nossos anciãos e anciãs até hoje. Então, todo dia chegam até nós ensinamentos novos, e eu sigo aprendendo, com a intenção de ter um crescimento espiritual cada vez maior. Entendo que esses ensinamentos que tive são positivos e podem, de forma coletiva, ser levados adiante.
Um dos traços mais importantes da nossa cultura, que eu procuro levar para as crianças nas escolas, é o ato de viver em comunidade, de ser coletivo. Porque as instituições educacionais e as crianças estão ficando muito individualistas, não acha? E se as crianças crescem como seres humanos individualistas, isso se torna algo problemático para todos nós futuramente. Por isso, compartilhar com elas a proposta de falar, de ser comunidade, de estar no coletivo, é algo muito positivo para uma educação de base.
Eu também já ocupei esses espaços de ensino como educadora. Fui professora de história na rede estadual por alguns anos. Parei de dar aula como professora estadual porque as demandas de viagens começaram a crescer muito, e eu não conseguia me adequar à carga horária. Escolhi seguir outro caminho, levando comigo tudo o que eu aprendi dentro das escolas e trazendo essa forma de trabalhar para a minha instituição. Hoje, eu sou chamada em diversos estados para conversar nas universidades e nas escolas, com os pequeninos, algo que gosto muito.
- Dentro das universidades, o interesse por debater questões relacionadas às culturas e às lutas indígenas cresceu muito nos últimos anos. Parece haver, hoje, uma receptividade muito maior ao pensamento fundado nos saberes ancestrais dos diferentes povos. Como você enxerga esse movimento?
Acho muito bem-vindo, especialmente se houver pessoas indígenas envolvidas diretamente com a pesquisa. Ter indígenas ocupando os espaços da universidade traz a possibilidade de reeducação da própria instituição, e isso é muito bacana. Vira um processo prazeroso, porque os próprios indígenas vão tomando parte dos projetos, acessando novos conhecimentos e informando as pessoas. E isso vai passando de universidade para universidade, vai crescendo. O fato da gente sair da nossa aldeia e fazer universidade não quer dizer que a gente vai virar não indígena. Não quer dizer que vamos perder a nossa cultura. Não, pelo contrário: nós vamos agregar ainda mais as possibilidades de equilibrar a nossa tradição ancestral com a ciência do não indígena. Fazer disso uma plataforma coletiva de união pela Sagrada Mãe-Terra, concorda?
Hoje, nós temos muitos pesquisadores indígenas. Eu posso citar a Braulina Baniwa, uma escritora e pesquisadora maravilhosa. Temos também a Jozi Kaingang, que terminou seu doutorado agora. São mulheres que estão ocupando esses espaços educacionais e mostrando a força do educar de forma coletiva, através da escrita das palavras do conhecimento ancestral. A trajetória delas é muito bonita, e a própria universidade vai ter isso como base, ter os próprios indígenas escrevendo e contando suas histórias. Não são outras pessoas falando por nós.
- No mercado editorial também temos visto uma abertura bem maior para que as pessoas indígenas contem suas próprias histórias.
Sim, hoje temos diversos escritores indígenas com obras maravilhosas, que estão ocupando mesmo esses espaços de visibilidade com sua escrita. As editoras realmente se interessam por essas obras e estão editando os livros, ajudando a levar adiante esse protagonismo. Isso é muito importante.
- Você ingressou nesse trabalho de ativismo e de conscientização ambiental, social e cultural muito jovem, ainda adolescente. Trinta anos depois, observamos uma série de avanços e retrocessos em relação às questões indígenas no Brasil. Na sua visão, quais são os principais desafios do povo Krenak hoje?
Meu povo luta pela demarcação dos Sete Salões, a parte do território onde está nossa montanha sagrada, e também onde está toda a nossa história. Lutamos por essa demarcação já há um bom tempo e, recentemente, conseguimos um avanço jurídico importante. Entretanto, mesmo após a aprovação do relatório de demarcação pela Funai e pelo Governo do Estado de Minas Gerais, nossa aldeia segue sofrendo diversos ataques.
Esse é o desafio de agora, porque é dentro dessa terra que ainda tem água boa para beber. E é dentro desse território que ainda tem espaço para a gente levar nossas crianças para poder mergulhar em uma água boa sem medo de morrer. E, mais que isso, a nossa maior luta agora é pela sobrevivência; é continuar vivendo depois do crime que aconteceu em Bento Rodrigues, que matou mais de 600 km de rio de água doce, chegou até o mar e violentou mais de 3 milhões de pessoas. Foi um estupro a céu aberto esse crime.
