Cultura, colo que abriga
Nestor Lombida, Aline Gonçalves e Lucas Telles. Foto: Paulo Proença
26 Abr 2024 |

Cultura, colo que abriga

Carta da comissão de seleção do 23º Prêmio BDMG Instrumental e do Prêmio Marco Antônio Araújo 2024

Cultura, com certeza um dos alicerces mais fascinantes da humanidade. Talvez seja a palavra que, mesmo dita no singular, é a mais plural do nosso vocabulário. É a música, a dança, as artes plásticas, as artes visuais, a arquitetura, mas também é o linguajar, os costumes, a culinária, a religiosidade, as vestimentas, os trejeitos, enfim, é tudo o que une e conecta o povo. Cultura é o sentimento de comunhão, de comunidade, de unidade, é o que nos traz pertencimento e acolhimento. 

Mas, é claro, que toda essa composição potente e incontrolável assusta, principalmente a quem anseia por poder, e por dominar o povo. Não são poucas as tentativas de subverter e doutrinar esse nosso fundamento tão genuíno, pois negar ao povo o direito de expressar sua identidade é uma arma cruel e poderosa de subjugação. Isso está presente na desvalorização dos saberes tradicionais e dos ofícios artísticos, na tentativa de extinguir a pluralidade e nas constantes imposições do capital que seguem arbitrando. Mas isso não passa de ilusão tirânica, a cultura há de sempre sobreviver! Ela se transforma, se fortalece e se renova diariamente nas mãos de quem realmente a controla, o povo. 

A cultura é o colo que abriga, é o chão cultivado que alimenta, é a herança ancestral recebida, cuidada e repassada para as próximas gerações.

É por isso que ao invés de tentar se apossar da cultura, o que deve ser feito é fomentar seu desenvolvimento natural. Cada ação de fomento cultural é uma forma de devolver ao povo seu protagonismo. Nesse ponto, o BDMG Cultural vem, a mais de 35 anos, fazendo um trabalho vital e fundamental, fomentando o desenvolvimento de ações culturais, pluralizando os agentes e possibilitando o amplo acesso a toda essa produção. Pra nós músicos é emocionante ver cada vida transformada por esses projetos, cada artista trilhando seu caminho e cada novo fazer artístico sendo valorizado e potencializado.

Dentro de todo esse trabalho miraculoso se encontra o nosso xodó, o Prêmio BDMG Instrumental, que em seus 23 anos de existência já alavancou a carreira de inúmeros músicos mineiros, levando o nome de nosso estado, e junto dele a nossa cultura, para um lugar incomensurável. 

Não é exagero dizer que o Prêmio BDMG instrumental tem uma importância para Minas Gerais que não há como ser calculada. Ao longo de todos esses anos de realização dele, a cultura musical se transformou, se desenvolveu e ampliou seus horizontes, e muito disso foi devido ao fomento gerado pelo prêmio. Veja bem, não é que o prêmio por si só tenha alterado nossa cultura, na verdade ele é uma ponte, um caminho, é o impulso primordial que possibilita toda uma comunidade de músicos interagir e se influenciar mutuamente, independente da faixa etária, dando a oportunidade deles (nós) construírem (construirmos) juntos uma cena efervescente, criativa e hoje reconhecida nacionalmente. Isso é fomentar, incentivar! 

Todo ano são 12 semifinalistas escolhidos para se apresentar ao vivo, quatro deles saem vencedores, sem gradação de posição, mas quem ganha mesmo é o meio musical, a cultura, é o povo de Minas Gerais.

Nesse ano de 2024, mais de 50 pessoas concorreram na primeira fase, representando várias regiões diferentes do estado, e mostrando que o prêmio vem se expandindo e se consolidando como um marco na história musical do nosso país. Por isso, o trabalho hercúleo de cada pessoa envolvida na manutenção desse projeto precisa ser louvado. Essas pessoas, apesar dos percalços, seguem lutando bravamente por nós músicos, e pelo nosso direito de expressar e desenvolver nossa arte dignamente. Todo agradecimento e homenagem é insuficiente pela grandeza desses feitos.

Outro ilustre companheiro de fomento cultural realizado pelo BDMG Cultural é o Prêmio Marco Antônio Araújo, que anualmente valoriza um álbum musical instrumental produzido no último ano. É bonito ver a trajetória de musicistas participando e vivenciando cada um desses projetos em diferentes momentos da trajetória artística, e cumprindo diferentes papéis, o que demonstra ainda mais a comunidade gerada e as vidas impactadas. Uma rápida olhada na lista dos vencedores é capaz de evidenciar toda a pluralidade abarcada. Todo ano são contemplados trabalhos lindos que recebem uma valiosa oportunidade de divulgar sua arte e um forte incentivo para prosseguir.

Nós, membros da banca de seleção, queremos parabenizar e agradecer a cada participante da edição de 2024 e dizer que vivemos momentos emocionantes na escuta atenta e cuidadosa de cada um dos trabalhos inscritos. Participar disso tudo já é uma vitória para todos nós. Seguimos juntos, de mãos dadas e corações unidos, fortalecendo e valorizando a cultura musical de Minas Gerais.

Viva o Prêmio BDMG Instrumental e o Prêmio Marco Antônio Araújo! Viva o BDMG Cultural!

Aline Gonçalves, Lucas Telles e Nestor Lombida
Comissão de seleção do 23ª Prêmio BDMG Instrumental
e Prêmio Marco Antônio Araújo 2024