Longo Prazo: exercício de montagem e da ação do tempo
Obra: Instantes-já, de Clarice G Lacerda. Foto: Miguel Aun
12 Jul 2021 |

Longo Prazo: exercício de montagem e da ação do tempo

Exposição na Galeria de Arte do BDMG Cultural reúne um conjunto de trabalhos inéditos, realizados ao longo dos últimos sete anos

Teresa Cristina
12 Jul 2021 5 Min

O BDMG Cultural recebe a mostra Longo Prazo, da artista visual belorizontina Clarice G Lacerda. Com visitação presencial na Galeria de Arte, conforme o decreto n.º 17.646 da Prefeitura de Belo Horizonte, até o dia 27 de julho. A exposição também está disponível em plataforma virtual exclusiva.

São 23 obras em diferentes técnicas: desenhos, recortes e colagens, objetos encontrados e objetos manipulados, fotografias, vídeo, instalação, frotagens e cadernos de artista editados como livros.

Instalação: rim-pulmão. Foto: Miguel Aun

“Longo Prazo é um exercício de montagem”, assim resume Clarice. Surge a partir de um extenso ciclo de pesquisa e de profunda introspecção no ateliê, em uma mistura muito forte da produção com a vida, com a rotina, com o cotidiano. “São trabalhos que lidam com as dinâmicas temporais a partir das relações contínuas e espraiadas com os materiais em uma perspectiva de amplificação das nossas percepções”, complementa a artista. Segundo ela, a produção atende a diferentes temporalidades, entre a lentidão e o instantâneo, como metodologias de um processo criativo atento ao movimento.

A proposta de Longo Prazo, como o próprio nome indica, é trabalhar as percepções e marcas da passagem do tempo: no corpo e na matéria. “Estamos pautados pelo imediatismo. Reagimos mais do que observamos. A exposição é, também, um convite à reflexão, que nos situa em relação aos tempos dos mundos”, diz.

Tempos e origens se relacionam em Longo Prazo. Ouça:

 

As obras são bastante heterogêneas em técnicas, mas, para Clarice, essas categorias artísticas tradicionais — desenho, fotografia, pintura, escultura, etc. — não dão conta da diversidade da exposição: a relação de agenciamento entre o corpo, o tempo e as materialidades é que enlaça os trabalhos. Seja a partir do gesto da artista, como é o caso de “As horas do dia”: quatro grandes frotagens de um quebra-cabeças em processo de montagem; ou da própria ação do tempo sobre materiais perecíveis, como verificado em “Mani ocas”, trabalho realizado a partir de tiras de cascas de mandiocas.

“Tudo que é vivo morre: é um pouco sobre essa dança entre vida e morte. Para perceber isso, precisei conviver muito tempo com o perecível”

Longo Prazo almeja dilatar noções e referenciais temporais na trama composta pelo conjunto de trabalhos. Progresso, simultaneidade, ação do tempo são retrabalhados. Ouça o que Clarice diz a respeito:

 

O conjunto de trabalhos que ocupa a Galeria de Arte até o final de julho, mais do que trazer respostas, lançam perguntas uns aos outros, instigando o público a se perceber de diferentes maneiras. “Existe uma espécie de espelhamento entre o material e o próprio corpo que ressoa. Um convite à escuta. Um estar em relação aos trabalhos — que não tentam fundar algum outro tempo. São referenciais nesse sentido. Na medida em que as obras criam essas tensões entre si, é como se quisessem mostrar algo que está por trás”, comenta Clarice.

Vista da Galeria de Arte do BDMG Cultural. Foto: Miguel Aun

Dentre as obras expostas, seis trabalhos integram a série encontrados: “são objetos que não foram produzidos, nem tão pouco coletados em uma busca propriamente dita”, explica Clarice. Encontrados ao acaso durante trajetos e situações comuns, os trabalhos dessa série realçam o chamado e a presença do inusitado.

“O trabalho de Clarice G Lacerda é um diálogo com a vida íntima e secreta das coisas, falo em delicadeza, mas poderíamos falar também em uma forma de tocar nas coisas como uma escuta da matéria tão inclusiva que o conceito de natureza se expande para dentro do olhar como uma voz no ouvido”, trecho do texto escrito pelo poeta e ensaísta Marcelo Ariel para o catálogo da exposição.

Clarice G Lacerda monta a obra Perfilar. Foto: Miguel Aun

Ciclo de Mostras BDMG Cultural 2021

A exposição Longo Prazo inaugura o Ciclo de Mostras BDMG Cultural 2021, tendo sido selecionada no edital de concorrência pública divulgado em novembro do ano passado. “Nos leva a pensar no tempo das coisas e dos seres, na decomposição, nas fraturas e nas regenerações. Nada mais contemporâneo do que isso”, opina Gabriela Moulin, diretora-presidente do BDMG Cultural.

No Ciclo de Mostras BDMG Cultural 2021, ainda vão passar por exposições, na Galeria de Arte e em plataforma virtual, a dupla de artistas Affonso Uchoa e Desali, a dupla Lucélia Romão e Jessica Lemos e o artista Marc Davi.

Sobre Clarice G Lacerda

Iniciou os estudos em Artes Visuais em 1999, quando frequentou o ateliê da artista plástica Mônica Sartori. Em 2012, concluiu o bacharelado em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG, onde atuou como professora substituta na habilitação em Artes Gráficas em 2019. É artista pesquisadora do escotoma — grupo de estudos das imagens-passagens (EBA/UFMG), que fundou e coordena em parceria com o Prof. Rodrigo Borges desde 2018.Sua trajetória contempla ainda diversos projetos em artes gráficas e editoriais desenvolvidos em parcerias com artistas como Cinthia Marcelle, Mabe Bethônico, Marcelino Peixoto e Luis Arnaldo, Pablo Lobato, Paula Huven, Camila Otto e André Hauck, Janaina Rodrigues e Hortência Abreu.

 

Clarice G Lacerda diante da obra As horas do dia. Foto: Miguel Aun

Visite

Em consonância com as normas sanitárias vigentes e o decreto municipal, a visitação presencial está reduzida e com agendamento prévio. É exigido o uso de máscaras, com aferição de temperatura e a disponibilização de álcool em gel na entrada, além de reforço na higienização do espaço.

A Galeria de Arte estará aberta às terças, quartas e sextas, das 10h às 12h e das 14h às 17h. Retire seu ingresso gratuito pelo Sympla, informando o dia e horário da visitação. Deve ser apresentado na portaria impresso ou digital.

Assista ao teaser da exposição.