Os históricos de violência não param. Sofremos todos os dias violências que eu chamo de psicopolíticas. Até que ponto conseguimos buscar a paz diante de todas essas atrocidades? Sofremos estupros dentro das nossas terras porque elas são violadas todos os dias por garimpeiros, grileiros, mineradoras. Estupros provocados por bandidos nos corpos das crianças e jovens, dentro dos territórios. São crimes que não param. E tudo porque essas pessoas querem tirar da terra o que entendem que é progresso, poder, dinheiro, riqueza…
Toda vez que chove, o Watú é novamente soterrado. Hoje o rio é uma cicatriz no território. Esse é um dos maiores crimes ambientais da história e ninguém fala mais nele. Todo mundo esqueceu – tanto é que depois veio o crime de Brumadinho, matando mais pessoas, poluindo mais rios e mais nascentes. Só falam aqueles que sofreram, que perderam entes queridos, que foram totalmente prejudicados. Mas e a empatia?
Por isso que eu digo: as pessoas esqueceram que são de terra e água. Quando você esquece que é terra e água, você nem sabe em que espaço está pisando. Porque isso deixa de importar.
- Como você faz para não desanimar diante dessas violências continuadas?
Olha, você não é a primeira pessoa que me faz essa pergunta. Sempre me perguntam: “Como é que você aguenta?”. E eu costumo dizer que sempre fui desassossegada, mas que também sempre acreditei que se nós, seres humanos, não tivermos esperança de ainda pisar em uma terra sem males, o mundo vai acabar. E quando eu digo “o mundo”, quero dizer “as pessoas”. As pessoas vão acabar. O mundo é a terra, a água, o vento e todos os elementos que compõem a nossa biodiversidade. E essa biodiversidade é poderosa porque ela se regenera. Mas nós, seres humanos, não. Para enfrentar todas essas ações cruéis, precisamos nos enraizar muito bem na terra. Bater no peito e dizer que somos terra e água. As pessoas se esqueceram disso. Você come terra todo dia, bebe água todo dia. Então, qual a importância de defender a Terra para você?
E como buscar força pra não parar de lutar? É tendo entendimento de quem você é. Percebe? De quem você é, e do que você é sobre essa terra sagrada, para que não perca a esperança nunca. Porque, enquanto tivermos entendimento de que somos terra e água, o nosso corpo sempre estará firme para lutar por essa terra que nos traz alimento todo dia. É essa ação e esse pensamento que nós, povos indígenas, respiramos todos os dias. A gente respira esperança. E não temos ódio nos nossos corações. Não, o coração não pode ter ódio… Senão, a gente não continua lutando.
- Agora há pouco, você usou a palavra “estupro” para definir a catástrofe ambiental, uma palavra que é mais recorrente quando tratamos de temas como feminicídio, violência sexual, entre outros. E, antes disso, você comentou a presença de pessoas indígenas na universidade e deu o exemplo de duas mulheres pesquisadoras. Queria te ouvir sobre como as questões de gênero e o feminismo aparecem na luta indígena. Quais os entrelaces possíveis?
Entendo que a palavra “estupro” está ligada à questão do etnocídio; está ligada à questão do ecocídio; está ligada à questão do genocídio, à questão do racismo estrutural, ou seja, está ligada a muitas questões fundamentais quando falamos sobre propostas para sobreviver como seres humanos.
Como é para nós, mulheres indígenas, lidar com o machismo? O machismo está por todas as partes. Está impregnado em tudo, não tem pra onde correr. Então, nós buscamos construir articulações para trabalhar a proposta de estar junto: levantar uma bandeira de proteção à nossa biodiversidade de forma conjunta, incluindo todas as pessoas. É difícil? É super difícil, porque nas comunidades indígenas também tem machismo. É algo que está impregnado e que veio de forma histórica, do processo da colonização, como uma onda que foi adentrando todos os espaços e nos afeta até hoje.
Dentro das comunidades, temos trabalhado muito essa busca por um equilíbrio, por todo mundo estar junto. As mulheres fazem uma ação, os homens fazem uma outra ação, e isso precisa ser trabalhado em conjunto para levar adiante as demandas e as ações maiores que fazem sentido na nossa luta e no nosso território. Portanto, a nossa proposta de articulação foge de abordagens feministas mais radicais, ou algo nessa linha. Temos muitos apoiadores em nossos movimentos, mas queremos ter muito mais. Por que separar, então? Tem que estar todo mundo junto: mulheres indígenas buscando ações coletivas em equilíbrio com os homens indígenas dentro de suas comunidades.
Agora, também é preciso reconhecer que há muita resistência contra a gente. Porém, por mais que tenha essa resistência, temos que trabalhar insistentemente para marcar o nosso lugar, porque estamos trazendo o nosso olhar de mulher indígena. Mesmo dentro do nosso território, tem muitas coisas que o homem não consegue ver, porque não são questões dele, mas nossas. A gente vê.
Hoje nós temos a ANMIGA, que é a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas, uma das maiores articulações de mulheres indígenas do mundo. A maioria das mulheres que compõem essa ação são formadas, possuem mestrado, doutorado… Isso é de uma enorme magnitude, pois mostra para o mundo que nós estamos buscando participar de espaços que não fomos nós quem criamos, justamente para fazer essa transformação. A transformação está em promover a reeducação histórica da nossa sociedade, e fazemos isso através da conquista de amplitude para nossa fala, ecoando nossa sabedoria ancestral.