Nas curvas do tempo
A escritora e acadêmica Leda Maria Martins, Rainha de Nossa Senhora das Mercês do Reinado de Nossa Senhora do Rosário do Jatobá, nos ensina que a ancestralidade, como um princípio relacional, garante “a existência ao mesmo tempo comum e diferenciada de todos os seres”. Tecnologia transtemporal, ela mobiliza não apenas a inserção de um indivíduo em uma comunidade, mas seu engajamento com algo maior.
Em um texto recentemente publicado pela Teia dos Povos, o militante Neto Onirê Sankara, da direção estuadual do MST Bahia, se aprofunda sobre o lugar de construção comunitária em torno da ancestralidade, afirmando-a, também, enquanto ferramenta de luta: “É um ato de descoberta que te liga a um coletivo, uma comunidade e te fortalece, permitindo se reconhecer como parte de algo muito maior que a escravidão, nos liga aos quilombos, as revoltas, as rebeliões, as festas, as vitórias, as celebrações, a cultura, a música, a religiosidade e nos leva a ter consciência da grandiosidade do nosso povo e de nossa sabedoria”.
Neste número da REVISTA, as curvas do tempo convidam as leitoras e os leitores a pensar em como passado e futuro se embaralham no momento presente, atualizando o que a escritora bell hooks chamou de “compromisso com o bem-estar coletivo”.
Partindo da cozinha como forma de demonstração de afeto, Zora Santos compartilha conosco suas formas de sentir-se em casa, em um relato autobiográfico escrito a seis mãos. Em uma entrevista gentilmente cedida no espaço que abriga a Mazza Edições e que é também sua casa, a editora Maria Mazarello conversa sobre sua trajetória coletiva abrindo espaço no mercado editorial mineiro. O rei de congado Adriano Maximiano nos conta os percursos da resposta ao chamado ancestral que recebeu; conhecemos a trajetória dos arquivos da biblioteca Comunitária Tamboril e, mais de perto, a pesquisa e atuação de Gabriel Araújo e Lorenna Rocha na plataforma Indeterminações, que documenta a trajetória de profissionais negras e negros da crítica de cinema no país.
Essas pessoas são peças fundamentais na atualização do imaginário acerca da cultura do estado de Minas Gerais, trazendo-a para o momento presente. Ecoando o texto de Gabriel Araújo, “Para alterar o presente, coletividade”.
Expediente
Diagramação: Paulo Proença e Maria T Morais